17 de mar. de 2016

Quem inclui quem?



As pessoas com deficiência geralmente têm a expectativa de serem incluídas nos mais diversos contextos. 


Elas esperam que, em meio às situações do dia a dia, aqueles que não têm deficiência sejam capazes de reconhecer suas demandas e saibam como agir em favor de que elas tenham plena participação social.


Entretanto, o que nos acontece na prática é bem ao contrário. Muitas vezes, somos nós, pessoas com deficiência, que precisamos incluir os outros em nosso mundo.
 

Partindo do princípio de que nosso universo seja desconhecido para eles, cabe a nós termos sensibilidade e empatia para introduzi-los às nossas questões.


Tomemos como exemplo a inclusão de pessoas com deficiência visual em uma sala de aula regular. 


Frequentemente, nós cegos esperamos que de antemão os professores já saibam como nos explicar o conteúdo de suas disciplinas sem se valerem de artefatos visuais. Não, eles não sabem! 


Como esperar isso de alguém que deu aula desde sempre utilizando estes recursos? 


Ao contrário, somos nós que precisamos explicar aos professores (mil vezes se necessário) como eles podem transmitir o conteúdo a quem não vê, sem fazer desenhos não descritos e sem apontar para a lousa dizendo "este aqui" e "aquele ali".


Da mesma forma, nós esperamos que os professores nos indiquem as melhores ferramentas de tecnologia assistiva que poderíamos utilizar para acompanhar suas aulas. Doce ilusão! 


Na verdade, os professores geralmente nem sabem o que é Tecnologia Assistiva, quanto mais teriam condições de nos indicar algum recurso dessa espécie! 


Ao contrário, somos nós que precisamos mostrar a eles o que é uma reglete, o que é uma máquina braille, um leitor de telas, uma linha braille e uma impressora braille


Somos nós que temos de apontar os melhores recursos, e não nossos docentes, que na maioria dos casos nem fazem ideia da existência deles!


Igualmente, nós que somos cegos requeremos tempo adicional para realizarmos algumas atividades que pedem de nós uma maior concentração e empenho. 


Ao contrário, somos nós que precisamos dar aos professores tempo adicional, o tempo necessário para que eles nos compreendam. 


São eles que precisam de tempo extra, para assimilarem questões com as quais eles nunca se depararam.
 

Precisamos tomar consciência de que estamos lidando com quem não sabe e nunca viu! Por isso, devemos ter paciência para dar a conhecer nossa realidade desde o be-a-bá!


A inclusão, portanto, é um processo mutuamente construído. De forma alguma as pessoas com deficiência podem apenas reagir às condutas tidas como inclusivas. Elas precisam tomar a frente do processo, serem proativas e responsáveis por ele. 

 
A inclusão acontece na medida do empenho das pessoas com deficiência. Se há falhas nesse processo, é porque nós falhamos, é porque nós esperamos demais de quem não pode dar.

 
Precisamos mobilizar profissionais especializados que favoreçam nossa inclusão e instrumentalizem alunos e professores acerca dos recursos mais avançados.

 
Precisamos motivar nossas famílias todos os dias para que elas sejam nosso fiel apoio. 


Precisamos encantar nossos professores, para que eles, de dentro para fora, acreditem na inclusão e a façam acontecer. 


Precisamos falar sobre o tema, falar e falar muitas vezes a mesma coisa, até que o discurso ecoe por todos os cantos e enfim se transforme em prática!







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