Débora Araújo Seabra de Moura, de 32 anos, a primeira professora com síndrome de Down do Brasil, acaba de lançar um livro com fábulas infantis que têm a inclusão
como pano de fundo.
O livro traz contos que se passam em uma fazenda e
têm os animais como protagonistas.
Eles lidam com problemas humanos como
preconceito e rejeição, caso do sapo deficiente que não conseguia
nadar, da galinha excluída do grupo por ser surda e do passarinho de asa
quebrada que precisou ganhar a confiança dos outros bichos para poder
voar com eles.
Com 32 páginas, a obra "Débora conta histórias" (Araguaia Infantil, R$ 34,90) estará à venda nas livrarias a partir desta segunda-feira (5). As ilustrações são de Bruna Assis Brasil.
A professora também usa os bichos para abordar a importância da
tolerância, respeito e amizade. Uma das fábulas é sobre a discriminação
que o pato sofria por não querer namorar outras patas, e sim, patos.
Em outra, Débora conta a história de amizade entre um cachorro e um
papagaio. Alguns contos foram escritos baseados em situações vividas por
ela. O texto da contracapa é do escritor, membro da Academia Brasileira
de Letras, João Ubaldo Ribeiro.
"Usei os animais, mas as histórias se encaixam aos humanos. É preciso
respeitar e incluir todo mundo, aceitar as diferenças de cada um. Ainda
existe preconceito", afirma Débora.
O livro nasceu em 2010, quando a jovem resolveu escrevê-lo para dar
presente de Natal aos pais, o médico psiquiatra José Robério e a
advogada Margarida Seabra. "Queria fazer uma surpresa, e eles ficaram
felizes, adoraram a ideia."
Margarida lembra que a filha passou alguns meses dedicada a escrever a
obra escondida no quarto, quando a mãe entrava de surpresa ela tratava
logo de proteger o presente.
"A gente não imaginava, achávamos que fosse um diário." Os contos não
foram escritos com a expectativa de se tornar livro, mas como o
resultado agradou a todos, Margarida se rendeu aos conselhos e pedidos
dos amigos e da família e foi em busca de uma editora. Antes, cogitou
publicá-lo de forma independente, mas não foi preciso.
Não foi a primeira vez que a professora testou o lado escritora. Antes
do livro de fábulas, escreveu a própria história que depois de ter as
folhas impressas e presas por um espiral, foi dada aos pais.
"Toda a
família leu, guardamos como lembrança, mas achei que era comum. Já com
as fábulas fiquei muito emocionada. As pessoas se surpreenderam pela
delicadeza das histórias", diz Margarida.
A obra "Débora conta histórias" será lançada oficialmente no mês de
setembro em um evento para convidados, em Natal. Ainda não há data
definida.
Escolas regulares
A autora da obra nasceu em Natal (RN)
e há nove anos trabalha como professora assistente em um colégio
particular tradicional da cidade, a Escola Doméstica. Débora sempre
estudou em escolas da rede regular de ensino e se formou no curso de
magistério, de nível médio, em 2005.
Quando começou a frequentar a escola, pouco se sabia sobre a síndrome
de Down. Débora contou com o apoio da família que contrariou a tendência
de matricular a filha uma escola especial, assim como fazia os pais
naquela época. "Nunca cogitei uma escola especial porque Débora era uma
criança comum.
A escola especial era discriminatória e ela precisava de
desafios. Não sabia muito bem como seria, mas estava aberta para ajudar
minha filha a encarar qualquer coisa", diz Margarida.
Nem sempre foi fácil. Débora já foi vítima de preconceito. Ainda na
educação infantil, lembra de ter sido chamada de 'mongol' por um garoto.
Ela chorou, ficou magoada, mas encontrou na professora uma aliada que
explicou à classe que 'mongóis' eram os habitantes da Mongólia e ainda
ensinou as crianças o que era a síndrome de Down.
Por conta de sua experiência com professora, Débora já foi convidada
para palestrar em várias partes do país e até fora dele, como Argentina e
Portugal. Sempre que pode participa de iniciativas para ajudar a
combater o preconceito, como apresentações teatrais - mais uma de suas
paixões.
Fonte: G1 Educação
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