2 de jun. de 2016

Presidente do CPB fala sobre desafios dos Jogos Paralímpicos do Rio

 

Os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, que serão disputados semanas depois dos Jogos Olímpicos, devem contribuir para modificar a percepção que a sociedade tem das pessoas com deficiência – estimou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons.


A 100 dias do evento (que acontece de 7 a 18 de setembro), o responsável – que também é vice-presidente do Comitê Paralímpico Internacional (CPI) – reconheceu à Agence France-Presse (AFP) a dificuldade de encher os estádios e defendeu que a inclusão social é fundamental para as pessoas com deficiência no Brasil e na América Latina.


PERGUNTA: O CPI tem mostrado preocupação com as fracas vendas de ingressos para os Jogos Paralímpicos do Rio. Como se pode reverter isso?

 
RESPOSTA:
Devemos tomar mais iniciativas em termos de comunicação, em particular durante o período de transição (entre os Jogos Olímpicos e Paralímpicos). Temos uma forte dinâmica graças à rota da tocha olímpica e, depois, os Jogos. Mas devemos procurar escolas e igrejas, assim como outras regiões diferentes do Rio. Os espectadores dos Paralímpicos não serão estrangeiros, e sim brasileiros. Temos mais meios do que nunca e uma imagem que está se fortalecendo no mundo. Mas é certo que nossa principal preocupação são os ingressos.


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P: O que o esporte pode fazer para a integração das pessoas com deficiência no Brasil?

R:
Depois de ter conseguido, pela primeira vez, transmitir ao vivo todos os Jogos Paralímpicos de Atenas (em 2004), temos heróis nacionais. Isso ajudou consideravelmente a modificar a percepção da sociedade brasileira. Essa nova percepção deve se traduzir em ações concretas, mas já vejo algumas, como a transformação da rede de transporte público do Rio. No ano passado, uma nova lei ocupou inúmeros aspectos da vida das pessoas com deficiência, desde a moradia até o acesso ao mercado de trabalho, passando pelos transportes. O esporte olímpico mostrou essas pessoas ao mundo, ao invés de escondê-las. Vejo os Jogos Olímpicos como um catalisador. O Rio não vai se tornar 100% acessível [para as pessoas com deficiência]. Nenhuma cidade do mundo é. Mas a situação melhorou. Quando mostro as lindas imagens do esporte paralímpico nas escolas, ou comunidades, e lhes pergunto o que veem, todos respondem: grandes atuações, velocidade, superação (…). Ninguém menciona a deficiência, porque, nesse contexto, não é importante. O esporte põe a deficiência em perspectiva.


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P: Os Jogos Paralímpicos perdem o dinamismo, devido ao grande número de categorias que dividem as competições e as fazem complexas para o público. Como poderia melhorar esse aspecto?
 
R: São os mesmo princípios de quando separam homens e mulheres nos Jogos Olímpicos. Existem também categorias de peso no boxe e no judô. Claro que sempre podemos tentar simplificar, mas é algo com que os meios de comunicação devem lidar. Isso não atrapalha o desenvolvimento da imagem do esporte.


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P: Quais são os objetivos do Brasil nos Jogos Paralímpicos?
 
R: A quinta colocação na classificação de medalhas, depois de ter terminado em sétimo, em Londres, e em nono, em Pequim. Mas a verdadeira referência será ver mais pessoas com deficiência começarem a praticar esportes. Esse é nosso objetivo final.


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P: Londres marcou a história dos Paralímpicos. O que perdurará do Rio?
 
R: O feito de organizarmos pela primeira vez os Jogos na América Latina. É uma parte do mundo onde o esporte paralímpico é necessário. Em muitos países, os cidadãos que vivem com deficiência têm um longo caminho para percorrer antes de serem respeitados. Quem tem deficiência pode ser um bom profissional, um bom chefe, uma boa esposa. 


Assim, não podemos dizer a ele “Vou te dar tudo, tem todos os direitos, mas vou te colocar aqui, em um canto”.

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