4 de jun. de 2014

Educação inclusiva em Uberlândia ainda enfrenta barreiras diariamente

Foto de uma professora dando aula em escola inclusiva


Dos 2.515 alunos com deficiência matriculados nas escolas de Uberlândia, segundo o Censo Escolar de 2013, 2.290 estão no ensino regular, o que significa que, em tese, fazem parte da educação inclusiva


Os outros 225 frequentam exclusivamente as escolas especiais: o Centro Estadual de Educação Especial de Uberlândia (Ceeu) e a Escola Estadual Novo Horizonte. 


Já a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) atende 340 pessoas, das quais 34 também estão nas escolas regulares.


Contudo, a falta de estruturas física, didática e pedagógica ainda é uma barreira para o ensino inclusivo em Uberlândia. 


O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE) em Uberlândia reclama da adequação lenta das escolas e da falta de preparo dos servidores. 


“O pessoal não foi treinado para lidar com esses alunos, os prédios não estão adaptados, muitos não têm rampas nem banheiros adequados”, disse a coordenadora geral do SindUTE na cidade, Elaine Cristina Ribeiro.


Das 85 escolas estaduais regulares na cidade, 53 têm alunos com deficiência matriculados, que somam 362 estudantes, de acordo com o Censo. 


A reportagem do CORREIO de Uberlândia visitou a Escola Estadual Amador Naves, uma das referências em ensino inclusivo da rede estadual na cidade. 


A instituição tem 30 alunos com deficiência física, intelectual e de baixa visão matriculados e ainda atende outros dez estudantes de outras escolas estaduais de Uberlândia no Atendimento Educacional Especializado (AEE). 


A escola possui rampas na entrada e na passagem de um bloco para o outro. Mas, nas portas das salas existem degraus e há apenas um banheiro adaptado.


“Nós ainda precisamos de piso tátil, bebedouro adequado, adaptações nos banheiros e nas salas, onde precisamos de rampas nos degraus quanto de aumentar a largura da porta. Hoje, um cadeirante não consegue passar pela porta sozinho mesmo se tivesse rampa, porque o portal é estreito”, disse a diretora da escola, Gláucia Severino Muniz. 


Segundo ela o projeto de adaptação da instituição já existe, mas falta verba para as obras.


Além disso, muitos materiais didáticos utilizados na sala de AEE são improvisados pelas professoras. 


“Nós fizemos o pedido de materiais adequados em 2012 e ainda não recebemos tudo que foi solicitado. Enquanto não temos os materiais corretos, as professoras de apoio e a professora de AEE montam os materiais didáticos com materiais reciclados, como papelão”, disse Gláucia Muniz.


A Superintendência Regional de Ensino reconhece que ainda falta acessibilidade nas escolas. “Nem todas têm acessibilidade. 


A inclusão ainda é um desafio e falta muito a ser feito. Mas, nós encaminhamos os alunos para as escolas que têm capacidade de atendê-los de acordo com as limitações de cada um”, afirmou a diretora educacional da superintendência, Onília de Oliveira.
 

Eseba vai reservar até 20% das vagas
 

A Escola de Educação Básica (Eseba) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a partir deste ano, tem a reserva de pelo menos 10% das vagas para alunos com deficiência. Essa garantia foi decidida pela Justiça Federal depois que o Ministério Público Federal entrou com uma ação pleiteando a reserva de entre 10% e 20% das vagas.


A direção da Eseba foi procurada pela reportagem do CORREIO de Uberlândia para falar sobre as adequações da instituição para receber os alunos com deficiência, mas não retornou os contatos. A Eseba também não informou quantos estudantes deficientes estão matriculados na escola neste ano.
 

Funcionárias de escolas afirmam que treinamentos não são suficientes
 

Em Uberlândia, a rede estadual de ensino regular tem 41 professores de apoio que auxiliam os estudantes com deficiências na sala regular, 20 intérpretes de libras e 15 salas de recursos do Atendimento Educacional Especializado (AEE), segundo a Superintendência Regional de Ensino. Mas nem todos os profissionais estão preparados adequadamente para as funções que exercem.


A professora de apoio Lucimar Fernandes, por exemplo, precisa levantar as cadeiras dos alunos para entrar e sair de sala de aula, mas ela não teve nenhum treinamento para isso. “Fui aprendendo no dia a dia. Acredito que esse treinamento seja importante tanto para um conforto maior do aluno quanto para o professor.”


As auxiliares de serviços gerais Ivoneide Maria de Lima e Vanessa da Silva Alves Garcia também sentem falta de mais treinamentos para lidar com as crianças que possuem limitações. 


Elas são responsáveis pela higienização e alimentação dos alunos que necessitam desses auxílios.


“Quando entrei na escola regular recebi uma capacitação e na semana passada fiz uma reciclagem, mas não sou 100% preparada. Deveríamos ter mais cursos”, disse Ivoneide Lima. 


“Tem dois anos que trabalho com as crianças, mas só recebi um curso na semana passada”, afirmou Vanessa Garcia.


Segundo o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE), um professor da rede estadual teve problemas de saúde por carregar um aluno de maneira inadequada porque ele não foi treinado com as devidas técnicas.


A Superintendência Regional de Ensino desconhece o caso. “Nós estamos fazendo treinamentos com os servidores que trabalham com esses alunos para que eles saibam com lidar com eles em todas as ocasiões”, disse a diretora educacional da superintendência, Onília Maria de Oliveira.
 

Município tem carências para atender alunos especiais
 

Das 117 escolas da rede municipal, 106 tem cerca de 1,6 mil alunos com deficiência matriculados, mas nem todas estão adaptadas para recebê-los. 


Segundo a coordenadora do Núcleo de Apoio às Diferenças Humanas (Nadh) da Secretaria Municipal de Educação, Marta Emídio Pereira, algumas escolas ainda precisam de piso tátil, rampas e banheiros adaptados. 


“É a minoria. A nossa maior dificuldade é na educação infantil porque muitas dessas escolas funcionam em imóveis alugados”, afirmou Marta Pereira. Segundo ela, a rede municipal de educação conta com 300 profissionais do AEE, 70 professores de apoio e 80 cuidadores.


De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Uberlândia (Sintrasp), além da falta de estrutura física, a maioria dos servidores não está preparada para lidar corretamente com essas crianças. 


“O município dá cursos de capacitação, mas ainda são para poucos profissionais. Nós defendemos que deveria ser para todos os servidores que trabalham diretamente com as crianças, desde o porteiro da escola até a diretora”, disse a presidente do sindicato, Naara Bernardelli.
 

Especialista diz que inclusão ainda está em processo
 

A inclusão escolar das pessoas com deficiência é garantida por lei e é uma obrigação do Estado e do Município. 


Para a especialista em educação especial da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Eliamar Godoi, o ensino inclusivo é importante para o desenvolvimento pessoal e social tanto dos deficientes quanto das pessoas que convivem com eles.


“Nós ainda estamos em processo de construção da inclusão. Nem as escolas nem os profissionais estão preparados. Acredito que seja importante que eles convivam com os pares e tenham atendimento em instituições especializadas, mas frequentar o ensino regular com o auxílio do AEE vai fazer com que se desenvolvam mais”, disse.


A dona de casa Daniela Maria dos Reis Eustáquio percebeu a evolução do filho Walysson Felipe dos Reis Fernandes, de 9 anos, que tem deficiência intelectual, depois que ele passou a frequentar o ensino regular.


“Ele não conversava, não escrevia, era muito agitado e nervoso. Depois que passou a frequentar a escola, ele se acalmou, conversa mais com gente, e já escreve o nome sozinho.”




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