27 de set. de 2016

Surdos rompem barreira do silêncio e viram empresários





No dia 26 de setembro, foi celebrado o Dia Nacional do Surdo e de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,1% da população brasileira tem algum tipo de deficiência auditiva. 


Em 2010, Sergipe possuía 3.278 pessoas com surdez total, 20.108 tinham grande dificuldade e 88.376 têm algum tipo de deficiência auditiva.


Por muito tempo, esta parcela da sociedade viveu presa a preconceitos e a margem das políticas sociais. Aos poucos, ela conquista espaços significativos chegando a postos antes só alcançados por pessoas sem deficiência.


Há cerca de oito meses, Breno Nunes, de 23 anos, que é estudante de Letras Libras encarou o momento de recessão da economia brasileira e abriu uma gelateria na capital sergipana. 


“Realizei meu sonho. Sempre falei para os surdos que nós podem ser aquilo que desejamos, até ser empresário. O surdo pode tudo, precisa apenas de conhecimento e oportunidade”, declarou emocionado.


Antes de tirar a ideia do papel, ele fez pesquisa de mercado, passou por cursos e consultorias fora do estado e só então escolheu o negócio. 


A empresa dele não é espaço apenas para ganhar dinheiro e sim quebrar preconceito, mostrar que ser pessoa surda não é ser incapaz.


“Quero que a gelateria seja uma marca capaz de representar a inclusão do surdo de forma produtiva, além de ser meio de integração entre surdos e ouvintes. Quero quebrar o preconceito em relação à capacidade empreendedora da nossa comunidade”, pontuou o jovem.


Apesar da pouca experiência no ramo de administração, Breno aprendeu rápido a lição do mercado. É ele quem produz, vende e administra o pequeno negócio que tem dois funcionários. Com o empreendimento ganhando novos clientes a cada dia, ele já faz planos.


“Atualmente penso em sempre ter mais pessoas surdas trabalhando comigo e no futuro quero franquear a abertura de gelaterias em outras localidades”, disse.


Para a professora e escritora Rita Souza, que tem pós doutorado em inclusão social, a comunicação ainda é o maior entrave enfrentado pela comunidade surda no momento de pleitear uma vaga no mercado de trabalho, mesmo demonstrando ao longo da história que são capazes.


“Eles têm cada vez mais montado seus próprios negócios porque nem sempre conquistam espaço no mercado de trabalho, mas têm clareza sobre suas potencialidades”, afirmou Rita.


Foi o que ocorreu com Renata Barbosa, 38 anos, que é formada em designer gráfico e pós graduada em Libras.


“Tive a oportunidade de trabalhar em uma empresa, porém, os demais funcionários não conseguiram ou não tinham interesse em interagir comigo”, lamentou.


Há 8 anos ela abriu uma empresa de serviços de fotografia e diagramação de álbuns. Ela conta que a barreira da comunicação foi superada, mas ainda enfrenta muito preconceito quando é chamada para fazer um trabalho.


“Nossa maior dificuldade está nas pessoas confiarem no trabalho da pessoa com deficiência auditiva. Elas ainda não estão preparadas para lidar com a gente. Infelizmente estamos longe dessa tão falada inclusão social. Muito embora, os clientes que já nos contrataram e nos elogiaram como profissional”, relata Barbosa.

Renata trabalha com duas pessoas com deficiência auditiva, além de uma ouvinte que ajuda na comunicação com os clientes interpretando a Língua Brasileira de Sinais (Libras). 


“Na adolescência já havia feito um curso de fotografia e comecei trabalhando como freelancer para vários fotógrafos. Depois resolvi trabalhar na área”, contou.


Quem já se deixou ser fotografada pelas lentes da Renata mostra satisfação pelo resultado. 


“Gostei muito do trabalho dela que fez algumas fotos minhas e para o jornal do qual sou diretora. Agora, minha filha contratou os seus serviços da Renata para fazer o ensaio fotográfico dos 20 anos.Quanto a deficiência não tivemos problema algum e o tratamento foi bem melhor do que muitos ouvintes. É lamentável que muitas pessoas ainda tenham preconceito. Renata é uma grande profissional”, declarou a jornalista Aída Brandão.

Organizados



A comunidade surda da capital de Sergipe mostra-se bastante atuante e organizada em grupos como o Centro de Surdo de Aracaju (CESAJU), que é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em agosto de 2013, comprometida com a defesa dos direitos das pessoas surdas.


O Centro também atua no desenvolvimento intelectual e profissional da cultura surda através de palestras de motivação e cursos que ajudam na qualificação e entrada no mercado de trabalho.


Força da Lei



Nos últimos anos, algumas empresas da Grande Aracaju passaram a desenvolver programas de inclusão social adotando em seus quadros de colaboradores pessoas com deficiência.


Muitas motivadas pela Lei 8.213/1991 que obrigava as empresas com 100 ou mais empregados a destinar de 2% a 5% das vagas as pessoas com deficiência.


Atualmente, uma empresa de peças automotivas instalada em Nossa Senhora do Socorro mantém no quadro de funcionários 80 pessoas com deficiência, sendo 35% com algum tipo de deficiência auditiva.


Para reforçar a luta das pessoas com deficiência, em janeiro de 2016 entrou em vigor no Brasil a Lei 13.146, também conhecida Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que assegura os diretos da pessoa com deficiência


“Ela coloca a pessoa com deficiência num nível de respeito. Retira a ideia de deficiência associada a doença e a põe num patamar da pessoa humana”, explica o representante do Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência, Beto Pereira.

Antes dela, a comunidade surda do país já tinha conquistado alguns avanços que ajudaram no processo educativo e consequentemente abriram portas no mercado de trabalho.


Em 2002, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida pela Lei 10.436 como a segunda língua oficial do Brasil e regulamentada pelo Decreto 5.626 de 2006.




 

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