As pessoas com deficiência geralmente
têm a expectativa de serem incluídas nos mais diversos contextos.
Elas
esperam que, em meio às situações do dia a dia, aqueles que não têm
deficiência sejam capazes de reconhecer suas demandas e saibam como agir
em favor de que elas tenham plena participação social.
Entretanto, o que nos acontece na
prática é bem ao contrário. Muitas vezes, somos nós, pessoas com
deficiência, que precisamos incluir os outros em nosso mundo.
Partindo
do princípio de que nosso universo seja desconhecido para eles, cabe a
nós termos sensibilidade e empatia para introduzi-los às nossas
questões.
Tomemos como exemplo a inclusão de
pessoas com deficiência visual em uma sala de aula regular.
Frequentemente, nós cegos esperamos que de antemão os professores já
saibam como nos explicar o conteúdo de suas disciplinas sem se valerem
de artefatos visuais. Não, eles não sabem!
Como esperar isso de alguém
que deu aula desde sempre utilizando estes recursos?
Ao contrário, somos
nós que precisamos explicar aos professores (mil vezes se necessário)
como eles podem transmitir o conteúdo a quem não vê, sem fazer desenhos
não descritos e sem apontar para a lousa dizendo "este aqui" e "aquele
ali".
Da mesma forma, nós esperamos que os
professores nos indiquem as melhores ferramentas de tecnologia assistiva
que poderíamos utilizar para acompanhar suas aulas. Doce ilusão!
Na
verdade, os professores geralmente nem sabem o que é Tecnologia
Assistiva, quanto mais teriam condições de nos indicar algum recurso
dessa espécie!
Ao contrário, somos nós que precisamos mostrar a eles o
que é uma reglete, o que é uma máquina braille, um leitor de telas, uma
linha braille e uma impressora braille.
Somos nós que temos de apontar
os melhores recursos, e não nossos docentes, que na maioria dos casos
nem fazem ideia da existência deles!
Igualmente, nós que somos cegos
requeremos tempo adicional para realizarmos algumas atividades que pedem
de nós uma maior concentração e empenho.
Ao contrário, somos nós que
precisamos dar aos professores tempo adicional, o tempo necessário para
que eles nos compreendam.
São eles que precisam de tempo extra, para
assimilarem questões com as quais eles nunca se depararam.
Precisamos
tomar consciência de que estamos lidando com quem não sabe e nunca viu!
Por isso, devemos ter paciência para dar a conhecer nossa realidade
desde o be-a-bá!
A inclusão, portanto, é um processo mutuamente construído. De forma alguma as pessoas com deficiência podem apenas reagir às condutas tidas como inclusivas. Elas precisam tomar a frente do processo, serem proativas e responsáveis por ele.
A
inclusão acontece na medida do empenho das pessoas com deficiência. Se
há falhas nesse processo, é porque nós falhamos, é porque nós esperamos
demais de quem não pode dar.
Precisamos mobilizar profissionais
especializados que favoreçam nossa inclusão e instrumentalizem alunos e
professores acerca dos recursos mais avançados.
Precisamos motivar
nossas famílias todos os dias para que elas sejam nosso fiel apoio.
Precisamos encantar nossos professores, para que eles, de dentro para
fora, acreditem na inclusão e a façam acontecer.
Precisamos falar sobre o
tema, falar e falar muitas vezes a mesma coisa, até que o discurso ecoe
por todos os cantos e enfim se transforme em prática!
Fontes: Site Correio Popular / Diversidade na Rua
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