8 de abr. de 2016

No Dia do Braile, pessoas com deficiência visual destacam importância e desafios da leitura



O mineiro Aimar de Souza Gomes, de 46 anos, é um apaixonado por livros, principalmente por romances e biografias musicais e políticas. 


Nascido em Conselheiro Lafaiete (MG), aos sete anos de idade, mudou-se para Belo Horizonte, onde aprendeu a ler em braile. Aimar, que é cego de nascença, conta que seus pais eram primos em 1º grau e que, talvez por isso, três dos dez filhos do casal tenham nascido sem enxergar.


Hoje (08/04) é comemorado o Dia Nacional do Braile, o sistema de leitura em alto-relevo para deficientes visuais, inventado pelo francês Louis Braille, em 1827


De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia no Brasil mais de 32 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, sendo 6,5 milhões com deficiências severas.


A data, no Brasil, remete ao aniversário de nascimento de José Álvares de Azevedo – o Patrono da Educação dos Cegos no Brasil


Azevedo foi um missionário que, após estudar braile na França, trouxe o sistema ao Brasil e ajudou a fundar, no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegosprimeiro centro de estudos para deficientes visuais no país.


O braile permite que pessoas com cegueira ou baixa visão possam ler. O sistema consiste em um alfabeto de símbolos criados a partir de pontos em alto-relevo. 


Cada letra, número, pontuação ou sinal é feito a partir de uma combinação de seis diferentes pontos.


No Brasil, nem todos os deficientes visuais têm, como Aimar, a oportunidade de estudar o braile. Muitos moram longe de municípios com centros especiais de ensino e acabam sem aprender a ler em braile e sem acesso a livros.


Em Brasília, o Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais atende aproximadamente 350 alunos por mês e é o único do Distrito Federal e Entorno. 


Segundo Aírton Dutra, diretor do centro, o local recebe muitos estudantes de municípios de Minas Gerais, Goiás e Bahia.


Mercado de trabalho



Para Milene Cristina Orifisi, deficiente visual de 39 anos, a falta de acesso à educação e a baixa escolaridade tornam mais difíceis a entrada no mercado de trabalho. 


Ela trabalha como gestora de redes sociais na Associação de Deficientes Visuais e Amigos (Adeva), em São Paulo, e afirma que, na maioria das vezes, há um enorme desconhecimento em relação à realidade dos deficientes.


“As empresas, muitas vezes, colocam empecilhos. Acham que o deficiente visual vai ter dificuldade de adaptação, não vai dar conta do trabalho ou não vai conseguir usar o banheiro. Há uma má vontade até na hora de baixar um software para que o deficiente possa trabalhar. Além disso, as áreas de recursos humanos normalmente oferecem [aos deficientes] vagas de subemprego”, desabafa Milene.


A Adeva, é uma Organização Não Governamental (ONG) fundada em 1978, trabalha capacitando deficientes visuais para o mercado de trabalho. Além de cursos de braile, são oferecidas aulas de digitação, informática e orientação e mobilidade. 


Segundo Milene, as aulas de orientação e mobilidade são prioritárias para a autonomia e deslocamento dessas pessoas. 


“Para que eles possam ir sozinhos para o trabalho, que não tenham que depender de ninguém para se locomover.”


Outra instituição que também busca capacitar pessoas com deficiência visual é a Fundação Dorina Nowill Para Cegos, uma organização sem fins lucrativos e de caráter filantrópico que, há 70 anos, se dedica à inclusão social por meio da educação especial, reabilitação e empregabilidade. 


A ONG, com sede em São Paulo, atua em todo o país e oferece o curso de avaliação olfativa, a fim de preparar pessoas cegas e com baixa visão para trabalharem com avaliação de fragrâncias, na indústria de perfumes e cosméticos.

Dorinateca


Uma das iniciativas importantes da Fundação Dorina Nowill para Cegos foi o lançamento, no ano passado, da Dorinateca, uma biblioteca digital que permite acesso a um amplo acervo de livros. 


Para ter acesso aos títulos, é necessário que os deficientes visuais, ou instituições ligadas ao tema, se cadastrem no site www.dorinateca.org.br.


Susi Maluf, gerente de Serviços de Apoio à Inclusão da Fundação, explica que antes da biblioteca digital, a fundação enviava, para os cadastrados, livros impressos em braile ou CD’s de áudio


Agora, com a Dorinateca, os usuários podem acessar online. Todo o acervo fica disponível para download. De acordo com a fundação, já são mais de mil usuários e a biblioteca tem mais de 4 mil títulos.


“Segundo Aimar, ouvir, em áudio, o livro Noites Tropicais, de Nelson Motta, foi muito prazeroso. Ele, que há quase 40 anos frequenta a Fundação Dorina, afirma que o trabalho da instituição foi fundamental para o seu crescimento.Foi com o material deles que me alfabetizei, que estudei. A Dorinateca é uma ferramenta que todo deficiente visual deve conhecer. Ninguém mais pode dizer que não tem acesso a livros”, disse Aimar, que é o campeão de downloads de livros no site da biblioteca digital.


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