Vanna Belton, de Baltimore,
EUA, possuía deficiência visual total há mais de 5 anos. Após passar
por uma cirurgia pela qual células-tronco extraídas de sua medula óssea
foram injetadas na retina de seu olho direito e no nervo óptico do olho
esquerdo, ela recuperou parcialmente sua visão.
Embora
a recuperação de Belton seja notável, o tratamento causou muita
discussão.
O médico que realizou o procedimento com células-tronco, o
oftalmologista Jeffrey N. Weiss, pulou muitas etapas para realizar o
tratamento em outras 227 pessoas.
Mesmo ele não podendo explicar porque a
prática funciona, além de estar ignorando os passos básicos de teste
clínico – como testar em animais ou em grupos controlados.
A
justificativa de Weiss é que esses testes demoram muito, e ele
descobriu como burlar o sistema e começar a testar seu novo tratamento
dentro de seus próprios termos.
Tudo o que ele tinha a fazer era
registrar seus testes em humanos nos Institutos Nacionais de Saúde, que
geralmente pedem a aprovação da Food and Drug Administration dos EUA (FDA) antes de quaisquer medicamentos – novos ou estabelecidos – poderem ser testados em humanos.
O
problema é que as células-tronco não são classificadas como uma droga –
elas são extraídas do corpo do paciente, passando por muito pouco
processamento.
Assim, Weiss foi capaz de contornar a aprovação da FDA
para registrar seus ensaios, com a aprovação da Sociedade Internacional
de Medicina Celular, um grupo independente que apoia a terapia celular,
com sede em Nevada.
Assim,
sem estar ligado a uma universidade ou instituto de pesquisa, Weiss,
cobra cerca de 20 mil dólares por paciente para realizar o seu
tratamento com células-tronco e não oferece nenhuma promessa de cura.
Mas ele garante que 60% de seus 278 pacientes – que ficaram cegos por
conta de doenças como degeneração macular e glaucoma – recuperaram
alguma visão após o procedimento, segundo estudo de caso publicado na
revista Neural Regeneration Research.
Vanna
Belton perdeu a visão em questão de semanas, em 2009, devido a um grave
caso de neurite óptica – uma inflamação de um nervo óptico que causa
visão progressivamente borrada, pois o nervo já não pode se comunicar
com o cérebro.
Até recentemente, sombras escuras eram a única coisa que
ela podia ver, e usava uma bengala – além de vários dispositivos
tecnológicos – para se locomover.
Depois de passar pelo procedimento
cirúrgico de 4,5 horas de Weiss, ela gradualmente recuperou um pouco de
sua visão.
Agora ela pode ler menus, placas de rua e locomover-se sem a
bengala. Além disso, viu o rosto do seu parceiro pela primeira vez em
cinco anos.
Porém,
o procedimento não é uma cura, e Belton ainda é considerada legalmente
cega. Apesar de algumas pessoas pagarem o alto valor desavisadas se
poderão enxergar um pouco novamente, o maior problema é que ninguém pode
explicar como o tratamento realmente funciona.
Por exemplo, como
explicar o fato de que Vanna recuperou a visão em ambos os olhos, apesar
de as células-tronco terem sido injetadas na retina de seu olho direito
e no nervo óptico do olho esquerdo? Isso significa que não importa onde
as células-tronco sejam injetadas no olho? Se esse for o caso, como é
que o tratamento funciona?
Weiss
diz que ele – ou alguém – vai descobrir isso eventualmente, mas
pesquisas anteriores apontam para duas possibilidades: as células-tronco
injetadas reanimam as células-tronco com defeito no olho, ou as
substituem.
“Nós não soubemos como a penicilina trabalha por muitos anos, mas ela salvou muitas vidas nesse meio tempo. É uma arrogância pensar que algo não pode ser aplicado até que se entenda como e o porquê. É mais importante que o paciente enxergue, não que eu descubra algo”, disse Weiss em entrevista ao Baltimore Sun.
Atualmente
existe uma série de estudos clínicos em curso nos EUA, sobre o
potencial dos tratamentos com células-tronco.
No final do ano passado,
houve a primeira pessoa no Reino Unido a receber tratamento com
células-tronco para cegueira (os resultados ainda não foram anunciados),
por isso, provavelmente, o tratamento ainda será muito falado.
O que
outros pesquisadores da área estão realmente esperando é um relatório
adequado dos 278 pacientes de Weiss, sendo revisado por pares e
vasculhando pistas que expliquem o mecanismo que está restaurando a
visão de alguns, mas não de outros.
Outra
desvantagem de buscar resultados antes de compreender plenamente a
Ciência é que não está claro se o tratamento adicional irá prejudicar ou
impedir o progresso de Vanna e outros pacientes.
A mulher está agendada
para receber mais injeções celulares, mas foi avisada de que, embora
ela possa enxergar ainda mais, ela também pode perder a visão
parcialmente restaurada. “Estou feliz por ser uma cobaia”, concluiu ela.
Fonte: Jornal Ciência
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