Gestantes com deficiência visual podem se beneficiar de um novo uso de
impressoras 3D e passar pela emoção de conhecer melhor seu filho nos
exames do acompanhamento médico pré-natal.
A partir de imagens de
ultrassonografia e ressonância magnética são produzidas réplicas dos
fetos em tamanho real.
O G1 acompanhou, em São Paulo, a entrega de um
desses bonecos a uma gestante deficiente visual.
Camila Marinho, de 24 anos, ficou cega após um acidente que sofreu aos 8
anos de idade.
Na 32ª semana de gestação, Camila pôde conhecer melhor
as características de seu filho na última sexta-feira (11), quando
recebeu das mãos do ginecologista Heron Werner, dois moldes de plástico –
um de todo o corpo do bebê, feito a partir de uma ressonância magnética
e outro, só do rosto, a partir de um ultrassom. Assista na página da notícia original.
Emocionada, Camila segurou e tocou os moldes como se estivesse
carregando seu filho.
“É emocionante. Eu consigo tocar o que eu não estou vendo na tela. Eu imagino que a pessoa que enxerga deva sentir essa mesma sensação de emoção. Esperei muito pela entrega do boneco impresso”, disse.
Para a impressão das réplicas, as imagens produzidas nos exames médicos
são tratadas em um software de pós processamento de imagem.
É possível
que algumas partes do corpo do feto fiquem de fora, já que ele pode
estar encostado na placenta ou com o cordão umbilical enrolado.
A ideia é
reproduzi-lo exatamente como estava na barriga da mãe no momento do
exame.
Ao tocar o molde menor, feito a partir de ultrassom 3D e que reproduz apenas do rosto de seu filho, Camila afirmou:
“A boquinha dele é parecida com a minha”. Seu marido, Roger Marques, também deficiente visual, a acompanhou na consulta e concordou. Com a réplica em tamanho real nas mãos, disse sorrindo: “É a cara da mãe”.
Impressão
Os exames feitos para a impressão dos modelos entregues à Camila foram feitos em sua 24ª semana de gestação.
“No ultrassom, a gente tem a capacidade de pegar o feto [todo] até 17 semanas. Depois, o feto fica grande e então a gente se dedica mais à face”, explica Heron Werner, médico especialista em medicina fetal que idealizou o projeto.
Para a fabricação do molde de todo o corpo a gestante faz uma
ressonância magnética, que normalmente só é feita durante a gravidez
quando há alguma dúvida ou dificuldade no ultrassom, explica o médico.
As impressões, que são feitas no laboratório de biodesign da PUC-RJ ,
custam, em média, US$ 1.000, dependendo do material usado.
No entanto, o
ginecologista e a equipe acadêmica não cobram pelas consultas, os
exames e a impressão no caso de grávidas com deficiência visual.
O grupo de pesquisadores transferiu a tecnologia a uma empresa que atende laboratórios médicos e pode imprimir a pedido de mulheres sem deficiência.
Estudos patológicos
O trabalho começou em 2007 e foi desenvolvido junto com pesquisadores
no Instituto Nacional de Tecnologia, órgão ligado ao governo.
Inicialmente as impressões de réplicas 3D eram feitas a partir de
estudos de tomografia, depois passou a ser aplicado em estudos de
ressonância e, em 2009, de ultrassom.
O projeto nasceu com o objetivo de fornecer modelos para estudos
patológicos em universidades.
“É uma maneira de a gente melhorar essa interface do aluno com o estudo das patologias fetais e facilitar discussões multidisciplinares”, diz o Dr. Heron.
Também foram produzidos modelos para uma exposição permanente no Museu da Ciência de Londres e mostras temporárias em Nova York e Atenas.
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