Um pai escreveu uma carta emocionante a sua filha duas horas antes dela
se casar.
Enquanto Jillian se arrumava para dizer “eu aceito”, seu pai,
Paul Daugherty, colunista esportivo do jornal Cincinnati Enquirer,
escrevia para a filha de 25 anos detalhando como ele costumava chorar ao
pensar que ela não seria aceita por ter síndrome de Down.
Um medo, ele
acrescenta, que se mostrou sem sentido. As informações são do Daily
Mail.
“Em duas horas, você fará a caminhada da sua vida, uma caminhada que se
torna ainda mais memorável por tudo que já alcançou até hoje”, ele
escreveu na carta publicada pelo site The Mighty.
“Eu não sei quais foram as dificuldades para uma mulher com síndrome de Down se casar com o amor de sua vida. Só sei que você superou todos elas”.
Jillian trabalha no departamento de esportes da Universidade do Norte
de Kentucky e após 10 anos de namoro, casou-se com o namorado Ryan
Mavriplis no dia 27 de julho.
Os dois se conheceram em um campo de
futebol há 11 anos. O pai do jovem treinava um time de pessoas com
deficiência e após o jogo, Ryan convidou Jillian para um baile no
colégio.
Na mensagem, Paul, autor do livro An Uncomplicated Life ("Uma Vida
Descomplicada", em tradução livre), que fala sobre como foi criar
Jillian, conta como ele e a esposa se preocupavam da filha não ter
amigos.
“O que não poderíamos fazer era outras crianças gostarem de você. Aceitarem você, serem suas amigas, ficarem ao seu lado na área vital que é a social. Pensamos ‘o que é a vida de uma criança se não for recheada de festas do pijama e aniversários ou de encontros para ir ao baile?”, o pai indaga na carta.
Ele lembra como “chorou por dentro” quando ela tinha 12 anos e disse a ele que não tinha nenhum amigo.
Porém, “há uma década, quando um jovem rapaz entrou em nossa casa
vestindo um terno e trazendo um corsage feito de orquídeas cymbidium
disse ‘vim levar sua filha ao baile, senhor’, qualquer medo que eu tinha
sobre sua vida ser incompleta desapareceu”.
Paul também comenta que Jillian fez tudo aquilo que sempre disseram que ela não poderia fazer, incluindo se casar.
O pai explicou em seu blog que o casal “já viveu junto por quase dois
anos, então independência não é um problema”.
Segundo ele, “tudo o que
tivemos que fazer era preparar os dois: alugar um guarda-chuva e duas
cadeiras, avisá-los sobre o transporte gratuito que o hotel oferecia
para atrações locais, lembra-los que protetor solar não era opcional”.
“Em muitos sentidos, eles já são como um velho casal casado. Em outros,
eles ainda não são. Desde o dia do casamento, Jillian e Ryan parecem
ter renovado o que um representa para o outro”.
Confira a tradução completa da carta:
Querida Jillian,
É a tarde do seu casamento. 27 de junho de 2015. Em duas horas você
fará a caminhada da sua vida, uma caminhada que se torna ainda mais
memorável por tudo que já alcançou até hoje.
Eu não sei quais foram as
dificuldades para uma mulher com síndrome de Down se casar com o amor de
sua vida. Só sei que você superou todos eles.
Você está no andar de cima agora, terminando de se preparar com sua
mãe e damas de honra. Seu cabelo está perfeitamente enrolado acima do
seu pescoço esguio. Seu vestido todo enfeitado com pedras – “meu
brilho”, como você chama – atrai todo raio de sol de um final de tarde.
Sua maquiagem – com batom vermelho! – de algum jeito parece te deixar
ainda mais bonita, uma beleza que só cresce desde o dia que você nasceu.
Seu sorriso está florescendo e é para sempre.
Estou aqui fora, embaixo da janela, olhando para cima. Vivemos para
presenciar momentos como esse, quando a esperança e os sonhos se
encontram em um doce momento do tempo.
Quando tudo que sempre imaginamos
chega e se torna claro. Felicidade é possível. Agora eu sei, enquanto
espero aqui embaixo da janela.
Eu tenho muita coisa e nada para te contar. Quando você nasceu e
com o decorrer dos anos, não me preocupei com o que você alcançaria
academicamente. Sua mãe e eu te ajudaríamos.
Iríamos mudar a lei se
precisássemos. Poderíamos fazer professores te ensinarem e sabíamos que
ganharia o respeito de seus colegas.
O que não poderíamos fazer era outras crianças gostarem de você.
Aceitarem você, serem suas amigas, ficarem ao seu lado nessa área vital
que é a social.
Pensamos “o que é a vida de uma criança se não for
recheada de festas do pijama e aniversários ou de encontros para ir ao
baile?”
Nós nos preocupamos tanto com você. Eu chorei por dentro na noite
que você, com 12 anos, desceu as escadas e declarou “eu não tenho nenhum
amigo”.
Todos nós desejamos as mesmas coisas para nossas crianças. Saúde,
felicidade e uma habilidade para aproveitar o mundo, não só para
crianças típicas.
Essa busca é um direito inato de cada criança. Eu me
preocupava com você, Jillian.
Eu não deveria. Porque você é natural quando o assunto é se
socializar. Eles te chamavam de prefeita no Ensino Fundamental por sua
habilidade de se comunicar com todo mundo.
Você participou do grupo de
dança no Ensino Médio. Você passou quatro anos indo às aulas na
faculdade e deixou impressões profundas em todos que conheceu.
Você lembra de todas as coisas que disseram que não poderia fazer,
Jills?
Não poderia andar em veículos com duas rodas ou fazer esportes.
Não poderia ir para a faculdade. Com certeza não poderia se casar... E
agora, olhe para você.
Você é a pessoa mais legal que conheço. Alguém que consegue viver
uma vida de empatia e compaixão, sem maldade, é alguém que todos nós
queremos conhecer.
As coisas funcionaram para você por ser quem é.
Eu poderia dizer para entregar seu coração ao Ryan, todo seu
coração, mas isso seria óbvio demais.
Eu poderia te dizer para ser
gentil e boa com ele, e ele bom com você. Mas os dois já fazem isso
muito bem, com todos que conhecem.
Poderia desejar uma vida de amizade e
respeito mútuo, mas vocês já estão juntos há uma década, então o
respeito e amizade já são aparentes.
Há uma década, quando um jovem rapaz entrou em nossa casa vestindo
um terno e trazendo um corsage feito de orquídeas cymbidium disse “vim
levar sua filha ao baile, senhor”, qualquer medo que eu tinha sobre sua
vida ser incompleta desapareceu.
Agora, você e o Ryan estão embarcando em uma jornada juntos. É um
novo desafio, mas não é mais assustadora para você do que para qualquer
outra pessoa.
Por ser quem é, pode ser até menos assustadora. A
felicidade vem fácil para você. Assim com a habilidade que tem de deixar
os outros felizes.
Estou te vendo.
Os preparativos terminaram, a porta está se
abrindo. Minha garotinha, toda de branco, cruzando um caminho para outro
sonho conquistado.
Estou de pé, sem ar e totalmente paralisado pelo
momento. “Você está linda” é o melhor que consigo dizer.
Jillian me agradece.
“Sempre serei sua garotinha”, diz em seguida.
“Sim, sempre será”, respondo. Digo que é hora de ir. Temos uma caminhada a fazer.
***
Fonte: Terra / Vida Mais Livre
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