2 de dez. de 2015

O que se sabe (e o que falta saber) sobre relação entre zika vírus e microcefalia

 

 
O Brasil enfrenta uma epidemia de zika, uma doença "prima da dengue", desde o meio do ano. 


A doença, também transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, provoca sintomas parecidos, porém mais brandos do que os da dengue: febre, dor de cabeça e no corpo e manchas avermelhadas.


No último final de semana, o governo brasileiro confirmou a relação entre o vírus zika e a microcefalia, uma infecção que provoca má-formação do cérebro de bebês.


A região Nordeste é a região mais afetada pelo surto de microcefalia - no Brasil todo já são mais de 1.248 casos notificados em 311 municípios em 14 Estados. 


As notícias sobre o zika e os casos de microcefalia pegaram o país de surpresa e suscitaram várias dúvidas. Veja abaixo as respostas a algumas dessas questões: 
 

 

Qual a relação entre o zika e a microcefalia?



A partir de exames realizados em uma bebê nascida no Ceará, e que acabou morrendo com microcefalia e outras más-formações congênitas, identificou-se a presença do vírus.


A confirmação foi possível a partir da confirmação do Instituto Evandro Chagas da identificação da presença do vírus em amostras de sangue e tecidos do recém-nascido que veio a óbito no Ceará.


A confirmação da relação entre o vírus e a microcefalia é inédita na pesquisa científica mundial.


"A microcefalia é uma má-formação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Normalmente ela é causada por fatores como uso de drogas e radiação". 


Segundo o governo, na epidemia atual, os bebês nascem com perímetro cefálico menor que o normal, que habitualmente é superior a 33 cm.

 

O que ainda não sabemos sobre a ligação entre o zika e a má-formação fetal?



O Ministério da Saúde deixou claro, no entanto, que ainda há muitas questões a serem resolvidas. Uma das questões é como ocorre exatamente a atuação do zika no organismo humano e a infecção do feto.


Também não se sabe ao certo qual o período de maior vulnerabilidade para a gestante. Em análise inicial do governo, o risco está associado aos primeiros três meses de gravidez.


O que é o zika?



É um arbovírus (do gênero flavivírus), ou seja, costuma ser transmitido por um artrópode, que pode ser um carrapato, mas normalmente é um tipo de mosquito.


No caso do zika, ele é transmitido por um mosquito do gênero Aedes, como o Aedes aegypti, que também causa a dengue.


Além disso, ele também está relacionado com a febre amarela, febre do Nilo e a encefalite japonesa.

 

Qual sua origem?



O vírus foi identificado pela primeira vez em 1947 em Uganda, na floresta de Zika.


Ele foi descoberto em um macaco rhesus durante um estudo sobre a transmissão da febre amarela no local.

Exames confirmaram a infecção em seres humanos em Uganda e Tanzânia em 1952, mas somente em 1968 foi possível isolar o vírus, com amostras coletadas em nigerianos.


Diversas análises genéticas demonstraram que existem duas grandes linhagens do vírus: a africana e a asiática.


Quantas pessoas já morreram no Brasil vítimas do zika?



Além da bebê cearense, outros dois óbitos relacionados ao vírus foram confirmados pelo governo.


O primeiro caso foi é o de um homem com histórico de lúpus e de uso crônico de medicamentos corticoides, morador de São Luís, do Maranhão. 


Exames específicos mostraram a presença do genoma do zika no sangue e em órgãos como o cérebro, fígado, baço, rim, pulmão e coração.


O segundo caso é o de uma menina de 16 anos, do município de Benevides, no Pará, que acabou morrendo no final de outubro. 


Com suspeita inicial de dengue, ela apresentou dor de cabeça, náuseas e manchas vermelhas na pele e mucosas. Testes deram positivo para o zika.


Houve surtos anteriores de zika?



Sim, mas não nesse grau. Em 2007, por exemplo, foram registrados casos de infecção do vírus na ilha de Yap, que integra a Micronésia, no Oceano Pacífico.


Foi a primeira vez que se detectou o vírus fora de sua área geográfica original, ou seja, África e Ásia.


No final de 2013, houve um surto do zika na Polinésia Francesa, também no Pacífico. Mais de 10 mil casos foram diagnosticados.


Desse total, cerca de 70 evoluíram para um estado grave. Esses pacientes desenvolveram complicações neurológicas, como meningoencefalite, e doenças autoimunes, como leucopenia (redução do nível de leucócitos no sangue).


No dia 26 de novembro, um relatório divulgado por autoridades locais mostrou que pelo menos 17 casos de má-formação do sistema nervoso central foram registrados entre 2014 e este ano, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês).


Nas Américas, o vírus foi detectado pela primeira fez em fevereiro de 2014 por autoridades chilenas, que confirmaram o primeiro caso na Ilha de Páscoa. 


A transmissão se deu de maneira autóctone (ocorrida dentro do território nacional e não em pessoas que viajaram para o exterior).


Em maio de 2015, o Brasil confirmou seu primeiro caso desse tipo de transmissão, em um paciente da região nordeste.


A Colômbia também reportou seu primeiro caso de contágio do vírus, no estado de Bolívar. Até outubro, eram nove casos nessa região.


Também foram registrados casos nas Ilhas Cook e Nova Caledônia, novamente no Pacífico.

 

Qual o tempo de incubação do vírus?

 

O tempo de incubação tende a oscilar entre 3 e 12 dias. Após esse período surgem os primeiros sintomas. No entanto, a infecção também pode ocorrer sem o surgimento de sintomas (leia mais abaixo).


Segundo um estudo publicado na revista médica The New England, uma em cada quatro pessoas desenvolve os sintomas.


A maioria dos pacientes se recupera, sendo que a taxa de hospitalização costuma ser baixa.

 

E os sintomas?



O vírus provoca sintomas parecidos com os da dengue, contudo mais brandos: febre alta, dor de cabeça e no corpo, manchas avermelhadas, dores musculares e nas articulações. 


Também pode causar inflamações nos pés e nas mãos, conjuntivite e edemas nos membros inferiores. Os sintomas costumam durar entre 4 e 7 dias.


Há outros sintomas menos frequentes, como vômitos, diarreia, dor abdominal e falta de apetite.


Análises recentes no Brasil indicam que o zika pode contribuir para agravamento de quadros clínicos e levar à morte.


O primeiro caso foi confirmado pelo instituto Evandro Chagas, de Belém (PA). 


Um homem com histórico de lúpus e de uso crônico de medicamentos corticoides morreu com suspeita de dengue. Exame de sangue e fragmentos de vísceras apresentou resultado negativo para dengue, mas detectou o vírus zika.

 

Qual o tratamento para o zika?



Não há uma vacina nem um tratamento específico para o zika virus, apenas medidas para aliviar os sintomas, como descansar e tomar remédios como paracetamol para controlar a febre. O uso de aspirina não é recomendado por causa do risco de sangramento.


Também se aconselha beber muito líquido para amenizar os sintomas.

 

Há prevenção?



Como a transmissão ocorre pela picada do mosquito, recomenda-se o uso de mosquiteiros com inseticidas, além da instalação de telas.


Também deve se utilizar repelentes com um composto chamado icaridina e roupas que cubram braços e pernas, para reduzir as chances de se levar uma picada.

 

O que o governo está fazendo para lidar com a epidemia de zika e microcefalia?



Até o momento, o Ministério da Saúde fez um apelo para uma mobilização nacional no combate ao mosquito Aedes aegypti.


O governo lançou uma campanha para alertar para o fato de que o mosquito mata.


Nessa segunda-feira, o ministério informou que "está em contato com as secretarias estaduais e municipais para articular uma resposta conjunta e, em especial, mobilizar ações contra o mosquito Aedes aegypti. Comitês de especialistas apoiarão o Ministério da Saúde nas análises epidemiológicas e laboratoriais, bem como no acompanhamento dos casos."


No dia 13 de novembro, um alto funcionário do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, diretor do departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis, recomendou que as mulheres não engravidassem.


"Não engravidem agora. Esse é o conselho mais sóbrio que pode ser dado", disse.

Atualmente, Ministério da Saúde abaixou o tom e recomenda cautela a mulheres que pretendem engravidar.


Também recomenda que grávidas usem roupas de manga comprida, calças e repelentes apropriados para gestantes.


É importante que as gestantes mantenham o acompanhamento e as consultas de pré-natal, com a realização de todos os exames recomendados pelo médico.


A Presidência também determinou a convocação do chamado Grupo Estratégico Interministerial de Emergência em saúde Pública de Importância Nacional e Internacional (GEI-ESPII), que envolve 19 órgãos e entidades, para a formulação de plano nacional do combate ao mosquito.


No momento, há 199 municípios brasileiros em situação de risco de surto de dengue, chikungunya e zika.







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