A Agência Nacional de Cinema (ANCINE) anunciou, no dia 17/9, a
instrução normativa que obriga as salas comercias de cinema do país a
oferecer, num prazo de dois anos, condições para que pessoas com
deficiência visual e auditiva possam ver um filme na mesma sessão de
outros espectadores.
O temor de parcela dos empresários sobre o custo dessa adequação é
irreal, de acordo com Lívia, professora doutora em Linguística Avançada
que realiza eventos culturais com audiodescrição.
“(O custo) será muito pequeno se consideramos o tamanho desse público”, enfatiza, ao destacar que 25% da população brasileira têm algum tipo de deficiência.O público é enorme, se considerarmos que, além de pessoas com deficiência visual e auditiva, há ainda aqueles com deficiência intelectual e idosos, que também irão se beneficiar dos recursos”, registra Lívia, que ajudou a implantar o primeiro curso de especialização em audiodescrição do Brasil, na Universidade Federal de Juiz de Fora.
Para Lívia, a questão da acessibilidade “não tem mais volta”,
comemorando a importante vitória conquistada com a publicação da
instrução normativa 128/2016.
“Os produtores que já realizaram eventos para esse público sabem de seu potencial e sempre querem repetir a experiência”, afirma a professora, que recentemente fez o trabalho de audiodescrição para o DVD do filme “Meu Amigo Hindu”.
Inclusão
A vitória, endossa Lívia, é sobre um sistema que impedia, por
exemplo, pessoas a assistirem a um filme que acabou de ser lançado nas
telonas.
“A gente sabe como a arte pode ser transformadora e inspiradora. Era muito triste ver uma pessoa morta de vontade de ver um filme aguardado e não poder ir, excluído de um produto que tanto quer ir”.
Quando promove seus eventos culturais, a produtora, que é mineira de
Itajubá, gosta de ficar num canto escuro da sala, observando as reações
da plateia.
“Elas são iguais aos outros, com risadas, lágrimas, surpresa e espanto. É muito emocionante e nos faz pensar quantos detalhes deixam de apreender por falta de recursos de acessibilidade”, descreve.
Em 14 meses, metade das salas de cada grupo exibidor deverá oferecer
recursos de legendagem, legendagem descritiva, audiodescrição e Língua
Brasileira de Sinais
A grande dúvida sobre a adequação das salas de cinema para abrigar
recursos de acessibilidade, como legendagem descritiva, audiodescrição e
Língua Brasileira de Sinais (Libras), é a tecnologia que será usada.
Uma câmara técnica está sendo montada pela Ancine para definir o padrão.
“A medida é muito bem-vinda, porque, além de inclusiva, ela representa a possibilidade de agregar novos consumidores ao mercado. Mas também é complexa, exigindo um pacto entre produtores, distribuidores e exibidores”, afirma Adhemar Oliveira, proprietário da sala Belas Artes.
Aplicativo
Em vários países, o recurso mais utilizado é um aplicativo que o
espectador baixa em seu celular, que, sincronizado com a projeção,
apresenta os vários recursos.
No caso de surdos, há ainda a
possibilidade de uso de um óculos especial, em que o sistema de Libras é
mostrado num canto da lente.
Adhemar, que tem uma rede de cinemas no país, deixa um ponto de
interrogação em relação aos filmes de arte, distribuídos por empresas
pequenas e que têm menor retorno financeiro.
“Ele salienta que esse tipo de custo é diluído na quantidade de cópias.O custo pode ficar pesado para eles, por isso a câmara técnica deve pensar em soluções que custem menos.Se um filme é lançado em mil posições (salas), um valor hipotético de R$ 15 mil não é nada. Mas se lançado em apenas seis posições, é muita coisa. Se é uma medida inclusiva, ela não pode excluir o pequeno distribuidor”, pondera.
Lívia Motta registra que há um número considerável de profissionais
para atender a demanda.
“Um profissional preparado traduz a imagem em palavra, sem filtragens, diferentemente de uma pessoa que fica ao seu lado contando o que está acontecendo, filtrando a percepção”, compara a especialista.
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