28 de jul. de 2016

“O Brasil é um líder mundial no desenvolvimento do esporte paralímpico”

Andrew Parsons comandou a cerimônia de entrega das credenciais para 22 atletas que representaram a equipe de 278 convocados para os Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Imagem: Divulgação


A participação do Brasil nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro tem um sabor especial porque as competições serão em casa, mas também porque a delegação brasileira está presente nas 22 modalidades


E vai competir com força máxima para ficar entre os cinco melhores do torneio no quadro geral de medalhas.


“Temos uma seleção forte e vamos para realmente competir em todas as modalidades”, disse o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e vice-presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), Andrew Parsons, em entrevista ao #blogVencerLimites durante o evento de apresentação e convocação da delegação brasileira, realizado no último dia 19 de julho no Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro.


Parsons comandou a cerimônia de entrega das credenciais para 22 atletas que representaram a equipe de 278 convocados para os Jogos. 


Materializar a delegação dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 é um momento muito importante para o Comitê Paralímpico Brasileiro. Será a maior e melhor delegação paralímpica brasileira de todos os tempos”, ressaltou. O #blogVencerLimites acompanhou o evento a convite da Nissan.


Vencer Limites Qual a sua avaliação sobre os recursos de acessibilidade construídos no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos?

Andrew Parsons As instalações esportivas, obviamente, contemplam todas as necessidades de acessibilidade. Foram construídas a partir do zero ou adaptadas a partir de equipamentos que já existiam, criados para o Parapan de 2007. O prefeito conseguiu aproveitar a oportunidade dos Jogos mais do que encarar o desafio. É claro que não vai ficar perfeito do dia para a noite. Existem desafios imensos como, por exemplo, uma favela. Como você acessibiliza uma favela? Uma pessoa que usa cadeira de rodas e mora em uma favela é, muitas vezes, prisioneira dentro da própria casa. Mas houve muito avanço no transporte. Hoje, e após os Jogos, a pessoa com deficiência poderá transitar melhor pelo Rio de Janeiro. Houve grande investimento nas calçadas, nas estações de metrô, principalmente nas mais novas. O fundamental é que continue avançando. Não pode parar de ampliar as acessibilidade quando os Jogos acabarem. O evento tem que ser um catalizador, um agente de mudança para o poder público e a iniciativa privada. O dono de um restaurante, por exemplo, pode instalar uma rampa, apresentar cardápios em braile, em português e inglês. Ao menos um. É fundamental pensar na pessoa com deficiência como um cidadão, um consumidor de bens e de serviços. De nada adianta a pessoa com deficiência poder ir para rua, usar o transporte, mas não conseguir acessar um shopping, um teatro, um salão de cabeleireiro, porque ela não consegue exercer a sua cidadania.


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Vencer Limites É esse o legado dos Jogos?  

Andrew Parsons É o legado intangível que, para nós, é mais importante do que o legado tangível. Claro que queremos a plena acessibilidade, mas nós queremos também uma mudança nessa percepção.


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Vencer Limites O senhor percebe uma mudança de mentalidade sobre a pessoa com deficiência a partir dos Jogos?

Andrew Parsons O esporte paralímpico vem ajudando nesse aspecto desde 2004, quando nós conseguimos transmitir pela primeira vez os Jogos Paralímpicos. É um processo lento, gradual, que não tem a velocidade e a intensidade que gostaríamos. A questão da performance dos atletas paralímpicos ajuda a mudar a mentalidade do cidadão comum, que tem filhos, e esses filhos vão crescer com uma avaliação diferente, serão os tomadores de decisão no futuro, nas empresas, nos governos, no setor de serviços. Estamos cultivando gerações que terão uma percepção diferente sobre esse universo.


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Vencer LimitesO investimento no esporte paralímpico tem avançado de forma constante. E todos os países, inclusive o Brasil, caminham na mesma velocidade. O senhor concorda com essa avaliação? O Brasil está atualizado?

Andrew Parsons O Brasil é um dos líderes desse processo, a partir de boas iniciativas. Em 2004, por exemplo, o Comitê Paralímpico se aproximou dos meios de comunicação. Os resultados são evidente. Atletas que não conheciam o esporte paralímpico passaram a conhecer, houve uma profissionalização das comissões técnicas, e também conseguimos um bom relacionamento com diferentes níveis de governo e de poder. Muitas conquistas paralímpicas no Brasil foram possíveis por causa de mudanças na legislação. Esse trabalho é importante, mas precisa de credibilidade e isso é obtido com resultado, transparência e gestão. Nós damos aos atletas a melhor preparação possível. Eles precisam responder e têm respondido. O esporte paralímpico tem sim crescido no mundo todo, mas o Brasil é um dos líderes.


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Vencer Limites Qual o diferencial do Brasil no esporte paralímpico?  

Andrew Parsons Investimento, planejamento e gestão. É importante você saber o que quer, quanto isso custa, obter os recursos e administrar bem esse dinheiro. Não é simples, porque o esporte muda, evolui, cresce, novas tecnologias surgem para treinamento, equipamentos. Surge algum fenômeno. Após as conquistas do Clodoaldo Silva, depois das mudanças de classe entre Atenas e Pequim, todos imaginaram que o Brasil iria afundar, mas surgiu o Daniel Dias. No esporte paralímpico, mais do que o olímpico, surgem grandes fenômenos. É conseguir manter a credibilidade para que os investimentos sejam mantidos no longo prazo. Um dos nossos principais patrocinadores (Caixa Loterias) já tem 12 anos. É uma das parcerias mais longas do esporte no Brasil. Isso é credibilidade. O investimento aumenta porque entregamos resultados. E ao alavancar mais recursos, temos que saber o que fazer com esses recursos, porque o dinheiro é um meio.


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Vencer Limites No Jogos do Rio, o Brasil vai competir nas 22 modalidades paralímpicas?

Andrew Parsons Sim, temos uma seleção forte e vamos para realmente competir em todas as modalidades. Nós investimentos nas 22, com calendários nacional e internacional. Queremos dar o maior número possível de oportunidades para as pessoas com deficiência atingirem o alto rendimento na modalidade esportiva que elas quiserem e puderem. Investimos inclusive nos esportes de inverno.


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Vencer Limites – Quais exemplos de outros países que o Brasil pode usar para ampliar resultados no esporte paralímpico e na acessibilidade em geral? E o que nós temos de positivo para mostrar ao mundo?

Andrew Parsons Temos uma interação muito forte com outros comitês paralímpicos e cada um tem bons exemplos. Nos Estados Unidos existe uma grande participação da iniciativa privada. A Grã-Bretanha pode ensinar sobre organização e sobre como aproveitar o legado dos Jogos. China e Rússia têm investimentos maciços, com os quais não podemos competir, mas nós fomos lá para aprender sobre os grandes centros de treinamento. Existem países menores, como a Irlanda, que têm estruturas muito interessantes, de gestão e de comunicação. E o que o Brasil pode ensinar é, fundamentalmente, sobre planejamento de longo prazo, sobre colocar o atleta paralímpico no centro da atenção, com tudo feito para o benefício do atleta, no longo prazo. Se conseguimos mais R$ 10 de qualquer patrocinador, nós sabemos exatamente onde esse recurso será usado para beneficiar o atleta. Podemos ensinar também sobre como a aproximação com os meios de comunicação é fundamental. E os relacionamentos com os vários níveis de governo. Muito do que conquistamos passou pelo Legislativo e pelo Executivo. Nesse detalhe, damos banho nos outros países.


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