O tratamento da doença periodontal em pessoas com síndrome de Down
ainda é pouco estudado, apesar das características específicas dos
pacientes, como a resposta imunológica deficiente que favorece o avanço
da infecção na gengiva.
Para entender melhor essa situação, o
cirurgião-dentista Rafael Ferreira analisou 33 pacientes que fizeram o
tratamento periodontal convencional.
O estudo também testou em parte do grupo a terapia fotodinâmica
antimicrobiana (aPDT), um tratamento auxilar à base de laser e corante
para conter a infecção.
A pesquisa realizada na Faculdade de Odontologia
de Bauru (FOB) da USP ressalta também a importância da presença de seus
cuidadores no consultório para receberem instrução adequada sobre
higiene oral.
Doença periodontal é uma doença infecto-inflamatória que atinge
os tecidos ao redor dos dentes, como gengiva, cemento, ligamento
periodontal e osso alveolar.
“Ela ocorre a partir da presença de biofilme dentário, composto por diversos microrganismos, principalmente bactérias. Inicialmente, é caracterizada por um quadro de gengivite, sendo que a gengiva fica bem vermelha e inchada, com possibilidade de sangramento espontâneo, além de halitose, ou seja, mau hálito”, conta o cirurgião-dentista.
A progressão e desenvolvimento de sua forma mais severa, a
periodontite, ocorre devido a diversos fatores do paciente, como fumo,
diabetes e alterações genéticas, dentre outros.
“A periodontite leva a mobilidade dentária e se não tratada pode ocasionar a perda do dente além de comprometer a saúde geral do paciente”, ressalta Ferreira.
Participaram do estudo pessoas com idades de 15 a 65 anos, com média de
idade de 27 anos. A pesquisa teve a orientação da professora doutora
Carla Andreotti Damante.
O cirurgião-dentista aponta que pessoas com síndrome de Down
apresentam prejuízo na resposta imunológica .
“Quando um agente agressor como a bactéria da doença periodontal entra em contato com a gengiva, haverá uma resposta deficiente por parte do paciente, devido ao comprometimento do sistema imunológico. Desse modo, a doença se desenvolve de forma mais rápida e severa do que em pacientes que não são sindrômicos”, afirma.
Terapia fotodinâmica
O tratamento básico em periodontia consiste na remoção da
inflamação, ou seja, do biofilme dentário (placa) e de cálculo
(tártaro), dos dentes por meio da raspagem e alisamento corono-
radicular (da coroa a raiz dos dentes), profilaxia profissional
(limpeza) e instrução de higiene oral, que é fornecida aos pacientes e
cuidadores.
“O tratamento periodontal convencional de raspagem foi realizado com curetas (instrumentos cirúrgicos) manuais para remoção de placa abaixo (subgengival) ou acima (supregengival) da gengiva. Depois da remoção, é feita a profilaxia com escova e pasta específicas para diminuir a infecção”, descreve Ferreira.
A pesquisa avaliou a terapia fotodinâmica antimicrobiana como
auxiliar ao tratamento convencional. Por meio dessa técnica, é feita a
aplicação de um corante (azul de metileno) no espaço entre os dentes e a
gengiva, conhecido como sulco gengival.
“Quando o paciente tem a doença, no local há a formação das bolsas periodontais. Em seguida, um laser com ponta de fibra óptica é colocado nesse espaço e faz com que o corante tenha uma reação fotoquímica. A reação dá origem a espécies reativas de oxigênio, que destroem e diminuem a concentração de bactérias, vírus, fungos e parasitas, além de não induzir a resistência das bactérias”, descreve o cirurgião dentista
De acordo com Ferreira, a terapia fotodinâmica teve resultados
similares ao do tratamento periodontal convencional.
“Independente da forma como o paciente é tratado, é muito importante a manutenção correta de tudo o que é feito no consultório em casa. Por isso, em casos de pessoas com síndrome de Down, o envolvimento dos cuidadores é fundamental para o êxito da terapia. Mesmo não havendo essa diferença, a terapia com laser associado ao corante é uma opção disponível para tratar a doença periodontal em paciente com síndrome de Down”, ressalta.
O estudo aponta, com base em uma revisão sistemática da literatura
científica sobre o tema, que a frequência ideal no consultório do
dentista durante o tratamento periodontal é de 15 dias, sempre com a
presença dos responsáveis pelo paciente.
“É essencial que os pais e cuidadores estejam sempre atentos à supervisão e a complementação da higienização oral, qualquer que seja a idade do paciente, para que ela seja feita de forma adequada. A higienização inclui escovação e o uso do fio dental", diz o cirurgião dentista.
Fonte: Agência USP de Notícias
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