Sair de casa para ir à padaria, comprar o jornal, ir
ao cinema, jantar com os amigos, ver o show do cantor favorito ou curtir
uma exposição, tuudo isso parece fácil, simples, mas não pra todo
mundo.
De cadeira de rodas, por exemplo, dependendo da cidade em que
vivemos, sair é um verdadeiro combate.
Na Europa, as principais capitais são bem
estruturadas para receber pessoas com necessidades especiais, mas também
têm limites graves como, por exemplo, os metrôs de Paris, que são
inviáveis para os cadeirantes.
Acessibilidade no Brasil
A deputada Mara Gabrilli, primeira tetraplégica a
ocupar um cargo federal, é uma militante incansável, responsável pela
Lei de Acessibilidade em São Paulo, que obriga os comerciantes a
regularizar os estabelecimentos, permitindo o acesso e proteção de
crianças, adolescentes, idosos e pessoas com necessidades especiais.
Ela acha que nos últimos dez anos, quando foi criada a
primeira secretaria da pessoa com deficiência no Brasil, o país avançou
em políticas públicas para inclusão e para as pessoas com deficiência.
"O Brasil tem um dos ordenamentos jurídicos mais ricos do mundo no que
diz respeito às pessoas com deficiência, mas ainda há muitos caminhos a
percorrer e preconceitos a derrubar, preconceitos da iniciativa privada,
do terceiro setor, das iniciativas individuais da sociedade e do setor
público", diz Mara.
O Brasil não tem nenhuma cidade modelo em termos de
acessibilidade, mas vale destacar alguns locais que investiram na
iniciativa.
"Existe uma cidade bem interessante, a cidade de
Socorro, no interior de São Paulo, que tem uma vocação para o esporte
radical das pessoas com deficiência", diz Mara, explicando que por este
motivo as pousadas os hotéis, os restaurantes, acabaram se adequando.
"Também não dá para dizer que a cidade é 100% acessível, mas tem
características bem bacanas que vale a pena conhecer. Além de Socorro,
temos pequenas cidades e outras maiores como, por exemplo, Uberlândia,
no Triângulo Mineiro, que foi a primeira a ter uma frota completa de
ônibus para atender passageiros com necessidades especiais. Mas também
não dá pra dizer que é uma cidade modelo", observa.
As calçadas são fundamentais para as pessoas que
precisam de acessibilidade especial. Mara Gabrilli sorri ao falar do
estado das calçadas brasileiras.
"Em matéria de calçada, o Brasil ainda
engatinha e engatinha caindo. Não tem nenhuma cidade que a gente possa
dizer que é modelo. São Paulo tem alguns pontos onde quem vem do
interior ou de outros estados, usando uma cadeira de rodas, um cego, ou
alguém que usa maletas, fica maravilhado. Mas São Paulo é muito grande, e
do mesmo jeito que a gente tem pontos extremamente acessíveis, você vai
na periferia e não tem nada...", conclui Mara Gabrilli.
A arte de vivenciar as necessidades especiais
O acesso inserido na vida cotidiana é um tema que vem
despertando interesse em outros campos. Um exemplo é o escritório de
cenografia e conteúdo Folguedo, sediado no Rio de Janeiro, que
apresentou recentemente na Casa da Ciência a exposição "Cidade
Acessível" em que os visitantes se colocaram na situação vivida por
cadeirantes, cegos, idosos, surdos ou velhos.
Leonardo Bumgarten de Freitas, um dos sócios do
escritório, fala sobre a mostra.
" A ideia é criar essa sensibilização
nas pessoas, essa consciência. A gente entende que se você vive uma
situação, tem muito mais possibilidade de incorporar isso de uma forma
verdadeira, então, se você passar pela dificuldade, óbvio que uma
dificuldade controlada num ambiente seguro,você vai entender quem tem
uma dificuldade grande; e quando vai para o espaço real da cidade
consegue imaginar o cotidiano dessas pessoas. E não é só na questão do
cadeirante, na questão da deficiência, mas acho que numa questão mais
ampla da sensibilidade para todos, de fato; entender que todos têm uma
necessidade - temporária, de maior ou menor grau -, na coisa de
enxergar, de conseguir apertar um botão, ouvir informação, se
localizar...Há uma série de questões envolvidas além do circular, além
do andar", reflete Leonardo.
Na mostra Cidade Acessível os visitantes foram
convidados a experimentar, vivenciar, se colocar no lugar do outro,
escolhendo restrições e barreiras como, por exemplo, cobrir os olhos com
uma faixa, andar de cadeira de rodas e outras opções.
Blogs
A solidariedade entre os próprios necessitados de
acesso especial também contribui para facilitar o cotidiano.
Em diversos
blogs, cadeirantes contam suas experiências de viagens, dão dicas de
locais de lazer equipados para recebê-los, informam leis e direitos e as
última novidades em acessórios como capas para cadeiras de rodas ou
bengalas eletrônicas.
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