Em 2009, aos 18 anos, o estudante paulistano Pedro Pimenta foi infectado por uma bactéria e teve que amputar
os braços acima dos cotovelos e as pernas acima dos joelhos.
Hoje, dá
palestras sobre superação em empresas no Brasil e, no exterior,
participa de conferências.
Na quarta-feira (13), às 19h, lançou o livro "Superar É Viver" (ed. Leya, R$ 36,90), na Livraria Cultura do shopping Iguatemi, em São Paulo.
Depoimento dado a Luisa Alcantara e Silva, editora-assistente de "turismo" e "comida":
Era um dia normal, 11 de setembro de 2009. Tinha 18 anos. Saí do cursinho e fui almoçar com meus amigos, como fazia toda sexta.
Comecei a passar mal e fui para casa. Foi tudo muito rápido. Lembro de
apagar na ambulância, a caminho do hospital. O que ocorreu a seguir foi o
que me contaram, porque eu estava em coma.
Cheguei ao [hospital Albert]
Einstein
quase morto; segundo os médicos, eu tinha 1% de chance de sair daquela.
Fiquei uma semana inconsciente. Acordei na UTI e vi meus membros
gangrenados. Estava com meningite meningocócica.
Quando o doutor Marco Guedes veio falar do meu quadro, fiquei sabendo
que a única solução seria amputar os quatro membros uma semana antes de
ser operado. Eu estava com tanta dor que não chorei.
Chamo de fase do terror o mês em que fiquei com os membros gangrenados.
Só sentia dor. Após a operação, fiquei mais 13 dias em coma. Sabia que
ia ter um show do AC/DC no estádio do Morumbi, e eu queria muito ir.
Menos de um mês depois, ainda na semi UTI, acho que, de tanto eu encher o
saco, o doutor Ophir Irony conseguiu fazer com que eu fosse. Fui em uma
maca, acompanhado por ele.
Fui operado tantas vezes que virou rotina. Ao todo, fiquei cinco meses e
meio no hospital. Passei Natal, Ano-Novo e meu aniversário de 19 anos
no Einstein, mas, na hora em que recebi alta, tive medo. Era como se lá
fora fosse um ambiente hostil para mim.
Saí de cadeira de rodas e comecei um tratamento na rede Lucy Montoro. Fiquei lá durante dois meses e, em maio de 2010, decidi ir para uma rede particular. No Centro Marian Weiss, fiz uma família.
Meus primeiros passos foram com as próteses "stubbies", bem baixinhas.
Mas não conseguia dar nem dez passos; cansava demais.
Fiquei lá até
outubro, quando fui para um centro de reabilitação em Chicago (EUA).
Fiquei três meses morando na cidade, com minha mãe.
Alguns médicos no
Brasil haviam dito que eu ia sempre depender da cadeira de rodas. Em
Chicago, também falaram para eu ir com calma. "Vamos trabalhar primeiro
com os braços", disse a equipe de lá.
Comecei a usar uma prótese para os membros superiores. São ganchos.
Imagina viver com palitinhos de comida japonesa no lugar das mãos. É
assim que vivo. Nessa época, conheci no YouTube uma empresa de próteses.
Os vídeos mostravam amputados andando normalmente. Tinha conhecido o
vice-presidente desse grupo em um evento. Liguei para ele e ele foi à
minha casa em Chicago. Disse que eu devia descartar a cadeira de rodas.
Um dia, em San Diego, levei duas horas e meia para andar três quadras
com os "stubbies". Acabei o tratamento em Chicago e fui a Oklahoma.
Fiz
um treinamento de 20 dias. No dia 6 de dezembro de 2010 foi a última vez
que usei a cadeira de rodas. Passei o Natal no Brasil e depois voltei a
Oklahoma para colocar a prótese mais alta, a "ottobock c-leg", que tem
joelho.
Com o tempo, fui ganhando independência. Moro na Flórida, sozinho. Levo
uma vida normal. Não fico pensando que não tenho os membros. Você se
acostuma e esquece.
Nunca encontrei alguém como eu, com os quatro
membros amputados acima dos cotovelos e dos joelhos e que não usa
cadeira de rodas. Acho que qualquer um poderia chegar onde estou.
Conheço uma pessoa amputada do Brasil que perdeu as duas pernas acima do
joelho. Ela conseguiu fazer uma vaquinha e patrocínio. Foi para os
Estados Unidos e compraram as próteses que eu tenho para ele.
Quando você tem um sonho, você consegue. As pessoas se juntam a você. É impressionante, as portas se abrem.
Fonte: Folha de São Paulo
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