Muitas pessoas ligam o rapel à natureza, sem imaginar que essa
atividade pode ser realizada também em meio aos prédios de São Paulo, ou
até mesmo em viadutos, como o da Sumaré.
Por ter como base técnicas de
resgate, qualquer pessoa pode se arriscar e praticar o esporte, desde
que bem orientada.
É nisso que o grupos Sem Limite e o Rapel Friends
Adventure R.A e os funcionários do Centro Especializado de Reabilitação
(CER IV) M’Boi Mirim acreditam, tanto que no mês passado realizaram a
quarta edição do Rapel Inclusivo, voltado aos atendidos que possuem
deficiência física.
Alan Ferreira, amante de esportes radicais, é criador do grupo Sem
Limite, que realiza com periodicidade a prática do rapel na ponte da Av.
Sumaré.
Sua primeira experiência com uma pessoa em cadeira de rodas
realizando rapel aconteceu há 15 anos.
“Nesta primeira vez, a pessoa desceu equipada junto com a cadeira e foi uma manobra 100% perfeita”, explicou Alan.
Tempo depois, Alan conheceu o fisioterapeuta Eduardo Moreira, que
trabalha há cinco anos com reabilitação no Serviço CER IV M’Boi Mirim,
antigo NIR/NISA M’Boi Mirim.
O espaço foi habilitado, em dezembro de
2013, pela Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com o governo
federal, para atender pessoas com deficiência física, auditiva, visual e
intelectual.
Integrado à Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o centro se difere por realizar
atendimento humanizado e contar com uma equipe multidisciplinar formada
por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, médicos,
psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros.
Eduardo teve a ideia de trazer alguns dos atendidos que utilizam
cadeira de rodas para a prática do rapel a partir da sugestão de um
paciente que está se recuperando de um Acidente Vascular Encefálico
(AVE) e que, durante uma das terapias, perguntou se poderia voltar a
praticar esportes.
“Confesso que pensei em uma atividade esportiva mais
convencional, como natação e futebol”, comentou o fisioterapeuta sobre
sua surpresa com o pedido do paciente que, em suas palavras, gostaria de
“saltar da ponte”, fazendo alusão à prática do rapel.
Para que a ideia se tornasse factível, foi preciso adaptar a
atividade - que consiste em descer paredões verticais com uso de cordas e
equipamentos adequados para que pessoas com deficiência física
pudessem usufruir do esporte com segurança.
Alan explicou que “o ideal é
fazer um rapel guiado para a pessoa descer mais livre, sem contato com
parede, árvores e também sem a cadeira de rodas”.
A parceria do grupo Sem Limite com o Rapel Friends Adventure R.A e o
CER IV M’Boi Mirim concretizou a ideia do fisioterapeuta e, no dia 18 de
março, cerca de 5 cadeirantes participaram do primeiro rapel inclusivo
da ponte da avenida Sumaré.
“Todos assinam um termo de responsabilidade, e são monitorados os sinais vitais e condições emocionais para a descida”, explicou Eduardo.
Após o sucesso, ocorreram três eventos
subsequentes, que contaram com a participação de 7 a 10 pessoas em
cadeiras de rodas.
Vagner Sampaio possui deficiência física e participou do rapel a
convite de Eduardo.
“Sempre gostei de todos os tipos de esporte, mas essa foi a minha primeira experiência com esporte radical desde que sofri o acidente de moto no qual perdi uma perna”, conta o participante.
Vagner ainda relata que se sentiu bastante seguro para realizar a
atividade e que os profissionais que o auxiliaram são bastante
cuidadosos.
Sobre as sensações de praticar novamente um esporte radical,
ele afirma: “É bem relaxante, particularmente gostei muito. Com o
esporte e com a adrenalina, a gente sai um pouco da realidade”.
Pessoa com deficiência nos esportes radicais
Alan conta que a inclusão na prática de esportes radicais é muito
importante para a autoestima da pessoa com deficiência e também para a
sua saúde física e mental.
Ressalta, porém, que para a prática de
qualquer esporte radical, as pessoas devem “checar se realmente o
instrutor está capacitado para fazer o evento e se os equipamentos estão
em perfeita condições de uso”.
Em tese qualquer pessoa com deficiência física poderá praticar o
rapel desde que a atividade seja monitorada por equipe especializada,
explica Eduardo. O fisioterapeuta ressalta, porém, que é contra
indicado praticar o rapel em alguns casos.
“Pacientes em tratamento de úlceras por pressão não devem realizar a atividade, pois o equipamento utilizado pode complicar as lesões; doenças cardíacas pré-existentes e pessoas sem acompanhamento de especialista também entram na lista de contra indicação”, esclarece.
Eduardo planeja realizar o rapel inclusivo uma vez por mês e trazer
pessoas com outras deficiências para a atividade.
“A própria palavra rapel em francês significa chamar ou recuperar, promovendo inclusão através do esporte sem significativas diferenças entre a prática do cadeirante e do andante. O rapel vertical para cadeirantes permite uma liberdade em relação à cadeira e potencializa os locais para prática do esporte, tais como pontes ou prédios”, concluiu o fisioterapeuta.
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