Durante 15 anos, desde que
descobriu ser portadora de hepatite C, a costureira Helenisar Campos
Cabral Salomão, de 60 anos, enfrentou diversas etapas do tratamento
contra a doença que pode causar cirrose e câncer no fígado.
Nos últimos
anos, a terapia passou a incluir injeções semanais na barriga na
tentativa de eliminar do vírus C. As aplicações eram parte do antigo
medicamento contra a doença.
No entanto, em vez da cura esperada, Helenisar passou a sofrer com
fortes efeitos colaterais do medicamento composto por comprimidos e
injeções periódicas.
Ela passou a sofrer irritação nervosa e depressão. A
medicação podia causar, ainda, outras doenças, como a anemia.
Mas desde o fim do ano passado, Helenisar voltou a acreditar na possibilidade de se ver livre da hepatite C.
Ela foi a primeira paciente do SUS a receber sufosbuvir e o daclatasvir,
que compõem o novo tratamento para a doença.
Distribuído gratuitamente
pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os medicamentos têm mudado, aos
poucos, a vida de portadores da doença.
“O tratamento era horrível. Era buscar mais dores para dentro do corpo”, recorda. “Agora, eu tomo saúde”, compara.
Em 2015, o novo tratamento passou a se importado pelo Ministério da
Saúde de Canadá, Estados Unidos e Holanda.
O primeiro lote para atender
30 mil pacientes do SUS recebeu investimento de R$ 1 bilhão.
O
ministério obteve desconto de 420% devido ao volume comprado em relação à
média paga por outros países pelos mesmos medicamentos. A Dinamarca,
por exemplo, gasta de US$ 82 mil a US$ 92 mil por paciente, enquanto o
Brasil investe US$ 9,6 mil em cada tratamento.
Helenisar é uma dos cem pacientes atendidos pelo SUS com o novo
medicamento no Distrito Federal, ao lado do bibliotecário Guaracy José
Bueno Vieira, 55 anos, e o militar aposentado Moacir Martins de Sousa,
51 anos.
Todos eles se dizem com mais qualidade de vida após o novo
tratamento e sem as picadas de agulha do medicamento anterior. “Só de
tomar ele e não ter dor nenhuma para mim já é tudo”, diz a costureira.
A hepatite C pode evoluir dos estágios F1 e F2 (fibrose), F3 (fibrose
avançada) até o F4 (cirrose). Helenisar e Moacir são portadores da
hepatite C no estágio F4 e, por isso, vão enfrentar o novo tratamento
por seis meses.
Depois desse período, eles vão esperar mais três meses
para fazer o exame para saber se estarão curados.
Guaracy tem a doença
em estágio F1 e vai tomar os medicamentos por três meses. “Esse remédio
(novo) vai me curar”, confia a costureira.
A farmacêutica de componente especializado Renata Cavalcati Capeli,
do Hospital Dia do Distrito Federal, afirma que o tratamento anterior em
muitos casos era abandonado pelos pacientes devido aos efeitos
colaterais e tinha baixo potencial de cura real.
“O índice de cura já foi de 30% e depois foi para 70%. Com a nova geração de medicamentos, a chance de cura está girando entorno de 90%. É outra realidade. Antigamente agente curava 30 (pacientes de cada cem) e 70 continuavam doentes”, diz.
A hepatite C pode ter afetado em maior escala os nascidos antes
de 1993, quando a doença começou a ser diagnosticada.
O principal grupo
potencial de infectados são os nascidos entre 1945 e 1965 que fizeram
transfusão de sangue, tatuagem ou mesmo os que usaram drogas injetáveis.
"Até o esmalte da manicure pode passar a hepatite C, porque ele mantém o vírus vivo por algum tempo", observa a farmacêutica.
O SUS passou a fazer o teste rápido de identificação em 2011.
Somente no ano passado, foram realizados 3 milhões de exames e cerca de
16 mil pessoas foram tratadas na rede pública de saúde.
Dores ficaram no passado
Moacir afirma que o interferon, medicamento injetado antes
na barriga, causava fortes dores pelo corpo.
“Era como se tivesse sido atropelado ou tivesse feito muita atividade física num dia e no outro tivesse todo arrebentado”, conta. “Esse novo medicamento é tranquilo”, afirma.
O militar descobriu a doença em 2005 e precisou mudar o estilo de
vida para evitar complicações, o que não o impediu de desenvolver
cirrose.
“Para mim era uma doença simples. Aí quando descobri, fui ler a respeito e caí na real, caiu a ficha”, conta.
Assim como Helenisar, Moacir toma um coquetel de 6 comprimidos por dia, sendo um de sufosbuvir, outro de daclatasvir e quatro ribavirina – cuja fabricação é nacional.
A hepatite C é uma doença silenciosa e grave, que pode se manifestar
apenas depois de muito tempo em estado já avançado a partir da cirrose e
o câncer no fígado.
Guaracy, por exemplo, descobriu a doença
somente em 2011, cerca de 40 anos depois de ter feito uma transfusão de
sangue durante uma cirurgia cardíaca.
“Fiquei em pânico, porque achava que era uma doença que matava rapidamente”, recorda.
O bibliotecário iniciou, então, o tratamento antigo e, apenas
três semanas depois, precisou interromper a medicação em função do efeito agressivo do tratamento anterior tê-lo levado a desenvolver asma.
“O que mais me incomodava era náusea aliada à fome, muita dor de cabeça e também depressão. Esse novo medicamento só dá uma leve dor de barriga. É uma diferença brutal, quase nenhum efeito colateral” relata comparando.
Guaracy termina o tratamento em fevereiro. Ele vai esperar 90 dias
para fazer o exame que mede o nível de vírus C (HCV) para saber se foi
curado, o que deve ocorrer no final de maio.
“Eu acredito que posso vir a me curar definitivamente e que a hepatite C vai ser uma virada”, confia.
Fonte: Portal Brasil.
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