A vida das pessoas com deficiência não é nada fácil.
Além das barreiras arquitetônicas elas também enfrentam barreiras burocraticas.
Além das barreiras arquitetônicas elas também enfrentam barreiras burocraticas.
É o que nos conta a caicoense Cláudia Medeiros de Araújo, Deficiente física e diagnósticada com siringomielia – uma espécie de cistos na medula – e escoliose, desvio na coluna.
Em depoimento ela conta todas as barreiras burocráticas que a impediram de conquistar a tão sonhada carteira de motorista.
A seguir, o desabafo na íntegra:
Venho
por meio deste pedir que denuncie a partir desse meu relato o
desrespeito com as pessoas com alguma deficiência física no RN que
buscam tirar sua Carteira Nacional de Habilitação.
Como essa questão se
constitui em um total desrespeito com o cidadão e, por conseguinte com a
constituição, vejo a possibilidade da mídia e das redes sociais darem
visibilidade e dizibilidade a essa questão, para que chegue, de forma
mais rápida, ao conhecimento de quem possa
interceder e cooperar com as pessoas com deficiência física.
Bem para início de conversa me chamo Cláudia, moro em Caicó e tenho
deficiência física e no início desse ano fui ao DETRAN com a pretensão
de obter minha Carteira Nacional de Habilitação e lá fui informada que
eu teria que ir a Natal, para eu poder ser avaliada por uma junta médica
especial que no meu caso, expediu um laudo que determinava que eu era
obrigada a dirigir veículo com transmissão automática, direção
hidráulica e com prolongadores dos pedais e elevação do assoalho e/ou
almofadas fixas de compensação de altura e/ou profundidade, devido a
minha deficiência física.
Sai do DETRAN de Natal, super feliz com essa probabilidade, já sentindo
aquela impressão de liberdade e ao mesmo tempo pensando que não ia mais
furar os meus pés em espinhos ou cacos de vidro, nem atolar as muletas
na lama quando chovia, nem muito menos me queimar debaixo do sol
causticante do nosso Sertão seridoense durante as idas e vindas do
trabalho.
E foi com essa alegria que corri para fazer minha matrícula em uma auto
escola de Caicó-RN e lá veio o primeiro balde de água fria, que fez com
que meu contentamento logo desse lugar a uma baita dor de cabeça, pois
para meu espanto fui avisada que eu não poderia fazer as aulas práticas
em Caicó, pois a cidade não possuía nenhuma empresa de Formação de
Condutores que dispusesse de veículo com transmissão automática e
direção hidráulica atendendo assim as minhas necessidades.
Mesmo assim
decidir fazer as aulas teóricas em Caicó, e enquanto eu cursava as aulas
pesquisava a existência de alguma auto escola no Estado que me
atendesse.
Descobrir a existência de uma em Parnamirim, entretanto eles
logo me avisaram que apesar do veículo ser adaptado era uma adaptação
manual, ou seja, com ela o motorista usa as mãos para frear e acelerar.
Informei que no meu caso a adaptação era outra já que constava no laudo.
Tentei ainda explicar que esse tipo de adaptação que existia no carro
deles era voltada para atender pessoas paraplégicas, ou seja, que não
possuem movimentos da cintura para baixo.
Já a minha deficiência era
diferente pois, tenho os movimentos das pernas entretanto, possuo baixa
estatura. No entanto, foram taxativos ao afirmarem que a adaptação era a
que eles possuíam.
Diante dessa situação continuei a busca por outra auto escola já que o
veículo da empresa de Parnamirim não atendia as minhas necessidades, e
fui informada da existência de uma na cidade de Mossoró depois de ter
sido aprovada no curso teórico e com a proximidade das minhas férias do
trabalho fui a Mossoró.
Lá eu fui bem recebida, vi o carro, conversei
com o instrutor, com o proprietário da escola e ficaram acertadas as
aulas para as minhas férias, pois o horário do meu trabalho não
permitiria esse translado entre Caicó-Mossoró diariamente.
Foi marcado o
início das aulas para o dia 07/07/2014, todavia adoeci com uma
conjuntivite e passei uma semana sem poder sair de casa fazendo o
tratamento recomendado pelo médico.
Remarcamos então para o dia
22/07/2014, entretanto a pessoa que faz as adaptações no único carro que
podia me atender sofreu um acidente e está impossibilitado de fazer as
adaptações e consequentemente eu fiquei sem as aulas e ainda não sei
quando será possível fazê-las.
É significante informar que a justificativa dos proprietários das auto
escolas para não possuírem os veículos adaptados é que esses possuem um
custo elevado para atenderem uma pequena clientela.
Para mim, esse
discurso não se sustenta, pois como professora sei que quando uma
criança com deficiência chega a uma escola seja ela pública ou privada,
somos obrigados a recebê-la e darmos o mínimo de condições para que ela
estude, sob pena de respondermos na justiça.Afinal de contas a educação
é um direito de todos e para todos. Ou seja, para recebermos essa
criança a escola precisa construir rampas, instalar elevadores, adaptar
banheiros, adquirir mobiliário especial e softwares, etc. E essas
adaptações também têm um custo elevado para atender um pequeno número de
crianças.
Da mesma forma, espaços públicos como shopping, restaurantes,
bares, lojas etc, são obrigadas a se adequarem, respeitando assim o
direito da pessoa com deficiência física de ir e vim.
Do mesmo modo os
concursos públicos e as empresas são obrigadas a respeitar a cota para
deficientes.
E é seguindo essa linha de raciocínio que questiono até
quando os direitos de igualdade, acessibilidade e dignidade das pessoas
com deficiência serão desrespeitados pelas auto escolas do RN e
especialmente de Caicó (Centro Regional da Região do Seridó)?
Será que
as pessoas sem deficiência no RN e especialmente no Seridó vão continuar
participando de suas aulas e exames práticos, sem maiores problemas,
pois existem veículos em número suficiente para atendê-los, enquanto
isso, pessoas com deficiência como eu, tem que sair de sua cidade, se
cansar com longas e onerosas viagens e ausentar-se do trabalho durante
vários dias?
Fui aconselhada por algumas pessoas com deficiência física a comprar
logo o meu carro, mandar adaptar e assim resolver logo o meu problema.
Entretanto, é importante lembrar que as pessoas sem deficiência realizam
suas aulas nos veículos da auto escola
(eles tem seguro, caso o aluno gere algum dano material e/ou pequenas
colisões suscetíveis de acontecer durante o curso prático o aluno não
terá nenhuma despesa extra), então por que com as pessoas com
deficiência tem que ser diferente?
Também não posso esquecer de citar
aqui, que os veículos das auto escolas se diferenciam dos demais
veículos que circulam pelas vias públicas, por possuírem uma enorme
faixa amarela com letras pretas onde está escrito “AUTO ESCOLA”.
Essa
diferença existe para informar aos pedestres e motoristas que redobrem a
atenção, pois quem está conduzindo aquele veículo é um aprendiz e este
ainda não tem total habilidade.
E se eu for ter minhas aulas práticas
no meu próprio carro, essa informação não será difundida, ou seja, a
segurança será aqui esquecida.
Por fim, questiono até quando o Detran
que é o órgão que coordena o serviço das auto escolas, vai fazer vista
grossa a essa realidade?
E caso eu não consiga fazer o curso prático,(
até o mês de janeiro/2015 período em que meu processo se vence),
ficarei mesmo no prejuízo?
Termino aqui agradecendo a sua atenção e com a esperança de que alguma
autoridade competente possa responder a todos esses questionamentos e
quem sabe modificar essa humilhante situação.
Quem quiser ajudar a Claudia nessa luta pode entrar em contato por facebook :
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