22 de ago. de 2013

Falta de profissionais para atendimento odontológico às pessoas com deficiências graves

 
Temos uma grande preocupação com a falta de adesão de profissionais da área odontológica com especialização no atendimento às pessoas com graves deficiências. 

Nos referimos a situação das pessoas com paralisia cerebral e outras, que enfrentam com mais dificuldades as barreiras do dia a dia.

Observamos, com frequência, a preocupação e enfoque mais na acessibilidade arquitetônica, que é o carro chefe das prioridades para todo esse segmento, mas não vemos nenhuma defesa e preocupação em relação a Lei Orgânica da Assistência Social, conhecida como LOAS (que é o mínimo de dignidade e independência econômica), com hospitais públicos especializados em reabilitação para as pessoas com paralisia cerebral e outras patologias graves. 

O resultado disto é a demora no atendimento e, por consequência a perda de um tempo precioso na sua reabilitação e inclusão na sociedade.

As entidades responsáveis por esse atendimento especializado rejeitam estes casos ou tem uma lista de espera de até três anos, no caso do paciente não ter condições financeiras de um atendimento pago. 

Quando as famílias possuem planos de saúde conseguem tratamentos em clínicas especializadas, mas essa não é a realidade da grande maioria das famílias brasileiras. 

Entretanto, muitos casos acabam sendo abandonados pelos “médicos” que alegam a estabilidade, a não progressão do paciente, desculpas estas que mais revela a falta de experiência ou interesse dessa classe de profissionais tanto na área pública quanto na particular.

Também questionamos os órgãos públicos que não se preocupam com o tratamento odontológico para pacientes com paralisia cerebral grave. Aqui na região do ABC paulista algumas prefeituras mantém em cada cidade, em média, dois especialistas para atendimentos aos munícipes, mas não atende a demanda, resultando na demora de atendimentos. 

Outras cidades no Brasil são mais carentes ainda destes recursos, o que obriga as famílias buscarem atendimento em instituições não governamentais ou em locais longe de suas regiões de origem, passando por muitas dificuldades.

O cadeirante e pessoas com baixa mobilidade, surdos e cegos, na sua maioria, conseguem tratamento em consultórios convencionais, mas os de patologias graves não têm as mesmas chances diante da pouca estrutura, além da falta de especialização e interesse dos profissionais para com tal segmento.

Diante deste cenário o futuro destes pacientes é ficarem sem atendimento, outros correm o risco de terem todos os dentes retirados, prática comum em entidades que funcionam como depósito de pessoas com deficiência grave – pode parecer assustador, mas ainda temos “casas”, “escolas” “abrigos” onde pais e famílias “esquecem” seu ente familiar.

Nossa indignação é que são frustradas nossas tentativas em obter apoio e cobranças junto aos nossos colegas que lutam pelos direitos das pessoas com deficiência, pois notamos a falta de interesse e sensibilidade para com esta parcela do segmento. Claro que não estamos generalizando, mas a grande maioria desta problemática não aflige por falta de conhecimento de causa. 

Outros estão mais interessados em levar sua causa como trampolim para projeção de cargos públicos e políticos advogando em causa própria, mas não se unindo a outras demandas. 

Acredito que a acessibilidade voltada às vagas reservadas para estacionar, rampas de acesso, ônibus adaptados, inclusão na educação são sim muito importantes, mas não isso faz com as pessoas com deficiência grave sejam menos importantes e, para isso, precisamos de uma visão política de lutas voltadas a elas também. 

Não concordamos com os discursos que excluem, com frequência, essas pessoas que acabam caindo no esquecimento e invisibilidade ainda maior que as outras. Ora, essas pessoas de que falamos só são lembradas no momento das entidades fazerem campanhas de arrecadação. Além das cobranças de acessibilidade temos o dever moral e ético da solidariedade com outras necessidades.

No universo das pessoas com deficiência existem várias patologias e, dentro delas, várias necessidades que dependem de recursos públicos. 

A pessoas com deficiência que consegue alguma projeção no campo profissional ou na política, via de regra, vem de uma classe mais privilegiada que troca favores entre si.

Aquelas que vêm de uma posição mais pobre, se conseguem, é por pura teimosia e um esforço sobre-humano para conquistar sua independência econômica e social. Aos que tem déficit intelectual, tudo depende dos que fazem deles um objeto de projeção. Outros por causa de alguma posição galgada nos meios sociais se envaidecem a ponto de se tornarem mais uma estrela querendo brilhar e perdem o foco das mudanças. 

Eu pergunto qual o interesse de alguém que consegue um cargo de função política querer mudar a ordem das coisas? Ele já conseguiu sua posição, já está no meio das estrelinhas, já se sente com poder. Quem acha realmente que esta pessoa vai querer ir contra os políticos e governos, pondo em risco seus cargos conquistados com tapinhas nas costas e muita bajulação?

Texto: José Deoclécio de Oliveira e Sonia Dezute



Nenhum comentário:

Postar um comentário