Um músico brasileiro de 30 anos, diagnosticado com um raro tipo de câncer nos EUA, lançou uma campanha online para levantar fundos para um tratamento em que aposta em uma abordagem positiva.
Em vídeos da campanha no site Gofundme, Wagner
Caldas aparece raspando o cabelo por causa quimioterapia e exibe o
mesmo sorriso e energia que mostra nos palcos dos EUA, tocando
cavaquinho ao lado do irmão gêmeo, Walter.
A campanha, realizada com amigos, tem o mote "Meu diagnóstico não me define", e usa a hashtag #cantcer - jogo de palavras com can't, 'não pode' em inglês, e câncer.
"O
câncer pode fazer muita coisa com você, te destruir, destruir sua
família, acabar com seu alto astral, com sua vida. Aí eu usei cantcer, porque não vou deixar isso acontecer comigo. Comigo, o câncer não vai poder fazer isso."
Cobaias
Superação não é algo inédito na vida de Wagner.
Nascidos na favela da Grota, em Niterói, Wagner e Walter, aprenderam a tocar música clássica em um projeto social.
Com o sucesso da Orquestra de Cordas da Grota, foram convidados para estudar música na Universidade de Northern Iowa, nos Estados Unidos.
Como a avó dele não tinha dinheiro para criar o filho, deixou-o em uma institução para menores, então a Funabem.
Ali, Jonas aprendeu o ofício de marceneiro e, mais velho, começou a fabricar violinos.
Mas ele não sabia tocar, e queria que alguém testasse os violinos para saber se estavam bons. Quando os filhos Wagner e Walter tinham 11 anos, decidiu que eles seriam os cobaias.
Os dois estiveram entre os primeiros integrantes da Orquestra de Cordas da Grota, onde tocavam o instrumento.
"Hoje eu sou quem sou por causa da música. Onde eu cresci, tudo que eu vi... eu tinha uma chance muito grande de nem estar vivo hoje, igual a um monte de amigos meus que não fizeram música", diz ele.
Bolsa de estudos
Na orquestra, em que tocaram por 12 anos, os dois tocavam música clássica e brasileira e faziam sucesso ao tocar clássicos como Brasileirinho sambando ao mesmo tempo em que tocavam.
Em
2006, deram uma entrevista para uma rádio americana que gerou um
convite para tocar nos EUA. Após o show, receberam uma bolsa de estudos
da Universidade de Northern Iowa.
Sem falar inglês, os dois partiram para os EUA em 2007. Wagner diz
que os dois se destacaram pelo jeito brasileiro e capacidade de
improvisação e, assim, decidiram formar uma nova banda.
Foi aí que Wagner trocou o violino pelo cavaquinho.
Diagnóstico
"A verdade é que o meu irmão sempre foi bem melhor do que eu", conta, rindo. "Então comecei no cavaquinho. O instrumento brasileiro é diferente, é raro ter banda com cavaquinho, então isso deu um charme."
Na banda Brazilian 2wins, os dois incluíram pop e rock no repertório e foram tocar em diversos Estados americanos.
Chegaram a se apresentar para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do qual, contam, arrancaram elogios.
Mas, há cerca de um ano, Wagner começou a sentir dor no braço e nas mãos. A princípio, pensou que fosse muscular, por causa da profissão.
Chegou
a fazer uma cirurgia porque os médicos pensaram que fosse um problema
no nervo. Mas, dois meses após o procedimento, não sentiu melhora.
Descobriu então um caroço no peito, perto do ombro, e foi diagnosticado com sarcoma de Ewing, um tipo raro de câncer.
O
caso se torna mais único ainda por ter aparecido em um homem adulto e
negro; este tipo de câncer é mais frequente em crianças brancas, de
acordo com os médicos de Wagner.
Mas ele afirma não ter desanimado
com o diagnóstico. Ele tinha um show marcado dois dias depois; contou
do câncer apenas para seu irmão e fez a apresentação.
Também
enfrentou assim o corte de cabelo - diz que os cabelos crespos estavam
"pendurados" quando raspou a cabeça, duas semanas após o início do
tratamento.
"Não tem tempo ruim", brinca.
O que desanimou Wagner foi a conta do hospital. "Foi tudo muito rápido. Cheguei para fazer o exame, descobri o câncer e, só nesse dia, a conta do hospital foi de quase US$ 40 mil (cerca de RS$ 143 mil)", diz ele.
Por isso, Wagner e seus amigos iniciaram uma campanha de arrecadação na internet. Em um mês, arrecadaram US$ 10 mil. A meta é chegar aos US$ 150 mil, para ajudar com o tratamento e outros custos.
O músico, que vive nos EUA há dez anos, decidiu não voltar ao Brasil para fazer o tratamento porque os médicos que o acompanharam desde o início eram americanos e ele está sendo atendido em um centro especializado neste tipo de câncer.
Com a quimioterapia, ele não está mais fazendo shows - seu irmão está se apresentando com o resto da banda.
Mas ele não perde a positividade.
"Do jeito que penso é que não sou o primeiro nem o último a ter câncer, está em tudo quanto é lugar. Sou só mais um, vai dar tudo certo, não adianta ficar estressado ou triste. Meu objetivo é ficar positivo para fazer minha parte, que é comer bem, ficar ativo e me cuidar."
Fonte: BBC Brasil
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