Até a Copa do Mundo de 2014, o Ministério do Turismo gastará cerca de R$ 100 milhões para adequar as cidades-sede do torneio às necessidades de pessoas com deficiência.
A quantia não consta da Matriz de Responsabilidades da Copa, o
documento assinado pelas autoridades públicas brasileiras em janeiro de
2010 que contém a previsão de custos e prazos das obras planejadas pelo
país para receber a Copa.
Até o último sábado, a Matriz indicava que o
gasto total previsto da Copa era de quase R$ 30 bilhões (R$ 29.253.100),
sem contar o plano de acessibilidade.
Trata-se do programa Turismo Acessível, cuja
construção teórica data de 2009. As ações previstas são consideradas
positivas e necessárias pelo governo e pelas entidades de defesa dos
direitos das pessoas com deficiência.
Já o fato de um programa planejado
há três anos só começar a ser executado a um ano e meio da Copa, com
possível aumento de custo em virtude da urgência, é alvo de críticas.
Até agora, só foram aprovadas obras de acessibilidade em oito das 12
cidades que receberão os jogos da Copa: Curitiba (PR), Cuiabá (MT),
Brasília (DF), Fortaleza (CE), Natal (RN), Recife (PE), Rio de Janeiro
(RJ) e Salvador (BA). Quase todas estão previstas para começar no ano
que vem.
Um dos objetivos do programa Turismo Acessível é aumentar a porcentagem das unidades habitacionais (quartos de hotéis) acessíveis a pessoas com deficiência dos atuais 1,5% para 5% até o Mundial.
Atualmente, existem duas linhas de crédito específicas para o setor, do Banco do Brasil e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Da quantia total, cerca de R$ 50 milhões deverão ser gastos em obras
como reforma de calçadas e instalação de equipamentos de sinalização e
comunicação para deficientes visuais e auditivos.
O programa, uma parceria do Ministério do Turismo com a Secretaria
Especial de Direitos Humanos e o Instituto Brasileiro de Turismo “vai
apoiar cem obras de infraestrutura e de apoio ao turismo para pessoas
com deficiência nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo”, segundo a pasta
do Turismo.
Outras ações incluem treinamento de pessoal, com a capacitação de 8.000
profissionais para lidar com as necessidades de pessoas com deficiência
ou mobilidade reduzida.
A falta de pessoas treinadas era uma crítica de especialistas do setor. O cadeirante e criador da empresa Turismo Adaptado, voltada para o público com deficiência, Ricardo Shimosakai, diz que há muito despreparo na indústria hoteleira.
“Os hotéis fazem uma 'rampinha' e colocam uma barra e acham que é o
suficiente. Mas há outros tipos de deficiências, além de pessoas que
usam cadeiras de rodas, que não são atendidas.
Um cego, por exemplo,
como utiliza um frigobar? Não costuma ter dispositivos de áudio que
explicam o que existe ao redor para os deficientes visuais. O
atendimento para os surdos também é bem precário.”
“É até melhor um bom atendimento do que boas instalações”, diz
Shimosakai. “A chave é perguntar. Orientar, por exemplo, uma camareira a
não mexer na ‘arrumação’ feita por um hóspede cego.”
Estádios
Os 12 estádios que vão ser usados na Copa adequaram seus projetos à Lei
Geral da Copa, que determina que ao menos 1% dos lugares seja destinado
a pessoas com deficiência.
Além dos lugares, as arenas devem ter
elevadores com botões em braile e aviso sonoro e suas instalações
internas devem ser dimensionadas para cadeirantes.
Atualmente, não são poucas as reclamações de pessoas com deficiência
que vão ver jogos de futebol ao vivo. "Sou cadeirante há oito anos e,
por incrível que pareça, sinto que está cada vez mais difícil ir a
estádios”, conta Shimosakai.
Ele cita transporte ruim, acessos
inapropriados, pontos cegos, falta de banheiros e de pessoas capacitadas
para auxiliá-los como apenas alguns dos problemas, enfrentados em
estádios que não vão sediar jogos da Copa, mas que ele espera ver
sanados até o Mundial de 2014.
“Na Arena Barueri (Grande São Paulo), do espaço destinado para
cadeirantes, não dá para ver o campo todo. Em Bragança Paulista é
horrível, fico o tempo todo com medo de cair de uma plataforma alta, o
local parece muito inseguro”, exemplifica.
Os entornos das arenas devem em tese também assegurar o acesso de
pessoas com deficiências. Mas para o órgão que coordena o monitoramento
das obras, a acessibilidade fora das arenas é mais difícil de ser
assegurada.
“Garantir a acessibilidade dos estádios é mais fácil. O que preocupa é o
transporte e as obras de apoio”, disse o secretário Nacional de
Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Antonio José Ferreira.
“Mas não se muda a situação apenas por decreto, contamos com a sociedade
para que se adquira uma cultura de respeito”, diz ele
.
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