As lesões que causam o câncer de colo do útero — ou câncer cervical
— podem ser tratadas de forma não invasiva, através da Terapia
Fotodinâmica (TFD), na qual é utilizado um creme e um sistema (portátil e
versátil) que integra duas ponteiras com LED’s — uma emitindo no azul e
outra no vermelho.
O protocolo clínico inovador refere-se a uma
pesquisa que teve início em 2011, sob a coordenação do professor
Vanderlei Bagnato, do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São
Carlos (IFSC) da USP.
Considerada uma das doenças que mais matam mulheres no mundo, sendo
que no Brasil é o segundo tipo de câncer mais prevalente no sexo
feminino , o câncer de colo do útero é uma doença que se desenvolve a
partir da Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC), lesão que é causada
pela infecção do vírus HPV (a sigla em inglês para papilomavírus
humano).
A infecção ocorre predominantemente pela via sexual e a
manifestação dos sinais e sintomas depende do sistema imunológico do
portador, bem como de outros fatores de risco, tais como o início
precoce da vida sexual, múltiplos parceiros(as) sexuais e tabagismo.
Existem mais de 150 tipos de HPV descritos na literatura, sendo que
eles são divididos em dois grupos: de baixo e alto risco, que depende da
capacidade do vírus em desenvolver lesões benignas, como o condiloma;
ou, se for um tipo viral oncogênico, pode desenvolver principalmente o
câncer de colo de útero.
Estes vírus agem de forma lenta e silenciosa no
organismo humano, por isso a importância das mulheres em realizar o
exame do Papanicolaou anualmente, pois é por intermédio dele que se pode
detectar esse tipo de alteração no colo do útero, aumentando as chances
do diagnóstico da doença antes mesmo dela evoluir para o câncer no
local.
Neste estudo, até este momento, os pesquisadores aplicaram em 70
pacientes com NICs de baixo e alto grau, o creme que contém a substância
designada aminolevulinato de metila (MAL), que é precursora de outra
molécula, a protoporfirina IX (ou PpIX), substância que, após ter sido
excitada pelo LED vermelho, produziu um oxigênio reativo e tóxico para
as lesões, eliminando-as com apenas 20 minutos de iluminação em contato
com o colo do útero.
Tratamento não invasivo
A pesquisadora Natalia Inada, que integra este time de pesquisadores e
atua nesta linha de investigação desde 2008, diz que a técnica é muito
vantajosa, porque, ao contrário do procedimento comumente realizado, a
TFD trata as lesões de forma não invasiva, preservando o colo do útero
das pacientes.
Além disso, segundo a pesquisadora do IFSC, basta uma
sessão para que uma paciente seja tratada sem anestesia, dor e
ambulatório.
Na técnica convencional, sendo diagnosticado o NIC de alto
grau, é realizado um procedimento cirúrgico (CAF ou Cirurgia de Alta
Frequência), onde, geralmente, mais de 2 centímetros (cm) de
profundidade e 3 cm de extensão do colo do útero são removidos.
Os
efeitos colaterais da CAF comumente incluem hemorragia e, por vezes, o
estreitamento do colo do útero, o que é chamado de estenose do colo do
útero. “Isso pode diminuir a fertilidade”, explica Natália.
De acordo com a pesquisadora, o citado creme já foi testado em mais
de 600 pacientes com câncer de pele no departamento de dermatologia do
Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, no interior de São Paulo, estando em
fase de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), que deverá emitir ainda este ano a aprovação para que uma
indústria farmacêutica brasileira possa produzir e comercializar o
medicamento no Brasil, diminuindo os custos da TFD para o Sistema
Público de Saúde.
O equipamento foi desenvolvido, desde 2008, a partir de uma forte
colaboração estabelecida com o ginecologista e pesquisador Welington
Lombardi, do Ambulatório de Saúde da Mulher, em Araraquara.
Neste ano,
os pesquisadores também iniciaram uma parceria com Renata Belotto, do
Hospital Pérola Byington – Centro de Referência em Saúde da Mulher, em
São Paulo.
“Graças a estas colaborações e à dedicação intensa da pós-doutoranda Fernanda Carbinatto, do IFSC, desde o ano passado, estamos alcançando ótimos resultados com o potencial de indicar futuramente esta como a técnica de escolha para tratamento das NICs”, afirma Natalia.
O Grupo de Óptica consolidou uma colaboração com um pesquisador da
Johns Hopkins University (Estados Unidos), bem como com duas empresas
nacionais.
Através destas cooperações e do financiamento público da
Financiadora de Estudos e Pesquisa (FINEP) e do Ministério da Saúde, o
sistema, que recebeu o nome de CERCa (de “Cervical Cancer”), já foi
aprovado por especialistas e está em fase final das certificações para o
início de sua produção.
Fonte: Agência USP de Notícias
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