Quando Joey Abicca apoia a extremidade de uma muleta de metal no
piso com o braço direito, minúsculos motores começam a rodar em torno
de sua perna esquerda, levantando-a e movimentando-a para frente.
Quando
faz o mesmo com o braço esquerdo, os motores recomeçam a rodar e Joey consegue dar um passo com a perna direita. O som metálico do aparelho parece saído do filme RoboCop.
O que Abicca - de 17 anos, morador de San Diego, na Califórnia - está vestindo é essencialmente um robô. Sua roupa biônica
consiste de dois aparelhos mecânicos presos às suas pernas e de
músculos elétricos encarregados de grande parte do trabalho que lhe
permite andar. O aparelho é controlado por um computador instalado em
suas costas e por um par de muletas presas em seus braços, semelhantes a
bastões de esqui futuristas.
Desde que se acidentou com um equipamento de terraplenagem,
há três anos, danificando sua espinha dorsal, Abicca nunca mais
conseguiu andar. A roupa especial que ele usa, fabricada pela companhia Ekso Bionics,
é uma tentativa de tirá-lo desta situação. "É fantástico. Acho
maravilhoso poder ficar em pé de novo", disse o jovem, antes de prender a
peça nas pernas durante uma recente visita à sede da companhia na
cidade. "O simples fato de estar ereto é maravilhoso."
A Ekso é uma de várias companhias e laboratórios de pesquisa que
trabalham com robôs que podem ser usados como uma roupa, projetados para
ajudar pessoas com deficiência ou para tornar o corpo humano
sobre-humano.
Em 2010, a Raytheon apresentou um traje para soldados que reduz os danos provocados ao levantar pesos. Em Israel, a companhia Argo Medical Technologies também produz uma roupa robótica para ajudar paraplégicos a andar.
Pioneirismo
A Ekso afirma ter sido a primeira empresa a produzir uma roupa
robótica, que não precisa ficar ligada por fios a uma fonte de energia. E
embora sua roupa para paraplégicos hoje seja usada somente em centros
de reabilitação, a empresa espera que um dia permita que as pessoas
andem pela rua, pelos shoppings e até mesmo pelo mato.
O nome da Ekso, fundada há sete anos por engenheiros de Berkeley, também na Califórnia, deriva de exoesqueleto ou esqueleto exterior ao corpo. Financiada originalmente pelas Forças Armadas,
a companhia colaborou com o campus de Berkeley da Universidade da
Califórnia e com a empreiteira Lockheed Martin na fabricação de um
aparelho chamado Hulc, que permite que os soldados carreguem até 100
quilos de equipamentos em terreno acidentado.
Em fevereiro, a Ekso começou a vender exoesqueletos utilizados em
fisioterapia para que as pessoas consigam deixar a cadeira de rodas e
usar os membros inferiores a fim de que os seus músculos não atrofiem.
Cerca de 15 centros de reabilitação dos EUA usam essa roupa; cada uma delas custa US$ 140 mil, juntamente com um contrato anual de serviços de US$ 10 mil.
A roupa biônica, composta de uma estrutura de alumínio e titânio, chamada Ekso, é movida a bateria e pesa cerca de 25 quilos.
Ela ainda não chegou ao estágio em que uma pessoa paraplégica possa
usá-la independentemente. As baterias duram três horas e então precisam
ser substituídas por um fisioterapeuta. Esse supervisor garante também
que o paciente não caia; mas, segundo a companhia, centenas de pessoas
já caminharam com esse traje e nenhuma caiu.
A roupa da Ekso não se limita a ajudar as pessoas a caminhar
de novo. Sua versão mais recente, lançada no mês passado, permite andar
em diferentes níveis de dificuldade a fim de estimular os pacientes a
progredir em sua reabilitação.
Treinamento
O aprendizado compreende três modos. No primeiro, quando um paciente começa a aprender a andar com o traje, o fisioterapeuta programa o comprimento e a velocidade do passo e aperta uma tecla do computador para fazer a pessoa dar cada passo.
No segundo, o paciente pode dar o passo sem a ajuda das teclas
instaladas nas muletas. No terceiro, o mais avançado, quando o paciente
aprendeu a se manter em equilíbrio na roupa, ele pode dar um passo
simplesmente deslocando o próprio peso.
Os pacientes aprendem a caminhar na roupa robótica com surpreendente
rapidez, afirma Eythor Bender, diretor executivo da Ekso Bionics, que
já trabalhou na Ossur, companhia que fabricava próteses. "As pessoas que
nos procuram não caminham há muitos anos", conta Bender. "E em dois
dias já estão andando sozinhas."
Yoki Matsuoka, ex-diretora de inovação do Google e hoje vice-presidente
de tecnologia da Nest, que fabrica um termostato inteligente, disse que
está na hora de os exoesqueletos serem promovidos da fase da ficção
científica para a realidade comercial. A tecnologia das baterias foi
aperfeiçoada de maneira significativa, materiais como plásticos e fibras
de carbono hoje são mais leves e duráveis, e os sistemas robóticos são
muito mais fáceis de controlar, diz ela.
"Nos últimos dez anos, a evolução de alguns desses materiais e de
algumas tecnologias nos permite construir robôs que realmente protegem e
ajudam o ser humano", afirma.
Fonte: O Estado de S. Paulo (BRIAN X. CHEN, THE NEW YORK TIMES, RICHMOND, EUA)
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