A participação do Brasil nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro
tem um sabor especial porque as competições serão em casa, mas também
porque a delegação brasileira está presente nas 22 modalidades.
E vai
competir com força máxima para ficar entre os cinco melhores do torneio
no quadro geral de medalhas.
“Temos uma seleção forte e vamos para realmente competir em todas as modalidades”, disse o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e vice-presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), Andrew Parsons, em entrevista ao #blogVencerLimites durante o evento de apresentação e convocação da delegação brasileira, realizado no último dia 19 de julho no Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro.
Parsons comandou a cerimônia de entrega das credenciais para 22
atletas que representaram a equipe de 278 convocados para os Jogos.
“Materializar a delegação dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 é um momento muito importante para o Comitê Paralímpico Brasileiro. Será a maior e melhor delegação paralímpica brasileira de todos os tempos”, ressaltou. O #blogVencerLimites acompanhou o evento a convite da Nissan.
Vencer Limites – Qual a sua avaliação sobre os recursos de
acessibilidade construídos no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos e
Paralímpicos?
Andrew Parsons – As instalações esportivas,
obviamente, contemplam todas as necessidades de acessibilidade. Foram
construídas a partir do zero ou adaptadas a partir de equipamentos que
já existiam, criados para o Parapan de 2007. O prefeito conseguiu
aproveitar a oportunidade dos Jogos mais do que encarar o desafio. É
claro que não vai ficar perfeito do dia para a noite. Existem desafios
imensos como, por exemplo, uma favela. Como você acessibiliza uma
favela? Uma pessoa que usa cadeira de rodas e mora em uma favela é,
muitas vezes, prisioneira dentro da própria casa. Mas houve muito avanço
no transporte. Hoje, e após os Jogos, a pessoa com deficiência poderá
transitar melhor pelo Rio de Janeiro. Houve grande investimento nas
calçadas, nas estações de metrô, principalmente nas mais novas. O
fundamental é que continue avançando. Não pode parar de ampliar as
acessibilidade quando os Jogos acabarem. O evento tem que ser um
catalizador, um agente de mudança para o poder público e a iniciativa
privada. O dono de um restaurante, por exemplo, pode instalar uma rampa,
apresentar cardápios em braile, em português e inglês. Ao menos um. É
fundamental pensar na pessoa com deficiência como um cidadão, um
consumidor de bens e de serviços. De nada adianta a pessoa com
deficiência poder ir para rua, usar o transporte, mas não conseguir
acessar um shopping, um teatro, um salão de cabeleireiro, porque ela não
consegue exercer a sua cidadania.
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Vencer Limites – É esse o legado dos Jogos?
Andrew Parsons – É o legado intangível que, para nós, é
mais importante do que o legado tangível. Claro que queremos a plena
acessibilidade, mas nós queremos também uma mudança nessa percepção.
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Vencer Limites – O senhor percebe uma mudança de mentalidade sobre a pessoa com deficiência a partir dos Jogos?
Andrew Parsons – O esporte paralímpico vem ajudando
nesse aspecto desde 2004, quando nós conseguimos transmitir pela
primeira vez os Jogos Paralímpicos. É um processo lento, gradual, que
não tem a velocidade e a intensidade que gostaríamos. A questão da
performance dos atletas paralímpicos ajuda a mudar a mentalidade do
cidadão comum, que tem filhos, e esses filhos vão crescer com uma
avaliação diferente, serão os tomadores de decisão no futuro, nas
empresas, nos governos, no setor de serviços. Estamos cultivando
gerações que terão uma percepção diferente sobre esse universo.
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Vencer Limites – O investimento no esporte paralímpico tem
avançado de forma constante. E todos os países, inclusive o Brasil,
caminham na mesma velocidade. O senhor concorda com essa avaliação? O
Brasil está atualizado?
Andrew Parsons – O Brasil é um dos líderes desse
processo, a partir de boas iniciativas. Em 2004, por exemplo, o Comitê
Paralímpico se aproximou dos meios de comunicação. Os resultados são
evidente. Atletas que não conheciam o esporte paralímpico passaram a
conhecer, houve uma profissionalização das comissões técnicas, e também
conseguimos um bom relacionamento com diferentes níveis de governo e de
poder. Muitas conquistas paralímpicas no Brasil foram possíveis por
causa de mudanças na legislação. Esse trabalho é importante, mas precisa
de credibilidade e isso é obtido com resultado, transparência e gestão.
Nós damos aos atletas a melhor preparação possível. Eles precisam
responder e têm respondido. O esporte paralímpico tem sim crescido no
mundo todo, mas o Brasil é um dos líderes.
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Vencer Limites – Qual o diferencial do Brasil no esporte paralímpico?
Andrew Parsons – Investimento, planejamento e gestão. É
importante você saber o que quer, quanto isso custa, obter os recursos e
administrar bem esse dinheiro. Não é simples, porque o esporte muda,
evolui, cresce, novas tecnologias surgem para treinamento, equipamentos.
Surge algum fenômeno. Após as conquistas do Clodoaldo Silva, depois das
mudanças de classe entre Atenas e Pequim, todos imaginaram que o Brasil
iria afundar, mas surgiu o Daniel Dias. No esporte paralímpico, mais do
que o olímpico, surgem grandes fenômenos. É conseguir manter a
credibilidade para que os investimentos sejam mantidos no longo prazo.
Um dos nossos principais patrocinadores (Caixa Loterias) já tem 12 anos.
É uma das parcerias mais longas do esporte no Brasil. Isso é
credibilidade. O investimento aumenta porque entregamos resultados. E ao
alavancar mais recursos, temos que saber o que fazer com esses
recursos, porque o dinheiro é um meio.
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Vencer Limites – No Jogos do Rio, o Brasil vai competir nas 22 modalidades paralímpicas?
Andrew Parsons – Sim, temos uma seleção forte e vamos para realmente competir em todas as modalidades. Nós investimentos nas 22, com calendários nacional e internacional. Queremos dar o maior número possível de oportunidades para as pessoas com deficiência atingirem o alto rendimento na modalidade esportiva que elas quiserem e puderem. Investimos inclusive nos esportes de inverno.
Andrew Parsons – Sim, temos uma seleção forte e vamos para realmente competir em todas as modalidades. Nós investimentos nas 22, com calendários nacional e internacional. Queremos dar o maior número possível de oportunidades para as pessoas com deficiência atingirem o alto rendimento na modalidade esportiva que elas quiserem e puderem. Investimos inclusive nos esportes de inverno.
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Vencer Limites – Quais exemplos de outros países que o Brasil
pode usar para ampliar resultados no esporte paralímpico e na
acessibilidade em geral? E o que nós temos de positivo para mostrar ao
mundo?
Andrew Parsons – Temos uma interação muito forte com
outros comitês paralímpicos e cada um tem bons exemplos. Nos Estados
Unidos existe uma grande participação da iniciativa privada. A
Grã-Bretanha pode ensinar sobre organização e sobre como aproveitar o
legado dos Jogos. China e Rússia têm investimentos maciços, com os quais
não podemos competir, mas nós fomos lá para aprender sobre os grandes
centros de treinamento. Existem países menores, como a Irlanda, que têm
estruturas muito interessantes, de gestão e de comunicação. E o que o
Brasil pode ensinar é, fundamentalmente, sobre planejamento de longo
prazo, sobre colocar o atleta paralímpico no centro da atenção, com tudo
feito para o benefício do atleta, no longo prazo. Se conseguimos mais
R$ 10 de qualquer patrocinador, nós sabemos exatamente onde esse recurso
será usado para beneficiar o atleta. Podemos ensinar também sobre como a
aproximação com os meios de comunicação é fundamental. E os
relacionamentos com os vários níveis de governo. Muito do que
conquistamos passou pelo Legislativo e pelo Executivo. Nesse detalhe,
damos banho nos outros países.
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Fonte: Blog Vencer Limite
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