Série Fantástico - ‘Autismo: Universo Particular"

 

1°Episódio

Especialistas afirmam que existe 1 pessoa com autismo para cada 100

No domingo (04/08), o Fantástico estreou a série ‘Autismo: Universo Particular’. Para produzir a série, Dráuzio Varella esteve casa de vários pacientes portadores desse transtorno para mostrar como vivem essas famílias e essas crianças.


No Paraná, há uma família com dois filhos em que o autismo se manifesta de uma forma bem diferente em cada um dos irmãos. O pai passa as noites segurando o filho enquanto ele dorme.


Kevin não para de se mexer e se bate repetidamente. Durante a noite, ele acorda querendo tomar banho, porque só isso o acalma por algum tempo. “Já tive vontade até de me matar pela situação de bater nele, dele se agredir e não ter o que fazer, entendeu? Já passou pela minha cabeça de fazer qualquer besteira, então é difícil”, conta o pai.


Os pais de Kevin estão em busca do diagnóstico de que o filho tenha autismo, um distúrbio que desafia a ciência. Não se sabe as suas causas e ele é cada vez mais comum. Especialistas calculam que o autismo atinja 1% das crianças.


“O autismo hoje é considerado um distúrbio no desenvolvimento causado por condições genéticas e ambientais e que, na verdade, não é uma condição só. Hoje, a gente fala em um conjunto de autismos pela enorme variabilidade que ele tem. A característica fundamental dos autismos é o prejuízo na comunicação, na interação social e na presença de comportamentos peculiares. Comportamentos repetitivos sem muito significado, que os indivíduos parecem ficar realizando sem uma finalidade muito clara”, explica o neuropediatra especialista em autismo Salomão Schwartzman.


O médico explica que o autismo era considerado uma condição rara, que atingia 1 em cada 2 mil crianças. Ele aponta que a pesquisa mais recente fala em um para cada cem. “A gente está falando de uma coisa que não é rara, é extremamente comum. Você encontra na escola, no escritório, no seu consultório, identifique ou não”, avalia Schwartzman.
 

Segundo o especialista, o autista é metódico. “O mundo ideal é aquele em que as coisas não se modificam. Eu acordo na mesma hora, visto a mesma roupa, tomo café do mesmo jeito, no mesmo prato, com a mesma xícara. Qualquer variação disso traz um extremo desconforto”, explica o neuropediatra.


Uma família que vive o autismo muito intimamente mora em Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Renato, o pai, sempre foi meio esquisitão. “Desde criança eu achava ser estranho normal, mas porque eu tirava por mim. Para mim, todo mundo era estranho”, conta ele. 


Renato casou com Ana Maria, que já tinha uma filha, Fernanda. Juntos, eles tiveram Mateus e Máximo – os dois com autismo – e Bárbara, a mais nova. “Eu já estou mais do que acostumada a lidar com eles. Na verdade, acho eles mais fáceis por causa da questão da rotina”, diz Ana.
 

Mas mesmo as atividades mais rotineiras podem ser um imenso desafio para pessoas com autismo. Escolher um conjunto de roupas para trocar o filho pode ser uma tarefa impossível.


“É muita opção. Combinação de cor, de não sei o que... Sempre me visto pelo conforto e, exatamente para não ter esse problema de combinação, visto uma cor só”, brinca Renato.
 

Os humanos são animais sociais. Se não tivessem formado grupos, os antepassados teriam desaparecido da face da Terra. Mas há pessoas com transtorno de desenvolvimento que apresentam enorme dificuldade de relacionamento social. 


Para elas, sons, movimentos, olhares e solicitações dos outros provocam um curto-circuito que as deixa desorientadas e aflitas. O autismo é um transtorno desse tipo, no qual a rede de neurônios que controla, no cérebro, a comunicação e os contatos sociais está desorganizada. “Diria que a marca registrada do autismo é a falta de desejo ou de possibilidade de interagir com o outro”, diz Schwartzman.


Atualmente, o autismo é considerado um distúrbio com um amplo espectro de manifestações, desde as crianças, como Kevin e Máximo, que têm enormes dificuldades de responder aos estímulos, até pessoas que têm problemas de convívio social, mas são extremamente talentosas em áreas específicas. O cérebro deles funciona de forma única, que ainda é um mistério para a ciência.


Em um quarto cheio de circuitos eletrônicos e fórmulas matemáticas, um autista genial é Jacob Barnett. Ele está prestes a se tornar mestre em física quântica aos 14 anos. Ele dá aulas na internet desde pequeno e hoje participa de pesquisas na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e pode ganhar o Prêmio Nobel.


O caso dos irmãos de Curitiba Nicholas, de 13 anos, e Thomas, de 15, é parecido. O mais velho, que já aos 3 anos demonstrava facilidade com números, já fez diversos cursos em nível universitário nas áreas de matemática e ciência da computação.


Segundo o neuropediatra Salomão Schwartzman, o impacto de um filho autista em uma família pode ser brutal. “É algo muito difícil de você lidar. Quando você tem um filho que é um deficiente intelectual, por qualquer razão que seja, depois de algum tempo, por maior que seja o luto que você tem com relação a isso, você se habitua a uma criança que bem ou mal tem uma linha de base. Ou seja, ele tem prejuízos, mas que depois de algum tempo você sabe quais são e passa a conviver bem com isto”, diz.


Na novela ‘Amor à vida’, a atriz Bruna Linzmeyer interpreta Linda, uma garota com autismo. “Eu tinha ouvido falar muito pouco sobre o autismo, porque é um tema muito pouco conhecido pela nossa sociedade.


A gente criou uma linguagem dessa personagem se comunicar, como ela dramaturgicamente se envolve em cena. Isso é o mais difícil. Cada detalhe é muito importante”, conta ela.


 Fonte: Fantástico

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2°Episódio 

Autismo se instala nos 3 primeiros anos de vida; conheça possíveis sinais do transtorno


O ator Marcelo Serrado leva o drama do autismo para os palcos e revive um personagem marcante do cinema: Rain Man, sucesso nos anos 80. “Fazer um autista é um presente para qualquer ator. Porque esses caras são especiais”, diz o ator.
 


Como e quando o autismo se manifesta? Quais os primeiros sintomas? E por que é tão importante começar o tratamento o mais cedo possível?
 


O autismo se instala nos três primeiros anos de vida, quando os neurônios que cordenam a comunicação e os relacionamentos sociais deixam de formar as conexões necessárias. 


Embora o transtorno seja incurável, quando demora para ser reconhecido, esses neurônios não são estimulados na hora certa e a criança perde a chance de aprender.
 


Estudo mostrou que, enquanto nos Estados Unidos o diagnóstico é feito antes dos 3 anos de idade, no Brasil o transtorno só é identificado quando a criança já tem de 5 a 7 anos. Esse atraso agrava as deficiências do autismo e traz mais sofrimento para as famílias.
 


O caso de Kevin
 
Há seis anos, Vera e Reginaldo procuram um diagnóstico que os ajude a compreender os males que afligem o filho Kevin. Você conheceu o Kevin no domingo passado. 



Vimos que ele se levanta diversas vezes, de madrugada, pra tomar banho. Desde pequeno, o menino começou a apresentar comportamentos peculiares. Quando percebe que está chegando o momento de comer, Kevin fica agressivo. O som do liquidificador é especialmente irritante no autismo. Kevin se alimenta de papinha, ele recusa alimentos sólidos.




 

“A gente já foi em neuro, psiquiatra, psicólogo, pediatra, clínico, tudo quanto é médico a gente já foi. Uns falam que é retardo mental grave, outros falam que não. Tem médico que fala que ele não tem nada, que pode ser uma birra, uma manha”, diz a mãe. 


O neuropediatra Salomão Schwartzman analisou vídeos de quando Kevin era bebê. Aos quatro meses, ele se comportava como qualquer criança. Mas com um ano idade, ele já apresentava pequenos sinais de autismo. “Fica olhando sempre na mesma direção. Ele não explora mais o ambiente. E uma face sem muita expressão”, analisa o médico.
 


Foi somente no mês passado que a peregrinação terminou. Kevin recebeu o diagnóstico de autismo - um diagnóstico tardio. A demora em identificar o transtorno dificulta o tratamento. Depois de seis anos, a família de Kevin pôde, finalmente, procurar ajuda especializada.
 


Kevin perdeu a oportunidade de receber tratamento nas fases iniciais de seu desenvolvimento. Agora, será preciso muito trabalho para correr atrás dos prejuízos. 


“A gente sempre fala que a gente não vai ficar assim pro resto da vida, como que será que vai ser ele sozinho? Quem vai querer cuidar dele? Como será que vai ser a vida do Kevin? A gente se preocupa já com isso. 'E complicado, né?”, diz a mãe de Kevin.
 


Sinais de autismo
 
Quais são os sinais típicos do autismo? Algumas características podem ajudar você a desconfiar quando a criança tem autismo. Desconfiar porque quem vai fazer o diagnóstico é o especialista.

Um dos sintomas mais comuns é quando a criança não responde ao ser chamada pelo nome.  A criança parece surda. Você chama pelo nome, ela não responde.
 


Na presença de outras crianças, ela se isola. Não participa de brincadeiras coletivas. Ela evita o contato físico. Você vai fazer um carinho e ela se afasta. Parece que tomou um choque. 


É hiperativo. Anda pra lá e pra cá, mexe em tudo, não para um minuto. Mais uma característica marcante: não apontar com o dedo para o objeto que quer alcançar. Ela pega no seu braço e leva até ele, como se usasse a sua mão como uma ferramenta.
 


A relação com os objetos - brinquedos, por exemplo - é diferente do esperado. Ela usa os objetos de uma forma muito particular. Ela pega um carrinho, vira ao contrário e é capaz de passar horas girando a rodinha.
 


Também não sabemos por que, mas pessoas com autismo parecem ter uma sensibilidade alterada. Podem cair no choro por causa de um simples toque. Mas, às vezes, se machucam feio e não demonstram sentir dor. Mesmo em dias muito frios, não se preocupam em se agasalhar.
 


A criança com autismo foge do contato visual. “Mesmo às vezes na primeira mamada. E é o momento em que seguramente o bebê olha nos olhos da mãe já com horas de vida. Algumas vezes você consegue detectar a falta desse contato”, explica Salomão. Hoje, testes clínicos permitem entender melhor essa dificuldade.
 


O caso Gabriel
 

“O diagnóstico do Gabriel tem uns quatro anos mais ou menos. Porque até então eu não sabia. Sabia que o Gabriel era um menino especial”, conta a mãe do que menino que tem hoje 16 anos. 

Nós fomos com ele fazer um teste. O programa de computador registra para que ponto a pessoa está olhando quando vê uma figura na tela.
 


“Quando você mostra numa tela um bebê e um relógio, normalmente eles olham muito mais pro relógio. Eles não têm tanto interesse pra olhar pro bebê. Quando você mostra um rosto, um de nós deve olhar pros olhos - como eu estou olhando pro teu agora. Eles em geral olham pra outra parte do corpo”, explica Salomão.
 


Ao ver uma foto, Gabriel mostrou que é capaz de olhar nos olhos de uma pessoa. Mas revelou outro sintoma comum no autismo. Às vezes, ele não consegue interpretar corretamente o contexto de uma cena.
 


No autismo, pode existir uma dificuldade em interpretar figuras. “O que a gente imagina? Que provavelmente ele observa o mundo de forma fragmentada. Se você somar essa dificuldade de visualizar o contexto, mais as dificuldades que eles têm de linguagem, você começa a perceber que o mundo deles é muito diferente do nosso”, observa Salomão.
 


De volta ao consultório, mais um teste com Gabriel. Desta vez, para detectar se Gabriel é capaz de reconhecer expressões faciais. Gabriel diz que está vendo uma pessoa de boca aberta.



 

Para a maioria das pessoas, o reconhecimento é intuitivo. Mas Gabriel demora, procurando pistas que o ajudem a entender o que está vendo.
 


O caso Ana Beatriz
 
 

Drauzio Varella foi até Santo André, na grande São Paulo, para conhecer a Ana Beatriz, de 4 anos. “Eu fiz sete fertilizações pra ter ela. Graças a Deus ela veio. Eu tive ela com 46 anos”, conta a mãe, Marinês Câmera.
 


A mãe conta que Ana Beatriz nasceu prematura e se desenvolveu normalmente até os 2 anos. Mas quando entrou na escola, a mãe percebeu que tinha algo estranho, com 2 anos ela não falava.

 

Alguns bebês com autismo nem chegam a falar, é bastante comum. Outros começam a pronunciar as primeiras palavras, mas de uma hora para a outra regridem. Um choque para a família.

 

Apesar de não falar, Ana Beatriz é uma criança cheia de habilidades - esperta mesmo
Quando Drauzio Varella esteve em sua casa, ela mostrou que é capaz de entender números e organizar os brinquedos. 



“Se você colocar fora da ordem, por exemplo, ela vai lá, empurra tudo, e ela coloca na ordem”, explica a mãe. Marinês sabe que a filha tem autismo, mas está cheia de dúvidas quanto ao grau do transtorno.
 


“Ela entrou no consultório e me ignorou totalmente. Isso já é uma coisa que chama um pouquinho a atenção, porque não é esperado numa criança com desenvolvimento social típico”, aponta Salomão. 


Ao ganhar uma caixa de brinquedos, Ana Beatriz reage de forma inesperada. Em vez de brincar com os trenzinhos, ela começa a organizá-los em fileira, cada um por tamanho e cor, todos voltados para a mesma direção.
 



“Não é um brincar lúdico. Isso é uma organização, é uma coisa sistemática. Eles são extremamente sistemáticos. O mundo da criança com autismo é um mundo que ela tenta classificar, organizar, sistematizar”, diz Salomão.
 



A avaliação, feita a nosso pedido, foi até certo ponto tranquilizadora. “Ela não é um caso de autismo severo. Porque ela não demonstra até agora uma deficiência intelectual. Ela demonstra claramente que ela sabe o que quer fazer, identifica corretamente, organiza de forma absolutamente racional”, explica Salomão.
 


Fonte: Fantástico

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2°Episódio (extra)

Questionário identifica possíveis sinais de autismo 

No segundo episódio da série ‘Autismo, universo particular’, o doutor Drauzio Varella explica por que o diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento do transtorno. 


Habitualmente, esse diagnóstico não é fechado antes dos 3 anos de idade, o que dificulta que os médicos consigam reduzir prejuízos para os pacientes. 


Essa investigação é complexa e envolve uma série de etapas: observação de sinais comuns do transtorno; exames neurológicos e cognitivos; avaliações de fala e audição; testes genéticos. Entre as ferramentas, o questionário M-CHAT ajuda a identificar sinais do espectro autista entre crianças de 16 a 30 meses de vida. Você pode responder as questões aqui.

Mas, atenção, o resultado não deve ser considerado de nenhuma forma como diagnóstico. Tudo que o teste aponta é se é recomendável que a criança tenha uma avaliação médica. Somente médicos podem fazer essa avaliação, tratar e medicar pacientes.

Fonte: Fantástico
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3°Episódio

Tratamentos podem dar maior autonomia a pessoas com autismo

 

Como lidar com os sintomas mais graves, como a agressividade de pessoas com autismo? Essa é uma preocupação comum a muitas famílias que convivem com esse transtorno. E, principalmente: é possível dar um mínimo de autonomia a essas crianças? 


Dependência dos pais
 


No dia em que Hyandra, a caçula da família, completou 9 anos, os pais, Kelly e Silvio, prepararam a casa para a festa.

O entra e sai de pessoas perturba o irmão mais velho de Hyandra. Idryss, de 15 anos, tem uma forma grave de autismo.

Idryss não fala. Com frequência, morde a mão e a gola da camiseta, comportamento repetitivo que piora quando ele fica nervoso. Mudanças na rotina podem ser desagradáveis para pessoas com autismo. Por mais que o pai tente, Idryss não se acalma. O menino exige atenção constante.
 

Nos primeiros meses de vida, o desenvolvimento de Idryss foi igual ao dos outros bebês. O drama da família também atinge a filha mais nova. Hyandra não tem autismo, mas sofre com a falta de atenção dos pais.

Algumas manifestações do autismo exigem tanta atenção que levam a família ao desespero. Todos passam a viver em função da criança, em tempo integral. Família nenhuma está preparada para enfrentar um problema dessa gravidade sem receber orientação especializada.
 

No terceiro episódio da série, o Doutor Drauzio Varella falou dos principais métodos de tratamento do autismo. E como é possível tornar o mundo mais acessível a eles.  

O autismo modificou radicalmente a rotina da família de Kevin.  Reginaldo, o pai, chegou a trocar de emprego para ficar mais tempo perto do filho. Ele comprou um carro e começou a fazer anúncios pelas ruas do bairro. A mãe, Vera, vai o tempo todo atrás, tomando conta do menino. 

Os pais não veem outra solução a não ser satisfazer as vontades de Kevin. É o que acontece também quando eles permitem que o menino tome banho toda hora. 

Será que essa é a melhor maneira de lidar com os comportamentos repetitivos, comuns no autismo?   

“Quando eu percebo que, quando eu me bato, me mordo, bato a cabeça na parede, pai e mãe imediatamente deixam de fazer o que fazem para me socorrer, eu tenho a chave para ele, eu estou dizendo: ‘quando você quiser minha atenção, basta se machucar’. 
 

E, como qualquer um de nós, você também repetiria incessantemente a mesma coisa que te traz uma recompensa. Estar abraçado ou contido pelos pais pode ser uma recompensa e eu acredito que ele esteja fazendo isso a todo momento”, explica o doutor Salomão Schwartzman.  

Como a família do Kevin, os pais de Idryss mudaram de vida em função do filho. Eles passaram a trabalhar em casa. Kelly instalou uma máquina de costura em um canto da sala. Ela faz toalhas de mesa que o marido, Sílvio, vende. Idryss não desgruda do pai. 

Cuidar de uma criança com autismo pode ser uma carga imensa. Em certos casos, o transtorno impõe tantas limitações que um simples passeio no parque se mostra impraticável. Esse dia a dia às vezes se torna sufocante.  

“Você já passa a tomar atitudes superprotetoras, você começa a, sem querer, entrar na doença do filho. Eu diria que algumas famílias com filhos com autismo ou alguma outra condição crônica, acabam também se tornando autistas, porque passam a viver em função daquela condição e não aprendem a forma correta de você tentar evitar os comportamentos inadequados, inserir essa criança no mundo, na medida do possível”, avalia Schwartzman.  

Como as alterações que levam ao autismo ainda são mal conhecidas e o transtorno é incurável, existe um número muito grande de tratamentos que prometem bons resultados. 

Muitas dessas terapias não têm comprovação científica. Crianças com autismo às vezes são extremamente seletivas para se alimentar. 

Chegam a limitar o cardápio a apenas um tipo de comida. É mais uma atitude que a terapia comportamental tenta desestimular.     

Muitas famílias acreditam que cortar o glúten da dieta dos filhos alivia os sintomas do transtorno. Glúten é a proteína encontrada em cereais como trigo, cevada, centeio e aveia.  

Na casa do Renato, sempre há duas opções de refeição. Ele e os dois filhos com autismo não comem nada com glúten.  

Os especialistas argumentam que não há comprovação científica de que o glúten tenha influência nos quadros de autismo.
 

Tratamentos 

 

Em São Paulo, a AMA, Associação de Amigos do Autista, oferece tratamento gratuito, em convênio com o governo estadual, para pessoas com o transtorno.
 

Na AMA, as crianças realizam uma lista de atividades organizadas em painéis. É o método "Teacch".  

O objetivo é dar um mínimo de independência, ensinando as tarefas simples do dia a dia. Os alunos aprendem a arrumar a cama, escovar os dentes, amarrar os sapatos. A cada acerto, a criança pode fazer algo que goste.
 

Os pais de Idryss contam que ele melhorou bastante com a terapia comportamental. Outro exemplo de aprendizado que ajuda a melhorar a comunicação é o método PECS. 

As crianças juntam cartões para formar frases. Lucas é uma das crianças atendidas pela AMA. 

Ele tem um tipo mais brando de autismo, diferente dos casos de Kevin e Idryss. Até recentemente, essa forma do transtorno era conhecida como síndrome de Asperger.
 

Os portadores de Asperger não apresentam deficiências intelectuais graves. Eles são capazes de se expressar, muitas vezes com uma linguagem formal, rebuscada, e geralmente têm um talento direcionado para uma área específica.

 

Este ano, os médicos abandonaram essa denominação. Agora, a síndrome de Asperger é considerada apenas mais uma manifestação do espectro do autismo.
 

Depois de receber o diagnóstico de autismo, a família levou Kevin para a AMA. Kevin passou por uma avaliação. Apesar do diagnóstico tardio, a terapia comportamental ainda pode ajudar o menino.
 

Mas, infelizmente, Kevin vai ter que esperar. A AMA está sobrecarregada. As oportunidadesde tratamento gratuito não estão ao alcance da maioria das famílias Brasil afora.  

“É um dos principais problemas de saúde pública da infância. Se você imaginar que 1% da população tem isto, você necessita de uma estrutura extremamente complexa e abrangente. E escute, eu tô falando de São Paulo. Você sai daqui e vai aí para Norte e Nordeste, você não encontra nada em algumas cidades”, destaca Schwartzman. 

É obrigação do Estado atender às pessoas com autismo. Desde 2012, uma lei determina que o transtorno receba o mesmo atendimento destinado a outros tipos de deficiência mental. 

As famílias que têm crianças com autismo devem procurar os CAPS, Centros de Atenção Psicossocial. Mas eles não estão presentes em grande parte dos municípios brasileiros.
 

Lucas  

 
E aí a pergunta é: faz o diagnóstico, levanta uma ansiedade brutal, e você não tem como atender essas pessoas? 

Nesses casos, o desenvolvimento das crianças depende exclusivamente da dedicação das famílias. Dedicação como a de Paula, mãe de Lucas, que criou uma cartilha para que ele se acostume com o que vai encontrar fora de casa.
   

Lucas já aprendeu a andar sozinho na rua. Ele entendeu que não pode atravessar a rua quando o sinal estiver aberto para os carros. Mesmo com a rua livre, Lucas espera pacientemente.
   

Agora, a mãe, Paula, está ensinando o filho a andar de ônibus sozinho e a manter a calma quando ela não está por perto. Paula mostra pontos de referência para que Lucas não perca o ponto de parada.

 

Ele aprendeu no computador e nas viagens com a mãe quais são os pontos de referência que deve observar. Vinte minutos depois, chega ao ponto final. E os pais esperam por ele.


Fonte:Fantástico

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 4° (último) Episódio

Crianças com autismo podem desenvolver talentos específicos

 

Uma das maiores preocupações das famílias que estão no universo particular do autismo é com o futuro dessas crianças. Elas devem ir para escolas regulares ou especiais? E, quando crescerem, vão ter condições de conseguir um emprego?

No último episódio da série, o doutor Drauzio Varella mostrou que o diagnóstico de autismo, em muitos casos, não impede que a pessoa trabalhe, seja produtiva e construa uma vida.

Clique aqui e confira instituições que oferecem tratamento para pessoas autistas


O autismo afeta quase todos os aspectos do comportamento: a fala, os movimentos do corpo, o interesse por amizades, a vida social, as emoções. 

O mundo autista é muito variado. Vai dos que nem falam, até aqueles com habilidades incríveis. Como educar crianças com necessidades tão diferentes? Colocá-las em escolas comuns ou especiais?

Como incluir no mercado de trabalho pessoas com tanta dificuldade para compreender as intenções dos outros? Inclusão. É o tema do último episódio da série Autismo: universo particular.


O autismo deve ser diagnosticado precocemente para que a criança possa ter acesso a profissionais especializados. É nessa fase inicial que o tratamento tem os melhores resultados.

EDUCAÇÃO

Crianças com autismo podem desenvolver talentos específicos em determinadas áreas do conhecimento.  Desde que essas habilidades sejam identificadas e estimuladas de forma inteligente. Esse passo inicial muitas vezes depende da escola.

“Se ele puder, deve ficar numa escola regular até o momento em que ele começa a sentir que ele não é igual aos outros, que ele está sempre atrás demais e que isso comece a trazer problemas para ele. Mas eu não vejo por que um autista com deficiência intelectual severa estar dentro de uma classe regular. Ele está perdendo tempo. Ele não está se socializando”, avalia o doutor Salomão Schwartzman.

O Lucas sentiu na pele esse problema. Até a quinta série, frequentou uma escola convencional. “Eu não lembro o que, mas não me sentia bem com aquela gente. Não pareciam ser, como diziam, amigos de verdade. Como se rissem atrás de mim, sobre minhas costas e nunca tinha notado”, lembra o jovem.

Crianças com autismo são alvo fácil para as maldades típicas da infância. Agora, Lucas está matriculado na AMA, a Associação de Amigos do Autista, e também estuda em casa, com a ajuda da mãe.

Em Curitiba, os pais de Thomas e Nicholas encontraram uma fórmula intermediária para a educação dos filhos.

Thomas, que tem um tipo mais leve de autismo, estuda em uma escola particular de alto padrão. Aos 15 anos, Thomas tem um talento especial para matemática avançada e ciência da computação.

Nicholas, que tem uma forma mais grave de autismo, frequenta a mesma escola do irmão em meio período, e complementa a educação em uma clínica especializada em terapia comportamental, onde conta com a ajuda de profissionais de diversas áreas.

Uma das escolas mais preparadas para tratar e educar pessoas com autismo fica em Nova Jersey, nos Estados Unidos.

É uma escola pública totalmente adaptada para os 250 alunos, entre 3 e 21 anos. Lá, os alunos aprendem profissões que possam desempenhar mesmo com as limitações que apresentam.

Numa área que imita uma rua de comércio, eles entendem como se organiza a correspondência de um escritório, por exemplo, ou como se trabalha em um banco ou supermercado.

No Brasil, o acesso a essa qualidade de ensino depende do poder aquisitivo das famílias.
 

Quem tem condições encontra boas escolas particulares como uma em São Paulo, onde 80 alunos com o transtorno convivem em harmonia com as demais crianças. Para conseguir emprego para os alunos, a escola fez uma parceria com um grande banco.

Desde dezembro de 2012, o autismo é considerado, por lei, um tipo de deficiência mental. As pessoas que apresentam esse transtorno têm direito a benefícios na rede pública de saúde e de ensino.  

A aprovação da lei só foi possível graças à dedicação de muitos pais, em especial Berenice Piana, mãe de um rapaz com autismo.

“A lei é, na verdade, a Carta Magna dos direitos das pessoas com autismo no Brasil. O ponto principal dela é: reconhece a pessoa com autismo como pessoa com deficiência. 


Segundo: o direito ao diagnóstico precoce. O tratamento multidisciplinar são vários profissionais para tratar uma pessoa com autismo. O direito à matrícula na rede regular de ensino. É proibido negar a matrícula a uma pessoa com autismo, sob pena de multa”, ela explica.

Mas, na realidade, ainda há um longo caminho a percorrer. Muitos pais não conseguem atendimento para seus filhos.  

Foi o que aconteceu com o Matheus. Ele é deficiente visual e tem autismo. A mãe dele, Eliane, ganhou na Justiça o direito de o filho receber aulas em casa com um professor da rede pública. Mas os livros didáticos oferecidos não estão em Braille, o sistema de leitura para cegos.

Em uma escola municipal, em São Paulo, Yasmin, de 7 anos, recebe a orientação de profissionais em uma sala multifuncional, adaptada para a realização de atividades específicas. 

Além disso, crianças com autismo devem ser acompanhadas por estudantes de pedagogia durante as aulas.  Mas não há ainda, na rede pública do município, estagiários suficientes. A prefeitura de São Paulo diz que está contratando mais estagiários.

MERCADO DE TRABALHO

A inclusão no mercado  de trabalho é difícil, mas existe. É o caso de Alberto. Ele tem 21 anos 
e foi diagnosticado com autismo aos 3. Desde pequeno, ele estuda e consegue fazer a maioria das atividades diárias por conta própria.

Como mostrado no último episódio, com treinamento adequado, algumas pessoas com autismo atingem um grau razoável de independência - o suficiente, por exemplo, para andar pela cidade e usar o transporte coletivo.

Alberto é balconista em uma farmácia em São Paulo. Mas atingir esse nível de autonomia, infelizmente, não é regra entre as pessoas com autismo.

Pelo poder de concentração em uma atividade e à atenção aos detalhes, pessoas com autismo podem ser profissionais imbatíveis.

Numa empresa fundada na Dinamarca, hoje presente em oito países, a maioria dos empregados está dentro do espectro do autismo. Ela vende serviços de programação de computadores e processamento de dados. a tecnologia é um campo excelente para o desenvolvimento das capacidades dos autistas.

O gerente da empresa se orgulha da política de inclusão. Esse é o começo de carreiras brilhantes para essas pessoas. Com suas capacidades desenvolvidas, esses profissionais vão para trabalhos cada vez mais complexos, e se tornam independentes.
 

Quando os pais não estiverem mais presentes, eles poderão ter vidas produtivas e se sentir realizadas.

FUTURO

O doutor Drauzio Varella conta que, durante as gravações da série, aprendeu que o autismo desorganiza a comunicação e as funções sociais. Que as manifestações iniciais podem ser notadas já nos primeiros meses de vida e que é fundamental reconhecê-las o mais cedo possível, em uma fase em que o cérebro tem grande plasticidade para formar novas conexões, em resposta aos estímulos educativos.

Para compreender e educar uma criança com autismo, é preciso esforço, dedicação e sabedoria para penetrar em seu universo, e fazer com que o nosso lhe pareça mais acessível e menos absurdo.


Kevin já começou esse processo. Por enquanto, ele está em tratamento clínico no Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS. A família de Idryss comemora as pequenas conquistas. Hoje, os pais vão deixá-lo em casa com uma amiga e ter a primeira noite romântica em muitos anos.

Fonte: Fantástico

 

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