Há cinco anos, um acidente de trânsito retardou o início da vida
profissional de Braulio da Rosa Leite, de 20 anos, e deixou como sequela
o uso de muletas para se locomover. Com a coluna
fraturada, passou por um longo período de recuperação, atrasou seus
estudos e, consequentemente, o ingresso no mercado de trabalho. Em 2011, porém, começou a trabalhar como operador de fundição na Stihl Ferramentas Motorizadas, em São Leopoldo, superou as dificuldades iniciais e já tem planos para a carreira.
— Estou tão motivado com a oportunidade que pretendo fazer o curso
técnico em engenharia de produção para continuar a crescer na empresa.
Eu sempre quis essa área, e a minha condição não me impediu de seguir
meu sonho — testemunha.
Como Braulio, o cadeirante Ivan Amaral, 30 anos, faz parte do grupo de cem funcionários que têm algum tipo de deficiência
entre os quase 2 mil empregados da Stihl. Amaral conta que, quando
começou a trabalhar, ainda não tinha completado o Ensino Médio, mas o
emprego o estimulou a completar os estudos e querer mais.
— Hoje estou cursando o técnico em segunça do trabalho e pretendo seguir adiante na carreira — relata o profissional.
Mais do que cumprir a legislação, a Stihl tem um programa que busca dar
condições para que esses colaboradores possam se tornar cada vez mais
produtivos em suas atividades.
— Para integrar melhor as pessoas com deficiência (PCDs), oferecemos
treinamentos e workshops para todos que entram na empresa aprenderem a
conviver com as diferenças e as limitações dos cotistas. Fazemos, ainda,
acompanhamento individual para garantir que os PCDs estejam bem
colocados ou se há necessidade de trocar de função — explica Eliane
Dall-Agnese, analista de serviço social da Sthil.
A lei das cotas para deficientes foi a mola propulsora para as
organizações compreenderem o processo de inclusão dessas pessoas,
analisa Marcelo Rodrigues, sócio da Egalitê — empresa que recruta,
treina e presta consultoria a PCDs.
— As companhias perceberam que o recrutamento assertivo coloca o
profissional dentro do processo de trabalho e aumenta a produtividade.
Mas isso exige esforço da empresa, investimento e preparação de
lideranças — ressalta Rodrigues.
Um dos grandes desafios da inclusão está na delicada contratação de pessoal com deficiência intelectual.
O Programa Superar, do Grupo Bettanin — com atuação nos ramo de
higiene, limpeza, acabamento, organização e conservação —, dá atenção
especial a esse nicho de profissionais.
— Do total de 99 PCDs contratados, 69 têm algum tipo de deficiência
intelectual. Temos acompanhamento próximo desse colaborador e também
contamos com ajuda das famílias. Toda a equipe se envolve no processo,
facilitando a integração e o desenvolvimento desse funcionário —
salienta Cristine Lionello de Santis, responsável pelo Programa Superar.
Foi por meio da ação realizada pelo Grupo Bettanin que Márcio da Cunha
Viana e Lidiane Raupp Justo conquistaram a carteira assinada.
A deficiência intelectual não impede que o auxiliar de expedição de 34
anos realize suas atividades. Assim como as deficiências múltiplas da
jovem funcionária da linha de montagem não atrapalharam os seus anseios
profissionais.
— Eu gosto muito do meu trabalho e dos meus colegas. Meu plano é ficar aqui até me aposentar — conta Lidiane.
Grande família
No setor do armazém da Vonpar, em Porto Alegre, a
triagem e montagem dos packs é realizada por uma equipe composta
exclusivamente por funcionários com deficiência intelectual, exceto o
monitor. O grupo começou a se formar há três anos e hoje se considera
uma família.
— São como se fossem meus filhos, cuido deles e quero que prosperem
sempre — elogia Felipe Viegas, monitor do grupo de PCDs do armazém.
A equipe, que faz parte de um time de 150 funcionários, se formou pela
sincronia entre as vagas em aberto e as habilidades que eles apresentam:
concentração, foco e produtividade, que são fundamentais para as
funções que exercem, explica Amarildo de Souza, gerente de RH da Vonpar
Marcos Schilling Martins, de 27 anos, diz que adora o seu trabalho:
— Fazemos rodízio aqui, mas gosto mesmo é de montar os packs com os produtos.
Como facilitar a inclusão das pessoas com deficiência
> O recrutamento deve priorizar o potencial da pessoa com deficiência.
> As equipes que vão receber as pessoas com deficiência devem ser
preparadas para entender as diferenças e o processo inclusivo.
> O principal receio dos gestores é sobre produtividade, mas quando
conhecem melhor o assunto, conseguem fazer com que equipes apoiadas na
diversidade alcancem altas performances.
> O maior inimigo da inclusão é o desconhecimento. Empresas que
entendem as pessoas com deficiência conseguem ótimos resultados a partir
da diversidade dos colaboradores.
> A lei de cotas é a mola propulsora da inclusão de PCDs no Brasil,
mas as empresas que enxergam nela uma oportunidade de investir têm
conseguido retornos sociais e também financeiros.
Fonte: Marcelo Rodrigues, sócio da Egalitê
Programas voltados para deficientes no Estado
> A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Porto Alegre
(Apae) realiza preparação e qualificação da pessoa com deficiência
intelectual ao trabalho.
> Por meio do Serviço de Inclusão e Assessoramento Profissional, um
assistente social e um psicólogo fazem a inclusão e o acompanhamento do
aluno/usuário nas empresas.
> Para fazer parte deste programa é preciso estar matriculado e
frequentando uma das escolas da Apae. Informações no site da Apae Porto
Alegre.
SENAI
> O encaminhamento das pessoas com deficiência para os cursos
oferecidos pelo Senai ocorre por meio das entidades representativas das
diferentes áreas da deficiência, como Apae, associação de pessoas com
deficiência física e associação de pessoas com deficiência visual, entre
outras.
> São oferecidas vagas nos cursos de formação inicial e continuada
de trabalhadores e educação profissional técnica de nível médio.
> Mais informações no site do Senai-RS ou pelo telefone (51) 3347-8787.
SENAC
> O Senac Comunidade Zona Norte e Comunidade Centro oferecem cursos
de Aprendizagem Comercial para PCD's (pessoas com deficiência
intelectual e psicossocial).
> Como essas qualificações estão ligadas às cotas do Programa Jovem
Aprendiz, todos os estudantes devem estar cotizados por alguma empresa.
> As pessoas com deficiência que ainda não estão vinculadas a uma
organização, podem entrar em contato com a escola e preencher um
cadastro que será encaminhado para empresas parceiras.
> Informações pelo site do Senac-RS.