8 de set. de 2015

Vendas de veículos para pessoas com deficiência aceleram

Carro adaptado para pessoa com deficiência
 

Enquanto as vendas totais de veículos zero quilômetro no País vão de mal a pior, com queda que supera 20% neste ano, em comparação com os números de 2014, e a projeção é de fechar o ano com queda de 23,8% nos licenciamentos, um nicho específico do setor automotivo segue em ascensão.

 
Trata-se de carros destinados às pessoas com deficiência ou seus familiares: o volume comercializado para esse público deve crescer 20% em 2015, alcançando a marca de 100 mil carros, de acordo com projeção da Associação Brasileira das Indústrias e Revendedores de Produtos e Serviços para Pessoas com Deficiência (Abridef).


Pode parecer pouco perto do tamanho do mercado da indústria automotiva no País, que chegou no ano passado a 2,5 milhões de automóveis novos vendidos. Mas o ritmo é expressivo. 


Em 2012, haviam sido licenciados só 26 mil carros para pessoas com deficiência no País, número que subiu para 46 mil em 2013 e atingiu 84 mil em 2014. 


O presidente da Abridef, Rodrigo Rosso, assinala que, não fosse a turbulência econômica, seria possível chegar a 150 mil carros vendidos. 


Obter melhores condições de mobilidade é um dos fatores que ajudam a impulsionar essa demanda, apesar da crise. 


“O carro adaptado me dá muita liberdade”, conta, com satisfação, a jornalista de Santo André Maria Paula Vieira, 22 anos, que possui doença genética que atrofiou seus pés e mãos.


Ela comprou seu primeiro automóvel, um Honda Fit, há três anos. Ela acrescenta que vantagens como isenções de IPI, ICMS e IOF, na primeira compra, e de IPVA ajudaram. 


“Com tanto gasto que já tenho devido à deficiência, ficaria complicado arcar com mais essas despesas.”

 
A possibilidade de ter autonomia motivou, desde cedo, a diretora de marketing Alice da Silva, 49, de Cotia, que tem paraplegia.


 “Cresci sem andar, e percebi que precisava cuidar de mim, para trabalhar e estudar”, diz. Ela também assinala: “Com os R$ 10 mil de abatimento do carro, eu gasto com cadeira de rodas e cadeira de banho, por exemplo”. Rosso cita que a economia na compra varia dependendo de cada Estado, mas pode chegar a 28% com esses descontos.


Toda essa economia motiva o aposentado Marcelo de Paula Torres, 42, de Santo André. 


Ele, que aos 19 foi atropelado e perdeu a perna esquerda, recentemente comprou um automóvel de segunda mão e mandou fazer a adaptação, colocando embreagem manual. Porém, para início de 2016, ele planeja adquirir um carro zero e se beneficiar dos descontos.

 

Familiares


Outro motivador para impulsionar o mercado foi a mudança da legislação que, a partir de janeiro de 2013, estendeu a isenção de IPI e ICMS a não condutores, ou seja, favoreceu familiares que utilizam o automóvel para transportar o deficiente. 


A isenção do IOF no financiamento e do IPVA até agora só vale quando o condutor tem alguma deficiência – no caso do IPVA, há Estados que isentam também o familiar, mas não em São Paulo.

 

Falta de informações


A falta de informação ainda é um limitador que impede o crescimento ainda mais rápido das vendas de veículos para pessoas com deficiência. No entanto, na avaliação do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, o foco das empresas do ramo em atender necessidades específicas da população – como nesse mercado – é uma tendência não só no Brasil, mas no mundo inteiro.



Rodrigo Rosso, da Abridef, cita que muita gente não sabe, mas os carros adaptados, aos quais há direito a isenção, são acessíveis não apenas a pessoas com deficiência, mas também a pessoas que têm patologias (dependendo da gravidade), como diabetes, câncer de mama, HIV positivo, mal de Parkinson, artrite, artrose e hérnia de disco, entre outras. 


“Tem também uma parcela enorme da população que tem direito, os idosos que têm problemas no joelho, quadril etc”, assinala.


Para conseguir o desconto, é preciso passar por médicos credenciados pelo Detran. Também é necessário, para dirigir carro adaptado, obter habilitação própria. 


Miriam Passarelli, diretora da autoescola Javarotti, especializada nesse público, conta que passam, mensalmente, pela unidade de Santo André, de 60 a 80 pessoas com deficiência. 


Fundada há 22 anos, a rede, hoje com dez filiais, está em expansão. Acaba de abrir unidade em Mauá e está em vias de inaugurar filial em São Caetano.


Além da habilitação, é preciso juntar documentação na compra do carro, como cartas da Receita Federal e da Secretaria da Fazenda do Estado. 


O processo é trabalhoso e Rosso avalia que compensa contratar despachante especializado. Alice da Silva concorda. “É mais confortável, não preciso perder o dia na Secretaria da Fazenda e na Receita em filas esperando”, diz.
 

Alice trocou de carro no ano passado e adquiriu um Prisma, da Chevrolet. Ela conta que, entre o tempo de juntar documentos pessoais, holerite, extrato bancário e laudo médico expedido por clínica credenciada do Detran e obter as cartas para o IPI e ICMS, mais a espera para retirar o carro, foram cerca de três meses. Porém, tem gente que demorou bem mais, como foi o caso de Maria Paula Vieira, que esperou seis meses até receber o carro.

 

Evento


Com o apoio da Abridef, nos dias 19 e 20, será realizado o 1º Mobility Show, evento no autódromo de Interlagos, em São Paulo, com entrada e estacionamento gratuitos que concentrará, em um mesmo espaço, o que é necessário para pessoas com deficiência, familiares, idosos e pessoas com necessidades específicas se informarem sobre como aproveitar os benefícios.


Haverá desde despachantes, médicos credenciados pelo Detran, montadoras com veículos para test-drives, bancos, seguradoras a outras empresas e instituições.


Além disso, para facilitar o deslocamento, terá transporte gratuito partindo do Metrô Jabaquara para o local. 


Para mais informações, acesse o site do evento.  






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