Luana Cavalcante, 21, vai cursar o último semestre de um curso de graduação em moda no Rio de Janeiro neste ano.
Mas, apesar de ter inscrito seu currículo em sites de emprego, não fez estágio em nenhuma empresa.
Isso porque, quando contava que tinha paralisia cerebral (ela usa andador e cadeira de rodas) as vagas abertas se fechavam, diz.
Sua alternativa foi criar a própria empresa, a Sweet Angels, que faz roupas pensadas para quem tem alguma deficiência – como shorts com velcros laterais.
Exemplos assim, em que o empreendedorismo surge como boa opção profissional para quem tem deficiência, aparecem no livro "Empreendedorismo Sem Fronteiras" (Alta Books), lançado neste mês. A obra é escrita por Cid Torquato e Fernando Dolabela, autor do best-seller "O Segredo de Luísa" (Sextante).
Segundo os autores, a vantagem de ter o próprio negócio está na
possibilidade de definir com autonomia o ambiente de trabalho e as
rotinas e tarefas que se vai ter, o que nem sempre é possível em um
emprego.
Os desafios para crescer no mercado de trabalho podem começar logo na hora de conseguir um emprego.
Andrea Schwarz, 38, fundadora da consultoria i.Social
(especializada em recrutamento de pessoas com deficiência), diz que,
das 400 vagas que a companhia tem para preencher para clientes, apenas 3
não contêm nenhuma restrição a deficiências mais severas.
"Muitas empresas dizem que não estão preparadas e não podem receber
cegos, surdos ou cadeirantes. Querem pessoas com deficiência que não
precisam de rampa de acesso ou piso tátil."
A lei de cotas prevê que empresas com mais de cem funcionários reservem
de 2% a 5% de suas vagas para pessoas com deficiência. Em 2013, havia
358,7 mil pessoas nessas vagas, segundo dados do Ministério do Trabalho.
Schwarz, que é cadeirante e assina a introdução do livro, diz acreditar
que o empreendedorismo é uma opção, mas não deve ser visto como uma
solução universal.
"A maior parte da população, com ou sem deficiência, não tem vocação
para empreender. Eu mesma pensei em desistir mil vezes, os obstáculos
são imensos."
Tempo próprio
Ter seu próprio ateliê de kirigami (técnica para criação de figuras
tridimensionais com papel) foi a solução para Naomi Uezu, 47.
Com narcolepsia, doença que faz com que ela possa
adormecer em qualquer situação, no início da vida profissional trabalhou
em uma clínica médica como recepcionista e em um banco.
Porém os muitos apagões diários a faziam se sentir improdutiva e ela desistiu dos empregos.
O ateliê foi aberto há 25 anos, após ela viajar para o Japão para se aperfeiçoar em sua técnica artística.
O ateliê foi aberto há 25 anos, após ela viajar para o Japão para se aperfeiçoar em sua técnica artística.
Uezu conta que, desde que passou a cuidar da própria rotina, os apagões
são menos frequentes – ela separa tempo para cochilos durante o dia e
antes de atividades importantes.
Onde atuam
Deficientes em SP maiores de dez anos
1,17 milhão de pessoas têm deficiência visual; 840,9 mil, física; 68,3 mil, intelectual; e 420,5 mil, auditiva
Economicamente ativos
Dos com deficiência visual, 44%; auditiva, 37%; física, 22%; intelectual, 19%
Empregados e empreendedores
Dos economicamente ativos, 89% estão ocupados. Desses, entre 23% e 27% empreendem
Perfil do empreendedor
Atuam por conta própria 94% e, como empregadores, 6%. De 60,1% a 71,8%
ganham até R$ 1.020 por mês. Entre 42% e 54% trabalham em casa
Fonte: Folha de São Paulo
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