Seiti Kleffer considera-se um vencedor. Aos 23 anos, ele acaba de se
formar em Serviço Social e já conseguiu o primeiro emprego.
O que
diferencia Seiti de outras pessoas é o fato de ter deficiência visual e surdez de
um ouvido.
Essas características, no entanto, nunca o impediram de ir à
luta em busca de seus direitos e do próprio crescimento profissional.
Seiti trabalha em uma universidade em Brasília,
justamente no setor que busca incluir alunos com deficiência. A tarefa
do jovem é digitalizar materiais para outros alunos que, como ele, não
enxergam ou enxergam pouco. Faz parte da política da instituição incluir
alunos e também contratar pessoas com deficiência para trabalhar no
local.
As deficiências de cada pessoa são específicas, o que obriga a empresa a
se adequar às necessidades de cada um. Uma pessoa com deficiência
visual, por exemplo, sofre com a falta de programas de computadores
específicos. Já o surdo precisa da ajuda de um intérprete da língua
brasileira de sinais ou de legendas.
“Existe um trabalho bem específico
para cego e um trabalho mais específico para uma pessoa com deficiência auditiva.
O trabalho para cego envolve muito telemarketing. E trabalho para surdo
eu não posso fazer, porque não consigo ver”, explica Seiti.
No caso de quem utiliza cadeiras de rodas, as dificuldades começam ao
sair de casa, como atesta a médica e professora Izabel Maior.
“Eu tenho
que pensar muito aonde eu vou, antes. Eu preciso saber se o banheiro é
acessível. Eu preciso saber quanto tempo eu vou demorar. Se eu vou ter
que chamar um carro. Se eu estou com cadeira motorizada, eu tenho que
chamar um táxi especial com muita antecedência”, enumera.
Lei de Cotas não é cumprida
São poucas as pessoas com deficiência que têm a sorte de Seiti e
Izabel. O País conta, há 22 anos, com uma lei que obriga empresas com
mais de 100 empregados a contratar pessoas com deficiência. Pela regra,
as empresas que têm entre 100 e 200 funcionários devem reservar pelo
menos 2% das vagas para profissionais com deficiência. Para empresas com
até 500 funcionários, a cota sobe para 3%; com até mil, 4%; e acima de
mil a cota é de 5%.
Porém, o fato é que são poucas as empresas que cumprem a lei. De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais,
das mais de 45 mil empresas com 100 ou mais empregados no Brasil,
apenas 3.800 – pouco mais de 8% do total - cumpriam a cota mínima de
contratação de pessoas com deficiência no fim de 2011.
Calcula-se que, se a lei de cotas fosse cumprida, pelo menos 900 mil
trabalhadores com deficiência teriam um emprego, em um universo de 45
milhões de pessoas com algum tipo de deficiência.
Mil empresas multadas por ano
Auditores fiscais do Trabalho fiscalizam o cumprimento da medida em
todo o País. A empresa infratora é punida com multa que varia de R$ 1,3
mil a quase R$ 133 mil, conforme o tamanho do negócio.
Em média, mil empresas são autuadas a cada ano. Segundo Fernanda Di
Cavalcanti, coordenadora nacional do Projeto de Inserção de Pessoas com
Deficiência no Mercado de Trabalho, a fiscalização tem levado muitas
empresas a se enquadrar.
A falta de vontade de algumas empresas e o preconceito em admitir
pessoas com deficiência não são os únicos entraves ao cumprimento da
lei.
Em muitos casos, o que há é dificuldade mesmo para se adaptar, como
já havia destacado Seiti Kleffer e como afirma Janilton Fernandes Lima,
da Confederação Nacional do Comércio:
“É preciso investir, de alguma forma, na adaptação. Às vezes é preciso
alterar a estrutura física do local, mas o lojista, o comerciante não é o
proprietário”.
Em outros casos, o que faltam são profissionais com deficiência
qualificados. De qualquer forma, cursos adaptados existem, como explica
Adriana Barufaldi Bertoldi, especialista em Desenvolvimento Industrial
do Senai.
Segundo ela, o Senai adapta os currículos do
curso de interesse da pessoa com deficiência e já incluiu 80 mil
profissionais no mercado de trabalho entre 2007 e meados de 2013.
A
maior dificuldade é fazer com que as pessoas tenham acesso a essa
capacitação, mas quem se capacita surpreende. “A gente sempre subestima
os deficientes. Eles só precisam que a gente garanta os apoios
necessários”.
Fonte: Câmara dos Deputados
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