10 de set. de 2015

Pessoas com deficiência física vão além do habitual e praticam rapel urbano

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Muitas pessoas ligam o rapel à natureza, sem imaginar que essa atividade pode ser realizada também em meio aos prédios de São Paulo, ou até mesmo em viadutos, como o da Sumaré. 


Por ter como base técnicas de resgate, qualquer pessoa pode se arriscar e praticar o esporte, desde que bem orientada. 


É nisso que o grupos Sem Limite e o Rapel Friends Adventure R.A e os funcionários do Centro Especializado de Reabilitação (CER IV) M’Boi Mirim acreditam, tanto que no mês passado realizaram a quarta edição do Rapel Inclusivo, voltado aos atendidos que possuem deficiência física.


Alan Ferreira, amante de esportes radicais, é criador do grupo Sem Limite, que realiza com periodicidade a prática do rapel na ponte da Av. Sumaré. 


Sua primeira experiência com uma pessoa em cadeira de rodas realizando rapel aconteceu há 15 anos. 


“Nesta primeira vez, a pessoa desceu equipada junto com a cadeira e foi uma manobra 100% perfeita”, explicou Alan.


Tempo depois, Alan conheceu o fisioterapeuta Eduardo Moreira, que trabalha há cinco anos com reabilitação no Serviço CER IV M’Boi Mirim, antigo NIR/NISA M’Boi Mirim. 


O espaço foi habilitado, em dezembro de 2013, pela Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com o governo federal, para atender pessoas com deficiência física, auditiva, visual e intelectual. 


Integrado à Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o centro se difere por realizar atendimento humanizado e contar com uma equipe multidisciplinar formada por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, médicos, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros.


Eduardo teve a ideia de trazer alguns dos atendidos que utilizam cadeira de rodas para a prática do rapel a partir da sugestão de um paciente que está se recuperando de um Acidente Vascular Encefálico (AVE) e que, durante uma das terapias, perguntou se poderia voltar a praticar esportes. 


“Confesso que pensei em uma atividade esportiva mais convencional, como natação e futebol”, comentou o fisioterapeuta sobre sua surpresa com o pedido do paciente que, em suas palavras, gostaria de “saltar da ponte”, fazendo alusão à prática do rapel.


Para que a ideia se tornasse factível, foi preciso adaptar a atividade - que consiste em descer paredões verticais com uso de cordas e equipamentos adequados para que pessoas com deficiência física pudessem usufruir do esporte com segurança. 


Alan explicou que “o ideal é fazer um rapel guiado para a pessoa descer mais livre, sem contato com parede, árvores e também sem a cadeira de rodas”.


A parceria do grupo Sem Limite com o Rapel Friends Adventure R.A e o CER IV M’Boi Mirim concretizou a ideia do fisioterapeuta e, no dia 18 de março, cerca de 5 cadeirantes participaram do primeiro rapel inclusivo da ponte da avenida Sumaré. 


“Todos assinam um termo de responsabilidade, e são monitorados os sinais vitais e condições emocionais para a descida”, explicou Eduardo. 


Após o sucesso, ocorreram três eventos subsequentes, que contaram com a participação de 7 a 10 pessoas em cadeiras de rodas.


Vagner Sampaio possui deficiência física e participou do rapel a convite de Eduardo. 


“Sempre gostei de todos os tipos de esporte, mas essa foi a minha primeira experiência com esporte radical desde que sofri o acidente de moto no qual perdi uma perna”, conta o participante.

Vagner ainda relata que se sentiu bastante seguro para realizar a atividade e que os profissionais que o auxiliaram são bastante cuidadosos. 


Sobre as sensações de praticar novamente um esporte radical, ele afirma: “É bem relaxante, particularmente gostei muito. Com o esporte e com a adrenalina, a gente sai um pouco da realidade”.


Pessoa com deficiência nos esportes radicais



Alan conta que a inclusão na prática de esportes radicais é muito importante para a autoestima da pessoa com deficiência e também para a sua saúde física e mental. 


Ressalta, porém, que para a prática de qualquer esporte radical, as pessoas devem “checar se realmente o instrutor está capacitado para fazer o evento e se os equipamentos estão em perfeita condições de uso”.


Em tese qualquer pessoa com deficiência física poderá praticar o rapel desde que a atividade seja monitorada por equipe especializada, explica Eduardo. O fisioterapeuta ressalta, porém, que é contra indicado praticar o rapel em alguns casos. 


“Pacientes em tratamento de úlceras por pressão não devem realizar a atividade, pois o equipamento utilizado pode complicar as lesões; doenças cardíacas pré-existentes e pessoas sem acompanhamento de especialista também entram na lista de contra indicação”, esclarece.


Eduardo planeja realizar o rapel inclusivo uma vez por mês e trazer pessoas com outras deficiências para a atividade. 


“A própria palavra rapel em francês significa chamar ou recuperar, promovendo inclusão através do esporte sem significativas diferenças entre a prática do cadeirante e do andante. O rapel vertical para cadeirantes permite uma liberdade em relação à cadeira e potencializa os locais para prática do esporte, tais como pontes ou prédios”, concluiu o fisioterapeuta.



 
 

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