Uma inovadora intervenção terapêutica para minimizar os declínios
motores, cognitivos, neuromusculares e na qualidade de vida de pacientes
com doença de Parkinson é proposta em pesquisa da Escola de Educação
Física e Esporte (EEFE) da USP.
O treinamento de musculação, associado a
acessórios de ginástica que causam desequilíbrio corporal, apresentou
benefícios não observados no treinamento de musculação tradicional.
Esses acessórios (como bolas grandes ou pequenas de ginástica
que causam desequilíbrio quando se fica em pé sobre elas ou quando são
colocadas na base de suporte dos pacientes), ao serem adicionados aos
aparelhos de musculação, aumentaram a força muscular, melhoraram o
equilíbrio, o controle motor e a função cognitiva graças à complexidade
do movimento quando o paciente realiza este treino (chamado de
treinamento de força com instabilidade).
Entre os acessórios utilizados
estão: blocos de EVA, dyna discs, balance disc, bosu, physioball. O
estudo faz parte da tese de doutorado da pesquisadora Carla da Silva
Batista orientado pelo professor Carlos Ugrinowitsch.
Os voluntários que participaram da pesquisa foram divididos em três
grupos: o grupo controle (que não recebeu qualquer treinamento), o grupo
de treinamento de força e o grupo de treinamento de força com
instabilidade.
Duas vezes por semana, os dois últimos grupos realizaram
um programa de cinco exercícios em aparelhos de musculação (agachamento,
puxada pela frente, leg press, chest press e flexão plantar) durante 12
semanas.
Participaram do estudo 39 pacientes com doença de Parkinson de ambos
os gêneros que foram recrutados da Associação Brasil Parkinson, em São
Paulo.
Os testes foram realizados na EEFE e os treinamentos no Centro de
Estudos em Psicobiologia e Exercício do Instituto do Sono na Vila
Mariana.
Melhor estratégia
“As pessoas do grupo que realizou exercícios de musculação com acessórios que causam instabilidade corporal eram desafiadas constantemente”, conta a pesquisadora.
Ficou constatado que este tipo de
treinamento é a melhor estratégia para aproximar pacientes com doença
de Parkinson dos valores observados em pessoas saudáveis que não
realizaram treinamento algum.
No grupo em que foi aplicado apenas o
treinamento de força tradicional, não foram verificados benefícios
relacionados à doença.
Em ambos os grupos houve aumento da massa
muscular. Os pacientes não apresentaram qualquer efeito adverso após os
treinamentos.
Estudos recentes demonstraram que intervenções de alta complexidade
motora produz neuroplasticidade cerebral em idosos saudáveis, melhorando
sua função cognitiva e controle motor.
Isso quer dizer que intervenções
de alta complexidade motora podem aumentar a capacidade de o sistema
nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões de
experiência de uma perspectiva estrutural (configuração sináptica) ou
funcional (modificação do comportamento).
A pesquisadora acredita que o
treinamento de força com instabilidade produziu um efeito semelhante nos
pacientes com doença de Parkinson e daí os bons resultados produzidos
pela intervenção.
Pioneirismo
Nos últimos 12 anos, o treinamento de força tradicional tem sido uma das
estratégias mais utilizadas para tentar reverter o quadro negativo
causado pela doença.
No entanto, pesquisadores não têm encontrado
alterações clinicamente detectáveis nos sintomas da doença após o
treinamento de força tradicional.
A pesquisa de Carla demonstrou pela
primeira vez a eficiência do treinamento de força com instabilidade, o
que pode fornecer um importante complemento ao tratamento farmacológico,
que, em longo prazo, perde a sua efetividade, produz vários efeitos
adversos e cujo custo é relativamente alto para indivíduos de baixa
renda. Um vídeo sobre a pesquisa pode ser visto neste link.
A pesquisa ganhou o primeiro lugar na “4ª Edição do Prêmio
Pemberton”, promovido pela Coca-Cola Brasil, na categoria Pesquisa
Aplicada.
A iniciativa é voltada a profissionais, instituições de
pesquisa e universidades, nas diferentes áreas da Saúde e afins, tais
como medicina, educação física, nutrição, biologia, engenharia de
alimentos, etc.
Seu objetivo é incentivar pesquisas científicas com foco
em bem-estar e nos requisitos para uma vida saudável, tais como os
benefícios da alimentação equilibrada, da hidratação e da prática de
exercícios físicos. A entrega do prêmio aconteceu no último dia 25 de
agosto, em São Paulo.
Fonte:Agência USP de Notícia
Nenhum comentário:
Postar um comentário