12 de ago. de 2014

Piso tátil de grandes avenidas de São Paulo apresenta falhas

Piso tátil da Avenida Paulista


Leonardo Ferreira, com deficiência visual e 26 anos, caminhava na tarde de sexta (8) pelo moderno piso tátil da Avenida Brigadeiro Faria Lima, na Zona Oeste de São Paulo, sem dificuldades. 


Passou pelo Largo da Batata, cruzou a Paes Leme, a Rua Diogo Moreira e acabou se chocando a uma mureta quase na esquina da Avenida Eusébio Matoso.


O obstáculo no caminho de Leonardo funciona como uma espécie de armadilha involuntária a todos as pessoas com deficiência visual que utilizam o piso tátil da Faria Lima e ocorre por uma falha de projeto, de acordo com a Laramara (Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual), uma ONG que trabalha pela inclusão dessas pessoas.


Segundo a ONG, os problemas não se restringem à Faria Lima, uma das áreas mais nobres da capital. Na Avenida Paulista, um dos cartões-postais de São Paulo e a primeira via a receber esse tipo de equipamento para melhorar a acessibilidade, não há indicação para as estações de Metrô e pontos de ônibus, o que confunde a vida deles.


A entidade explicou que deveriam existir os chamados pisos de alerta, uma placa com bolinhas em relevo que tem  função de avisar sobre obstáculos, como rampas, paredes e acessos importantes.


“Reconheço estações de Metrô pelo cheiro”, disse Leonardo. “Como não tem nenhum aviso no piso tátil, percebo que estou numa estação quando sinto cheiro de graxa e de ar-condicionado.”


Nos pontos de ônibus, também se vale de um sentido para saber onde está. “Escuto o ronco dos motores parados”, conta. “Mas às vezes erro e quando vou ver estou apenas num cruzamento e não num ponto de ônibus.”


Segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem cerca de 2,7 milhões de pessoas com deficiência visual no estado de São Paulo. No Brasil, são mais de 6,5 milhões.


De acordo com a Prefeitura, a readequação dos passeios da Avenida Paulista foi concluída em 2008 e da Avenida Faria Lima, em 2012. A execução das obras foi realizada pela Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. O governo municipal gastou R$ 10,6 milhões para as duas etapas da Faria Lima. Já  nas obras da Avenida Paulista, foram consumidos R$ 10,8 milhões.


A Prefeitura de São Paulo garantiu que o projeto do piso tátil nas avenidas Paulista e Faria Lima seguiu as orientações da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). 


“Seguimos as orientações em sua norma número 9.050, de 2004, que não estabelece uma regra específica para este tipo de piso, tratando apenas de forma genérica”, disse a assessoria da Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. “Justamente por isso, os projetos têm se aperfeiçoado desde então.”


A pasta argumentou ainda que a pessoa com deficiência visual necessita de uma linha-guia identificável e segura, que pode ser o piso tátil direcional, o alinhamento das edificações ou até mesmo o pavimento com diferença de textura (cimento liso e áspero, cimento liso e grama), como acontece nos demais passeios públicos da cidade.


“Os pisos táteis nas avenidas Paulista e Faria Lima foram os primeiros deste porte na cidade de São Paulo e já existem estudos em andamento na CPA (Comissão Permanente de Acessibilidade) para ajustes em pontos específicos”, afirmou a nota.


De acordo com a secretaria, os projetos executivo geométrico, estrutural e de acessibilidade foram aprovados junto à CPA, órgão vinculado à pasta que é  formado por representantes da prefeitura e da sociedade civil, entre eles a própria Laramara.
 

Entrevista
 

DIÁRIO: Quais são os principais defeitos nos pisos táteis da Paulista e da Faria Lima?
 

JOÃO FELIPPE: Em primeiro lugar, precisamos esclarecer que essas vias são o que têm de melhor na cidade em termos de acessibilidade. Ainda assim, existem problemas.
 

D: Quais?
 

JF: Na Faria Lima, esquina com a Eusébio Matoso, para desviar de um poste mal posicionado, fora da faixa de serviço, optou-se por interromper abruptamente o piso tátil junto a uma mureta. Ocorre que não há qualquer sinalização. É como uma armadilha para o deficiente visual que por lá passa.
 

D: E na Paulista?
 

JF: Nessa avenida a sinalização é em linha reta e não considera a necessidade do deficiente visual pegar um ônibus ou o Metrô. O mais incrível é que esses projetos foram submetidos à Comissão Permanente de Acessibilidade da Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, que tem caráter apenas consultivo. Mas quem faz as obras é a Secretaria das Subprefeituras
 

D: E o que a Laramara fez neste sentido para melhorar?
 

JF: Notificamos a Subprefeitura de Pinheiros e a própria Prefeitura para resolver e corrigir os defeitos, mas até agora não obtivemos resposta.




Nenhum comentário:

Postar um comentário