Enquanto as vendas totais de veículos zero quilômetro no País vão de
mal a pior, com queda que supera 20% neste ano, em comparação com os
números de 2014, e a projeção é de fechar o ano com queda de 23,8% nos
licenciamentos, um nicho específico do setor automotivo segue em
ascensão.
Trata-se de carros destinados às pessoas com deficiência ou seus
familiares: o volume comercializado para esse público deve crescer 20%
em 2015, alcançando a marca de 100 mil carros, de acordo com projeção da
Associação Brasileira das Indústrias e Revendedores de Produtos e Serviços para Pessoas com Deficiência (Abridef).
Pode parecer pouco perto do tamanho do mercado da indústria automotiva
no País, que chegou no ano passado a 2,5 milhões de automóveis novos
vendidos. Mas o ritmo é expressivo.
Em 2012, haviam sido licenciados só
26 mil carros para pessoas com deficiência no País, número que subiu
para 46 mil em 2013 e atingiu 84 mil em 2014.
O presidente da Abridef,
Rodrigo Rosso, assinala que, não fosse a turbulência econômica, seria
possível chegar a 150 mil carros vendidos.
Obter melhores condições de
mobilidade é um dos fatores que ajudam a impulsionar essa demanda,
apesar da crise.
“O carro adaptado me dá muita liberdade”, conta, com satisfação, a jornalista de Santo André Maria Paula Vieira, 22 anos, que possui doença genética que atrofiou seus pés e mãos.
Ela comprou seu primeiro automóvel, um Honda Fit, há três anos. Ela
acrescenta que vantagens como isenções de IPI, ICMS e IOF, na primeira
compra, e de IPVA ajudaram.
“Com tanto gasto que já tenho devido à deficiência, ficaria complicado arcar com mais essas despesas.”
A possibilidade de ter autonomia motivou, desde cedo, a diretora de
marketing Alice da Silva, 49, de Cotia, que tem paraplegia.
“Cresci sem andar, e percebi que precisava cuidar de mim, para trabalhar e estudar”, diz. Ela também assinala: “Com os R$ 10 mil de abatimento do carro, eu gasto com cadeira de rodas e cadeira de banho, por exemplo”. Rosso cita que a economia na compra varia dependendo de cada Estado, mas pode chegar a 28% com esses descontos.
Toda essa economia motiva o aposentado Marcelo de Paula Torres, 42, de
Santo André.
Ele, que aos 19 foi atropelado e perdeu a perna esquerda,
recentemente comprou um automóvel de segunda mão e mandou fazer a
adaptação, colocando embreagem manual. Porém, para início de 2016, ele
planeja adquirir um carro zero e se beneficiar dos descontos.
Familiares
Outro motivador para impulsionar o mercado foi a mudança da legislação
que, a partir de janeiro de 2013, estendeu a isenção de IPI e ICMS a não
condutores, ou seja, favoreceu familiares que utilizam o automóvel para
transportar o deficiente.
A isenção do IOF no financiamento e do IPVA
até agora só vale quando o condutor tem alguma deficiência – no caso do
IPVA, há Estados que isentam também o familiar, mas não em São Paulo.
Falta de informações
A falta de informação ainda é um limitador que impede o crescimento
ainda mais rápido das vendas de veículos para pessoas com deficiência.
No entanto, na avaliação do presidente da Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, o foco das
empresas do ramo em atender necessidades específicas da população – como
nesse mercado – é uma tendência não só no Brasil, mas no mundo inteiro.
Rodrigo Rosso, da Abridef, cita que muita gente não sabe, mas os carros
adaptados, aos quais há direito a isenção, são acessíveis não apenas a
pessoas com deficiência, mas também a pessoas que têm patologias
(dependendo da gravidade), como diabetes, câncer de mama, HIV positivo,
mal de Parkinson, artrite, artrose e hérnia de disco, entre outras.
“Tem também uma parcela enorme da população que tem direito, os idosos que têm problemas no joelho, quadril etc”, assinala.
Para conseguir o desconto, é preciso passar por médicos credenciados
pelo Detran. Também é necessário, para dirigir carro adaptado, obter
habilitação própria.
Miriam Passarelli, diretora da autoescola
Javarotti, especializada nesse público, conta que passam, mensalmente,
pela unidade de Santo André, de 60 a 80 pessoas com deficiência.
Fundada
há 22 anos, a rede, hoje com dez filiais, está em expansão. Acaba de
abrir unidade em Mauá e está em vias de inaugurar filial em São Caetano.
Além da habilitação, é preciso juntar documentação na compra do carro,
como cartas da Receita Federal e da Secretaria da Fazenda do Estado.
O
processo é trabalhoso e Rosso avalia que compensa contratar despachante
especializado. Alice da Silva concorda. “É mais confortável, não preciso
perder o dia na Secretaria da Fazenda e na Receita em filas esperando”,
diz.
Alice trocou de carro no ano passado e adquiriu um Prisma, da
Chevrolet. Ela conta que, entre o tempo de juntar documentos pessoais,
holerite, extrato bancário e laudo médico expedido por clínica
credenciada do Detran e obter as cartas para o IPI e ICMS, mais a espera
para retirar o carro, foram cerca de três meses. Porém, tem gente que
demorou bem mais, como foi o caso de Maria Paula Vieira, que esperou
seis meses até receber o carro.
Evento
Com o apoio da Abridef, nos dias 19 e 20, será realizado o 1º Mobility
Show, evento no autódromo de Interlagos, em São Paulo, com entrada e
estacionamento gratuitos que concentrará, em um mesmo espaço, o que é
necessário para pessoas com deficiência, familiares, idosos e pessoas
com necessidades específicas se informarem sobre como aproveitar os
benefícios.
Haverá desde despachantes, médicos credenciados pelo Detran, montadoras
com veículos para test-drives, bancos, seguradoras a outras empresas e
instituições.
Além disso, para facilitar o deslocamento, terá transporte gratuito
partindo do Metrô Jabaquara para o local.
Para mais informações, acesse o
site do evento.
Fonte: Diário do Grande ABC / Vida Mais Livre
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