Calçadas quebradas e cheias de buracos. Árvores, postes e sacos de lixo
no meio do caminho.
Os desafios são inúmeros para os pedestres. No caso
da Carina Silva Souza, de 23 anos, as barreiras são ainda maiores.
Há
apenas um ano, ela utiliza uma bengala para se orientar. A estudante
nasceu prematura e com baixa visão.
Atualmente, só consegue distinguir quando é dia ou noite.
A reportagem da CBN caminhou com a Carina no bairro Vila Clementino, na região da Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo,
por ruas pouco conhecidas por ela.
Depois, foi feito o mesmo trajeto
com Edson Pereira do Rosário, de 35 anos. O revisor de livros em braile,
que já possui mais familiaridade com a bengala, também encontrou
dificuldades. ‘Um bueiro aberto, um orelhão e uma entrada de
estacionamento deixam a gente atento’, diz.
Na cidade de São Paulo, os responsáveis por imóveis, edificados ou não,
são obrigados a executar, manter e conservar os respectivos passeios. A
multa para quem está com a calçada danificada ou irregular é de R$ 300
por metro linear.
O prazo para adequações é de 60 dias e em caso de não
cumprimento da lei, o proprietário recebe novas sanções.
Porém, algumas rotas são definidas pelo Plano Emergencial de Calçadas. É
o caso das avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima.
As duas vias são
consideradas referência em acessibilidade. Praticamente toda a travessia
tem rampa para cadeirantes e piso tátil para pessoas com deficiência.
Encontramos no centro financeiro da cidade Gabrielle Silva Carvalho,
formada em biblioteconomia pela USP. Aos 33 anos de idade, ela sempre
usou cadeira de rodas para se locomover.
‘Aqui encontramos buraco, não
basta ter a rampa, porque elas possuem desníveis’, relata.
Seguindo pela Avenida Paulista no cruzamento com a Rua Augusta,
Gabriele sofreu um pequeno contratempo. Uma rampa íngreme a obriga a
fazer uma manobra arriscada com a cadeira de rodas.
Apesar do piso plano e das calçadas espaçosas em relação à maioria dos
passeios para pedestres, a Avenida Paulista tem outros problemas de
acessibilidade que só conhece quem possui alguma limitação.
Leonardo
Gleison Ferreira, de 27 anos, se orienta de acordo com o piso tátil, mas
enfrente problemas pelo fato dele não fazer a conexão com a maioria das
estações de Metrô.
O consultor em tecnologia assistiva no Instituto Laramara, Associação
Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, indicou
algumas falhas: o piso podotátil praticamente só leva de uma ponta para
outra da Avenida Paulista, mas não faz indicações importantes como
pontos de ônibus e entradas de estações.
Convidamos Leonardo para uma caminhada na Avenida Brigadeiro Faria
Lima, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. Em mais uma via,
considerada de alto padrão de acessibilidade, ele nos apresentou erros
na calçada.
O mais grave ocorre no cruzamento com a Avenida Eusébio Matoso. A
pessoa com deficiência visual é direcionada para uma mureta, em vez de
ser conduzida para a rampa de acesso ao semáforo. ‘Esse tipo de erro
pode levar alguém a cair’.
Mais uma dificuldade para quem tem algum tipo de deficiência visual foi
encontrada na saída da Estação Faria Lima. Seguindo pelo Largo da
Batata, não há piso tátil.
Em nota, a Subprefeitura de Pinheiros
informou que o piso tátil que leva a mureta guia esta de acordo com a
norma de acessibilidade.
Em relação à Avenida Paulista, a Subprefeitura da Sé reconheceu os
problemas, já que a última reforma das calçadas da avenida foi executada
há oito anos e que, em função da demanda gerada ao longo deste período,
está em andamento um novo projeto.
Um dos maiores desafios para quem tem mobilidade reduzida é atravessar
as ruas. A cidade de São Paulo tem atualmente 6.203 cruzamentos
semafóricos, porém apenas 14 equipamentos são sonoros, o que representa
0,22% do total. Os dispositivos ajudam orientar pessoas com deficiência
visual.
Leonardo Gleison me acompanhou em um desses pontos, na Rua Conselheiro
Brotero. ‘Se tivessem mais deles, facilitaria a nossa vida’, afirma.
Mas, nem todos compartilham a mesma opinião.
A estudante Carina Silva
Souza, por exemplo, que utiliza uma bengala para se orientar há um ano,
não se sente segura. ‘É uma ajuda, mas não confio. Não atravessaria com o
semáforo sonoro’, afirma.
O professor de orientação e mobilidade da Laramara (Associação
Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual), João Álvaro
de Moraes Felippe, explica que os semáforos sonoros auxiliam no
deslocamento de quem possui algum tipo de restrição, mas que ainda assim
será preciso da orientação de outras pessoas.
‘Fora do país, em muitas cidades, você já tem o semáforo visual e
auditivo juntos para o pedestre, o que facilita no caso de um deles
quebrar. Em termos de custo, quando você agrega duas funções também é
muito útil’, diz.
Em nota, a CET explicou que o semáforo sonoro é um equipamento para dar
maior segurança na travessia das pessoas com deficiência visual.
Esse
dispositivo é instalado em rotas definidas pela Secretaria Municipal da
Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida.
A Companhia de Engenharia
de Tráfego informou que existem três projetos em andamento para
instalação de dez botoeiras.
Fonte: CBN / Vida Mais Livre
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