20 de jan. de 2015

Empreendedorismo pode ser boa opção para quem tem deficiência

Foto de um cadeirante com um notebook no colo

Luana Cavalcante, 21, vai cursar o último semestre de um curso de graduação em moda no Rio de Janeiro neste ano. 


Mas, apesar de ter inscrito seu currículo em sites de emprego, não fez estágio em nenhuma empresa.


Isso porque, quando contava que tinha paralisia cerebral (ela usa andador e cadeira de rodas) as vagas abertas se fechavam, diz.


Sua alternativa foi criar a própria empresa, a Sweet Angels, que faz roupas pensadas para quem tem alguma deficiência – como shorts com velcros laterais.


Exemplos assim, em que o empreendedorismo surge como boa opção profissional para quem tem deficiência, aparecem no livro "Empreendedorismo Sem Fronteiras" (Alta Books), lançado neste mês. A obra é escrita por Cid Torquato e Fernando Dolabela, autor do best-seller "O Segredo de Luísa" (Sextante).


Segundo os autores, a vantagem de ter o próprio negócio está na possibilidade de definir com autonomia o ambiente de trabalho e as rotinas e tarefas que se vai ter, o que nem sempre é possível em um emprego.


Os desafios para crescer no mercado de trabalho podem começar logo na hora de conseguir um emprego.


Andrea Schwarz, 38, fundadora da consultoria i.Social (especializada em recrutamento de pessoas com deficiência), diz que, das 400 vagas que a companhia tem para preencher para clientes, apenas 3 não contêm nenhuma restrição a deficiências mais severas.


"Muitas empresas dizem que não estão preparadas e não podem receber cegos, surdos ou cadeirantes. Querem pessoas com deficiência que não precisam de rampa de acesso ou piso tátil."


A lei de cotas prevê que empresas com mais de cem funcionários reservem de 2% a 5% de suas vagas para pessoas com deficiência. Em 2013, havia 358,7 mil pessoas nessas vagas, segundo dados do Ministério do Trabalho.


Schwarz, que é cadeirante e assina a introdução do livro, diz acreditar que o empreendedorismo é uma opção, mas não deve ser visto como uma solução universal.


"A maior parte da população, com ou sem deficiência, não tem vocação para empreender. Eu mesma pensei em desistir mil vezes, os obstáculos são imensos."


Tempo próprio


Ter seu próprio ateliê de kirigami (técnica para criação de figuras tridimensionais com papel) foi a solução para Naomi Uezu, 47.


Com narcolepsia, doença que faz com que ela possa adormecer em qualquer situação, no início da vida profissional trabalhou em uma clínica médica como recepcionista e em um banco.


Porém os muitos apagões diários a faziam se sentir improdutiva e ela desistiu dos empregos. 


O ateliê foi aberto há 25 anos, após ela viajar para o Japão para se aperfeiçoar em sua técnica artística.


Uezu conta que, desde que passou a cuidar da própria rotina, os apagões são menos frequentes – ela separa tempo para cochilos durante o dia e antes de atividades importantes.

Onde atuam
 

Deficientes em SP maiores de dez anos
 

1,17 milhão de pessoas têm deficiência visual; 840,9 mil, física; 68,3 mil, intelectual; e 420,5 mil, auditiva

Economicamente ativos
 

Dos com deficiência visual, 44%; auditiva, 37%; física, 22%; intelectual, 19%

Empregados e empreendedores
 

Dos economicamente ativos, 89% estão ocupados. Desses, entre 23% e 27% empreendem

Perfil do empreendedor
 

Atuam por conta própria 94% e, como empregadores, 6%. De 60,1% a 71,8% ganham até R$ 1.020 por mês. Entre 42% e 54% trabalham em casa


 

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