Sulamita Oliveira Damazio, 34 anos, costuma fazer as coisas no
próprio tempo e do jeito que a deixa mais confortável.
Ela precisa
chegar aos lugares pelo menos uma hora antes de dar início a cada
atividade ou cumprimentar as pessoas, escuta só o que realmente quer e
cria novos termos para nomear objetos e alimentos.
Quando perguntado
sobre qual é a “limitação” de Sulamita, o pai, Daniel, responde:
– Nenhuma. Ela só tem síndrome de Down.
Há dois anos, Sulamita também é atriz. Ela participa do Projeto Arte para Todos,
uma parceria entre o Núcleo de Assistência Integral ao Paciente
Especial (Naipe), a Associação para Integração Social de Crianças a
Adultos Especiais (Apiscae) e o Universo Down e está entre os artistas
que se apresentam hoje no Teatro Juarez Machado, em Joinville.
Como integrante da oficina de teatro, ela costuma chegar em casa depois
das aulas e sentir vontade de repassar alguns exercícios.
Movimentos como passar uma mão na outra ou trechinhos de uma música
de Arnaldo Antunes poderiam parecer incompreensíveis para Daniel ou para
a mãe, Conceição, mas Sulamita conta com a presença dos dois entre os
colegas do projeto.
Dessa forma, tem em todos os outros momentos da
semana uma extensão do que aprende na oficina e pode contar com essa
parceria na hora em que tem vontade de realizá-los fora da sala de aula.
– Ela chegou a fazer aula de Libras e, como eu não fazia, quando ela
chegava em casa e queria repetir o que aprendeu, eu não sabia o que
fazer. Agora, consigo identificar e participar – conta Conceição.
Desde que começou as aulas, Sulamita mudou o comportamento. De eterna
criança que vivia dentro de casa, dependendo dos pais até para se
alimentar, ela conquistou autonomia e começou a desempenhar atividades
comuns do dia a dia que, até então, pareciam muito difíceis. Deixou
também de chorar à toa, em horas de depressão que não tinham explicação.
Tudo isso faz parte de um conjunto de mudanças que a fisioterapeuta
Simone Marcela Oliveira, atual coordenadora do Naipe, percebeu nos
participantes das oficinas de artes, aliadas ao desenvolvimento físico e
motor – e que tem na participação dos pais um forte aliado.
– Passamos por momentos em que os alunos absorveram tanto as lições,
que os pais reclamaram da quantidade de autonomia que desenvolveram.
Este ainda é um desafio: os pais protegem tanto para evitar o sofrimento
dos filhos com deficiência intelectual que não permitem que estejam
expostos aos erros – explica Simone.
Tentativa e erro fazem parte do processo
Errar e falhar não são problemas para quem entra em uma sala de aula
do Projeto Arte para Todos. Não que os participantes das oficinas sejam
protegidos da crítica por causa das dificuldades e limitações com que
foram diagnosticados.
Ao aprenderem teatro, dança e música, todos estão expostos às inúmeras possibilidades que a arte proporciona e a alcançarem ou não os objetivos propostos para as atividades – assim como qualquer pessoa.
– Há serviços oferecidos a eles em que não há preocupações em
avanços. Mas se você tem dificuldade para decorar um texto e conseguir
memorizar duas palavras, esta já é uma grande conquista e, na próxima,
vai tentar falar quatro palavras – reflete o coordenador de teatro do
projeto, Robson Benta.
A paciência é elemento primordial neste processo, que conta com a
superação assim como toda forma de aprendizado, mas ele não envolve
nenhum outro fator que já não esteja presente nas aulas com pessoas que
não apresentam limitações ou dificuldades diagnosticadas.
O resultado é que, na hora de subir no palco, não há esquecimento ou
medo de encarar a plateia, muitas vezes formada por pais surpresos ao se
deparar com um potencial que desconheciam em seus filhos.
Fontes: A Notícia / Vida Mais Livre
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