Leonardo Ferreira, com deficiência visual e 26 anos, caminhava na tarde de sexta (8) pelo moderno piso tátil da Avenida Brigadeiro Faria Lima, na Zona Oeste de São Paulo,
sem dificuldades.
Passou pelo Largo da Batata, cruzou a Paes Leme, a
Rua Diogo Moreira e acabou se chocando a uma mureta quase na esquina
da Avenida Eusébio Matoso.
O obstáculo no caminho de Leonardo funciona como uma espécie de
armadilha involuntária a todos as pessoas com deficiência visual que
utilizam o piso tátil da Faria Lima e ocorre por uma falha de projeto,
de acordo com a Laramara (Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual), uma ONG que trabalha pela inclusão dessas pessoas.
Segundo a ONG, os problemas não se restringem à Faria Lima, uma das
áreas mais nobres da capital. Na Avenida Paulista, um dos
cartões-postais de São Paulo e a primeira via a receber esse tipo de
equipamento para melhorar a acessibilidade, não há indicação para as
estações de Metrô e pontos de ônibus, o que confunde a vida deles.
A entidade explicou que deveriam existir os chamados pisos de alerta,
uma placa com bolinhas em relevo que tem função de avisar sobre
obstáculos, como rampas, paredes e acessos importantes.
“Reconheço estações de Metrô pelo cheiro”, disse Leonardo. “Como não
tem nenhum aviso no piso tátil, percebo que estou numa estação quando
sinto cheiro de graxa e de ar-condicionado.”
Nos pontos de ônibus, também se vale de um sentido para saber onde
está. “Escuto o ronco dos motores parados”, conta. “Mas às vezes erro e
quando vou ver estou apenas num cruzamento e não num ponto de ônibus.”
Segundo o último censo do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem cerca de 2,7
milhões de pessoas com deficiência visual no estado de São Paulo. No
Brasil, são mais de 6,5 milhões.
De acordo com a Prefeitura, a readequação dos passeios da Avenida
Paulista foi concluída em 2008 e da Avenida Faria Lima, em 2012. A
execução das obras foi realizada pela Secretaria de Coordenação das
Subprefeituras. O governo municipal gastou R$ 10,6 milhões para as duas
etapas da Faria Lima. Já nas obras da Avenida Paulista, foram
consumidos R$ 10,8 milhões.
A Prefeitura de São Paulo garantiu que o projeto do piso tátil nas
avenidas Paulista e Faria Lima seguiu as orientações da ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas).
“Seguimos as orientações em sua norma
número 9.050, de 2004, que não estabelece uma regra específica para este
tipo de piso, tratando apenas de forma genérica”, disse a assessoria da
Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. “Justamente
por isso, os projetos têm se aperfeiçoado desde então.”
A pasta argumentou ainda que a pessoa com deficiência visual necessita
de uma linha-guia identificável e segura, que pode ser o piso tátil
direcional, o alinhamento das edificações ou até mesmo o pavimento com
diferença de textura (cimento liso e áspero, cimento liso e grama), como
acontece nos demais passeios públicos da cidade.
“Os pisos táteis nas avenidas Paulista e Faria Lima foram os primeiros
deste porte na cidade de São Paulo e já existem estudos em andamento na
CPA (Comissão Permanente de Acessibilidade) para ajustes em pontos
específicos”, afirmou a nota.
De acordo com a secretaria, os projetos executivo geométrico,
estrutural e de acessibilidade foram aprovados junto à CPA, órgão
vinculado à pasta que é formado por representantes da prefeitura e da
sociedade civil, entre eles a própria Laramara.
Entrevista
DIÁRIO: Quais são os principais defeitos nos pisos táteis da Paulista e da Faria Lima?
JOÃO FELIPPE: Em primeiro lugar, precisamos esclarecer que essas vias
são o que têm de melhor na cidade em termos de acessibilidade. Ainda
assim, existem problemas.
D: Quais?
JF: Na Faria Lima, esquina com a Eusébio Matoso, para desviar de um
poste mal posicionado, fora da faixa de serviço, optou-se por
interromper abruptamente o piso tátil junto a uma mureta. Ocorre que não
há qualquer sinalização. É como uma armadilha para o deficiente visual
que por lá passa.
D: E na Paulista?
JF: Nessa avenida a sinalização é em linha reta e não considera a
necessidade do deficiente visual pegar um ônibus ou o Metrô. O mais
incrível é que esses projetos foram submetidos à Comissão Permanente de
Acessibilidade da Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade
Reduzida, que tem caráter apenas consultivo. Mas quem faz as obras é a
Secretaria das Subprefeituras
D: E o que a Laramara fez neste sentido para melhorar?
JF: Notificamos a Subprefeitura de Pinheiros e a própria Prefeitura
para resolver e corrigir os defeitos, mas até agora não obtivemos
resposta.
Fonte: Diário de SP
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