É muito comum as pessoas acharem que ativistas advogam em causa própria. Defende a descriminalização das drogas? Maconheiro. Acha que pessoas do mesmo sexo podem casar se quiserem? Só pode ser homossexual. Pois é, mas a Humanidade é bem menos óbvia que isso. Ainda bem.
O
vencedor do Google Creative Sandbox é o exemplo perfeito dessa falta de
obviedade. Eduardo Battiston, o cara da foto aí de cima, criou um
projeto que vai facilitar a vida dos cadeirantes da cidade de São Paulo.
Ele não tem dificuldades para se locomover – sua ideia foi inspirada
nos problemas dos outros.
Batizada de Acessibility View, a ideia é criar uma espécie de Google
Street View para cadeirantes. Tudo seria mapeado a partir do ponto de
vista de quem depende de uma cadeira de rodas para ir de um lugar ao
outro: pontos críticos, as melhores vias e assim por diante.
Em outubro de 2012, a GALILEU conversou com Eduardo, quando seu projeto era apenas um dos finalistas. Confira abaixo a entrevista e entenda porque o Acessibility View foi o eleito, entre os mais de 4.500 concorrentes, para receber 35 mil reais de incentivo do Google.
Em outubro de 2012, a GALILEU conversou com Eduardo, quando seu projeto era apenas um dos finalistas. Confira abaixo a entrevista e entenda porque o Acessibility View foi o eleito, entre os mais de 4.500 concorrentes, para receber 35 mil reais de incentivo do Google.
Para se inscrever no Creative Sandbox, bastava a pessoa enviar
uma ideia que respondesse a seguinte pergunta “Como usar criatividade e
tecnologia para melhorar a vida das pessoas?” A única regra é que algum
produto do Google tinha que estar no centro da concepção do projeto. No
caso da grande vencedora, foi o Google Maps. A prêmio foi dado por um
grupo de jurados composto, basicamente, por publicitários.
O que te inspirou a criar o Acessbility View?
Eduardo Battiston: Sempre fui muito sensível em
relação ao problema da acessibilidade, principalmente depois de conhecer
a realidade das crianças da AACD. Em 2009 tive o prazer de fazer junto
com eles um projeto muito bonito: o Unique Types, no qual convidamos
designers do mundo inteiro para criar tipografias inspiradas nas
crianças atendidas pela entidade.
Se você tivesse que explicar como o Acessibility View funciona
na prática, para alguém que nunca ouviu falar dele: o que você diria?
Eduardo Battiston: A ideia é ajudar os cadeirantes a
escolherem as melhores rotas para seus trajetos e, também, sensibilizar
as autoridades para fazer a manutenção e as adaptações necessárias.
Afinal, ajudar essas pessoas a se locomoverem pelas cidades ajuda na sua
inserção na sociedade e, por que não, no mercado de trabalho.
O objetivo do Acessibility View é fazer as pessoas sentirem na
pele como é difcíl para um cadeirante se locomover por conta própria?
Eduardo Battiston: Esse é apenas um dos objetivos. O
objetivo principal é ajudar as pessoas com necessidades especiais a se
locomoverem com maior facilidade, levando em conta os obstáculos –
muitas vezes intransponíveis – que seus trajetos apresentam. Mas claro
que, ao acessar o Accessibility View, uma pessoa sem necessidades
especiais vai poder ver – em primeira pessoa – como cada pequeno
obstáculo pode impactar a qualidade de vida de um cadeirante.
Existe algum tipo de obstáculo que a maioria das pessoas nem se
dá conta de que atrapalha a movimentação de um cadeirante? Estamos
condicionados a pensar que uma rampa basta. É só isso mesmo?
Eduardo Battiston: Amigos cadeirantes reclamam
bastante da quantidade de buracos das calçadas e da falta de
padronização das mesmas. Além disso, as rampas – quando existem – muitas
vezes contam com uma inclinação exagerada, o que impossibilita o acesso
dos cadeirantes sem a ajuda de terceiros.
Você mora em São Paulo, certo? Qual a pior região, o pior trecho para um cadeirante aqui?
Eduardo Battiston: Sou paulistano e atualmente moro em
São Paulo. Se nos bairros mais centrais a manutenção das calçadas já
deixa bastante a desejar, imagine nas periferias onde a própria
topografia muitas vezes não favorece a mobilidade. Mesmo nos bairros
mais urbanizados, temos problemas como faixas de pedestres esburacadas,
calçadas inclinadas e rampas defeituosas.
Acredito que a acessibilidade
na nossa cidade melhorou muito nos últimos anos, mas ainda temos muito
trabalho nessa área. Espero que essa ideia possa contribuir para que a
cidade seja cada vez mais acessível, proporcionando lazer, educação,
cultura e diversão para as milhares de pessoas com necessidades
especiais.
E, certamente, vou precisar da ajuda de parceiros para que essa ideia
saia do papel e vire realidade. Já tenho apoio do representante
brasileiro das câmeras GoPro que vai fornecer todo equipamento de
filmagem necessário para o mapeamento do Accessibility View. Agora
espero que a ideia possa ganhar o concurso do Google (estamos entre os
10 finalistas do Google Sandbox Brasil) para que esse apoio de peso
atraia outras empresas para ajudar a viabilizar o projeto.
Fonte: Galileu
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