Para Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues, professora do departamento
de psicologia da Unesp de Bauru e mestre em educação especial, a escola
costumava ser excludente.
"Deixava de fora os que eram diferentes e os que iam mal. Agora, ela precisa incluir todos e principalmente os alunos com deficiência".
Segundo o Censo Escolar 2013, 843.342 crianças e jovens com algum tipo
de deficiência estavam matriculados na educação básica naquele ano.
Destes, 78,8% em escolas públicas.
"O maior desafio está na formação do professor, que teria que contemplar mais estratégias e tecnologias de alfabetização para trabalhar com crianças com algum tipo de dificuldade", diz Olga.
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UOL Educação - O que é inclusão escolar?
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues - Inclusão escolar é
crianças terem as mesmas oportunidades de desenvolvimento e
aprendizagem. Saber o que elas precisam para se tornarem seres humanos
independentes, com autonomia. Todas as crianças devem ter esse direito,
independente de terem alguma deficiência ou serem de raças diferentes.
Na escola, isso seria a máxima: a mesma condição de aprendizagem para
todos.]
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UOL - Como está o Brasil em relação a esse assunto?
Olga Rodrigues - É um processo complexo e demorado, mas nós
temos boas perspectivas. A inclusão no Brasil é algo que está começando e
ainda temos muito o que fazer e conhecer. Partimos de uma escola que
era excludente, que deixava de fora os diferentes, os que iam mal. Agora
ela precisa dar conta de todos. Temos um conjunto expressivo de leis,
que garantem que a criança com deficiência permaneça na escola e tenha o
atendimento de que precisa. E os pais estão começando a conhecer melhor
os seus direitos. O panorama é favorável. Não há margem para retrocesso
[na inclusão do aluno deficiente].
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UOL - Quais são os desafios?
Olga Rodrigues - A parte difícil é o acolhimento desta
criança. Nós ainda não sabemos como trabalhar [com a criança com
deficiência]. Os professores dizem que não estão preparados, mas temos
diferenças de aprendizado tão grande entre as pessoas que é difícil
prepará-los para todas as diversidades que vão encarar na vida
profissional. É preciso que os docentes tenham mente aberta para
procurar ajuda para cuidar daquela criança com deficiência em sala de
aula. O desafio é o mote para mudar. Há uma tendência do professor
trabalhar isolado. Ele diz: 'Não consigo, não sei trabalhar com essa
criança'. Ele precisa fazer cursos, buscar informações, encaminhar para
outros profissionais. É necessária uma parceria com a família, um
arejamento entre as relações estabelecidas dentro da escola, porque o
professor acha que é o único responsável. O sistema inteiro precisa
estar afinado. Temos que avaliar esse aluno. O que ele sabe? Às vezes a
criança sabe muita coisa, mas o professor foca muito na limitação.
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UOL - Quais são as figuras que podem ajudar o professor em sala de aula?
Olga Rodrigues - Existe um projeto que garante a presença de
um cuidador para pessoas com deficiência, sem acréscimo financeiro para
os pais, no caso de escolas particulares. Mas essa figura não está
presente em todos os sistemas escolares. O cuidador tem que ter um
preparo para que também não acabe excluindo a criança dentro da sala de
aula. É função dele ajudar o aluno em atividades escolares e
necessidades básicas, como ir ao banheiro. Há ainda o professor
especialista, que deve orientar o professor da classe regular em relação
às melhores práticas pedagógicas. Não há esse professor em toda a
unidade escolar, mas ele está disponível na rede. Pode ser chamado pela
escola.
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UOL - Há uma crítica por parte de professores de escolas
regulares de que é difícil dar aula para mais de 30 alunos e dar atenção
a uma criança com deficiência. O que a senhora acha disso?
Olga Rodrigues - Acho que falta uma abertura por parte dos
professores, uma sensibilização para ensinar toda e qualquer criança. Se
ele é professor, é papel dele ensinar qualquer um. É papel dele
promover o desenvolvimento. Ensinar crianças que vão bem é fácil, mas
ele precisa ensinar todas. Na dificuldade, deve procurar ajuda. Ele está
determinando de alguma forma o futuro daquela criança.
As classes japonesas, por exemplo, têm 50 alunos. Será que lá não tem
criança com deficiência? Tudo depende do quanto eu acredito que posso
fazer. Quando um professor recebe uma criança, ele precisa se adaptar a
novas realidades. Alguns estudos mostram que não é o número de alunos
que determina a qualidade do ensino, mas sim o que o professor faz.
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UOL - Para a criança com deficiência, quais são os benefícios de estudar em classes regulares?
Olga Rodrigues - Com isso, a criança tem bons modelos. Ela
aprende muito por imitação. Ela vai estar exposta a uma variedade muito
boa de estímulos. Isso pode alavancar o desempenho dela. Já para os
alunos sem deficiência também é bom, porque eles aprendem a conviver com
a diversidade. Eles vão aprender que tem gente que precisa de mais
ajuda, mas que não é um coitado, que não precisa de ajuda em excesso. A
criança no início sente dó. Se ela fizer pelo outro, aí não há
aprendizado. É preciso respeitar o ritmo do outro, se colocar no lugar.
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UOL - O que a senhora acha das escolas que se negam a aceitar um aluno com deficiência?
Olga Rodrigues - Acho que é uma pobreza. Essa escola não quer trabalhar com a diversidade, quer trabalhar com o melhor aluno. Geralmente são escolas privadas bem estabelecidas, que acham que podem fazer o que quiserem. A lei é favorável à inclusão. Nas escolas regulares, o Estatuto da Pessoa com Deficiência garante as vagas.
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Fonte: UOL Educação / Vida Mais Livre
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