São comuns os aplicativos na internet que fazem tradução entre diferentes idiomas. A novidade é uma ferramenta digital que transforma textos, imagens e arquivos de áudio em uma língua especial: sinais para surdos.
O programa foi desenvolvido por três alagoanos e acaba de receber um importante prêmio internacional. O Mãos que Falam venceu o World Summit Award Mobile (WSA-Mobile), uma competição bienal promovida pelas Nações Unidas e parceiros. Representantes de 100 países participaram da disputa que escolheu 40 finalistas
em oito categorias. Hugo, o avatar do aplicativo que usa as mãos para
conversar com os usuários, levou para casa o prêmio da categoria Inclusão.
O personagem funciona como interface para traduzir conteúdos digitais na Linguagem Brasileira de Sinais (Libras).
“Esta é a primeira língua que os surdos aprendem, só depois vem o
português”, explica o Diretor Executivo do projeto, Ronaldo Tenório, um
dos três idealizadores do Mãos que Falam.
Segundo ele, ainda existe um percentual elevado de surdos que não entende bem português e que, por diferentes motivos, abandonou a escola sem uma alfabetização completa. O programa pretende facilitar a compreensão.
O software reconhece as palavras de uma mensagem de texto, por exemplo,
e o personagem Hugo interpreta o significado em Libras. O caminho
inverso – a possibilidade de responder em libras que seriam convertidas
em texto – faz parte dos planos para uma segunda etapa do projeto.
Os
cuidados agora estão em aperfeiçoar os códigos que funcionam como
cérebro do avatar: quanto mais for usado, mais precisas se tornam as
traduções.
Hugo também ajuda na interpretação de imagens que tenham texto, como a
capa de um jornal. O usuário fotografa a página e a imagem é varrida
pelo programa em busca de caracteres. Um sistema de reconhecimento lê o
conteúdo, que é traduzido em gestos. Tenório diz que a mesma ferramenta
poderia ajudar na leitura de placas de informação.
“Queremos fazer com que o surdo entenda conteúdos e tenha acesso ao conhecimento”, afirma.
Acesso gratuito
Além disso, Tenório trabalha ao lado de Carlos Wanderlan, Tadeu Luz –
idealizadores do programa – e uma equipe de mais 20 pessoas para deixar
tudo pronto para o lançamento oficial dos aplicativos para celular.
A
previsão é que o software possa ser baixado em smartphones com
diferentes sistemas operacionais no segundo semestre deste ano. Por
hora, a empresa comercializa licenças da versão web do programa, que
pode ser instalada em qualquer site para torná-lo acessível a quem
depende dos sinais.
Tenório explica que essas licenças são comercializadas, mas o usuário final não paga pelo serviço. “Entendemos que o surdo não precisa pagar para ter acesso a informação, e os aplicativos para celulares também
serão gratuitos”, antecipa.
A premiação internacional – que se seguiu a
outras conquistas locais – alavancou a empresa, e hoje o que era apenas
uma ideia se transformou na fonte de renda dos jovens empreendedores.
O destaque internacional deve render também novas parcerias.
Por hora, Hugo não entende outras línguas, mas pode aprendê-las no
futuro.
A sutileza no conjunto de gestos usados em cada país dificulta o
trabalho, mas a empresa conta com consultores especiais: cinco surdos
participam da equipe de desenvolvimento, e associações de deficientes auditivos
de todo o país contribuem nos ajustes do personagem.
Existem diferenças
nos sinais de uma região para outra, e a equipe de desenvolvedores quer
deixar o programa capaz de funcionar bem em todo o país. “Podemos dizer
que até mesmo na Libras existe um sotaque”.
Fonte: DW (Ivana Ebel)
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