Em 1972, aos 25 anos, um tiro deixou José Carlos Morais paraplégico.
Treze anos após o acidente, logo após conhecer a modalidade no Centro de
Reabilitação de Stoke-Mandeville, na Inglaterra, esse gaúcho radicado
em Niterói levou o tênis em cadeira de rodas no Brasil.
Desde então, foi
hexacampeão brasileiro e representou o país em nove Mundiais. Nas
Paralimpíadas de Atlanta, em 1996, foi, ao lado de Francisco Reis
Junior, o primeiro a defender o Brasil na modalidade.
Fundador do projeto Cadeiras na Quadra, em Niterói, Morais, hoje com
69 anos, visitou na terça-feira o Centro de Tênis Olímpico, na Barra. E
gostou do que viu:
"Surpresas agradáveis de acessibilidade me acompanharam desde a estação do metrô de Botafigo até a Barra".
A integração com o BRT da
mesma forma. No ponto final outro ônibus é oferecido ao cadeirante. Mas
declinei o convite e testei as rampas que me levaram até o Centro
Olímpico.
Na quadra central o acesso é oferecido por rampas ou por um
grande elevador. A vaga para estacionarmos a cadeira é ampla e há um
lugar para acompanhante.
A visão e ótima, mas eu retiraria as barras de
ferro para aumentar o plano de visão - analisou Morais, que, antes de
conhecer o tênis para cadeirantes, integrava a seleção brasileira de
basquete adaptado.
O precursor do tênis em cadeira de rodas no país não conheceu apenas a quadra central:
"Depois fui na quadra 4 e uma plataforma recebe os cadeirantes de braços abertos. Não testei as demais e talvez na quinta-feira eu tenha está oportunidade. Por enquanto a nota é 9.5 só por causa do banheiro, embora perfeito na acessibilidade, não tem como trancar por dentro. Um simples detalhe que numa emergência pode ser fatal'. sorri, ao comentar
O médico gaúcho espera que o legado relacionado à acessibilidade, nas
arenas, na Vila dos Atletas e meios de transporte, perdure pós-Jogos.
Ele também vê outro ponto positivo na primeira Olimpíada da América do
Sul:
"Os Jogos no Rio são importantes para mostrar à sociedade que merecemos praticar esportes e que devam ser criadas oportunidades para isso. Não estou me referindo à elite. E sim à massificação das oportunidades".
Sobre a disputa olímpica, Morais aponta a saída precoce das irmãs
Venus e Serena Williams, de Novak Djokovic e a derrota dos mineiros
Bruno Soares e Marcelo Melo como as maiores surpresas até agora. Mas
aposta em uma disputa emocionante até o final, domingo:
"Parece que Nadal está muito disposto em busca da medalha e terá um Murray querendo o biolimpico. Enfim, acho que teremos emoção até o final e a história tem mostrado o crescimento nesta competição de jogadores não favoritos' observa.
O precursor do tênis para cadeirantes no
Brasil, que recebeu, em outubro de 2012, uma bela e merecida homenagem
de Gustavo Kuerten, durante a Semana Guga (vídeo abaixo) está na
contagem regressiva para a Paralimpíada, que começa no dia 7 de
setembro:
"Acho que vai ser um momento muito significativo. Eu sou contra essa baboseira de força de vontade, superação e outros chavões para definir o esporte adaptado. A superação está no cara não ter onde treinar e ter que pegar duas a três conduções para chegar no treino. Como muitos não deficientes. Força de vontade todo o atleta tem que ter. O cara que bolou o tênis adaptado no pós Segunda Guerra tinha como objetivo usar o esporte como elemento reabilitador, integração social e tornar a vida do deficiente mais interessante" observa.
Morais vê a Paralimpíada como um marco no esporte:
"É uma baita oportunidade de ver a evolução do tênis em cadeira de rodas. Novas cadeiras, tecnologia desenvolvida em laboratórios de pesquisa serão uma novidade. O dinamismo de um jogo de duplas com alternância de jogadas na rede e no primeiro e segundo quique é algo que os amantes do tênis não devem perder. Os franceses chegam como favoritos mas temos que respeitar a forte equipe argentina e os japoneses. O Brasil pela primeira vez tem quatro jogadores entre os homens, duas tenistas e dois quadriplégicos, jogadores com problemas de membros superiores", finaliza.
Fontes: O Globo / Diversidade na Rua
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