Quem vê minha neta Luisa, de 4 anos, pela primeira vez fica impressionado.
Ela nasceu com uma síndrome rara chamada artrogripose,
que entorta as articulações e prejudica muito o movimento dos braços e
pernas. Não dá pra não notar.
Mas um minuto de conversa com ela é o
suficiente para perceber como ela é uma criança alegre, inteligente e
talentosa.
Ela descobriu uma paixão pelos pincéis aos 2 anos e, desde
então, nunca mais parou de pintar com a boca.
Já teve até exposição! E
você está enganado se acha que ela sofre por não ser como as outras
crianças. Ela abraçou sua condição de tal forma que chega a dizer que,
se pudesse escolher, preferiria continuar assim para não abrir mão do
seu dom.
A Luisa é tão madura que até me espanto. Ela começou a ir à escola este
ano e, como não pode andar, compramos uma cadeira de rodas rosa pra ela
– que, por sinal, faz o maior sucesso com as amiguinhas, que até
disputam para ver quem vai ajudá-la na cadeira rosa.
Um dia, voltando da
aula, ela perguntou se conseguiria andar quando crescesse. Nunca quis
iludi-la e disse que não. Em vez de ficar triste, ela pensou um pouco e
respondeu da seguinte maneira:
“Vovó, eu não quero andar não. Quero ser
assim, porque se andasse e minhas mãos fossem maiores, eu não seria uma
grande artista”. Fiquei tão emocionada!
A verdade é que a Luisa nunca foi uma criança triste apesar das
limitações físicas. Lembro até hoje de quando a vi no berçário, após um
pré-natal aparentemente normal e saudável.
As perninhas dela formavam um
“V” e as mãos, pequeninas, faziam ganchinhos. Quando bebê, ela era uma
alegria só. Sou uma avó babona e não escondo!
Quando minha nora Danielle
e meu filho Jefferson se separam, cerca de um ano após o parto,
continuei presente e passei a assumir cada vez mais responsabilidades.
Não me importei porque os pais dela não tinham nem 20 anos e ficar com a
Luisa era lazer pra mim.
Eu estava presente quando a psicóloga do
hospital de reabilitação colocou pincéis, tinta e papel na frente dela. A
danada se arrastou com o quadril e abocanhou um pincel na hora. Foi
incrível como ela driblou a falta de mobilidade.
Desde então, comecei a
reparar que ela gostava muito de desenhar e nunca deixei faltar lápis de
cor, tinta e papel. Ela desenvolveu tamanha precisão de traço que até
assina o nome com a boca!
Fizemos uma exposição dela e vendemos 40 quadros.
Minha neta é muito viva. Ela já falava algumas palavras em inglês antes
de completar 2 anos, identificava números e sabia de cór o RG e CPF
dela. Sempre assistiu desenhos educativos e sobre artesanato.
A gente
percebe a cabeça boa que ela tem pelos quadros que pinta. Ela ama cores
vibrantes e quase não usa preto e marrom nos seus desenhos. Comentei
isso com a psicóloga e ela disse que aquilo era sinal de que minha
netinha é muito feliz!
A Luisa também é uma criança generosa. Sempre deu seus quadros como
presentes aos colegas e parentes. Uma vez, um amigo da família sugeriu
que vendêssemos as pinturas para custear os estudos da pequena lá na
frente.
Falei sobre isso com a Luisa e, durante um ano, ela pintou as
telas da futura exposição. Foram 40 ao todo, que expus na varanda de
casa com etiquetas de R$ 10 a R$ 25.
Convidei amigos e divulguei no
Facebook. Veio tanta gente que vendemos tudo por cerca de R$ 600 e
recebemos até encomendas! Ah, a Luiza transbordou de orgulho.
Investi o
dinheiro para comprar mais material de pintura e vamos devagar com a
ideia da poupança, mas esse dia fez com ela fortalecesse ainda mais sua
autoestima. Ela é mesmo grande na vida e na arte! - ANTONIA IVANETE
VIEIRA BEZERRA, 43 anos, cozinheira, Salvador, BA
Pintor afiliado ganha até bolsa!
Para incentivar artistas deficientes que pintam como a Luisa, foi
fundada em 1956 a Associação dos Pintores com a Boca e os Pés (APBP).
A
organização internacional conta com cerca de 800 artistas, 50 deles
brasileiros. Para entrar para a entidade, o portador da deficiência deve
ter habilidade com a boca ou com os pés e encaminhar de seis a dez obras
para avaliação de um júri técnico na Suíça, sede da APBP.
“Se for aprovado, o artista passa a receber uma bolsa mensal de 700
francos suíços, cerca de R$ 2.319, e passa a enviar uma obra à sede a
cada três meses”, fala Luciana Muniz, gerente de marketing da associação
em São Paulo.
Todo ano são escolhidos trabalhos para os cartões de
Natal. Se o artista tiver sua obra escolhida, ganha um valor extra. A
bolsa é reavaliada para renovação a cada três anos.
Fonte: Revista Sou Mais Eu / Vida Mais Livre
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