“Ele economizou dinheiro para comprar o tablet tão
sonhado, mas em nenhum momento foi tratado como consumidor”.
Esse foi o
relato de uma mãe que viu o filho tetraplégico sendo mau atendimento por
um vendedor de Uberlândia. Depois do ocorrido, a geógrafa Karolina
Cordeiro Alvarenga, de 35 anos, resolveu calar a indignação e levar
informações para que o caso do Pedro, de oito anos, não se multiplicasse
e fizesse parte da “história” de outras pessoas com deficiência.
Karolina Cordeiro contou que Pedro foi diagnosticado
nos primeiros anos de vida com Síndrome de Aicardi-Goutières (SAG),
doença raríssima que impede os movimentos.
Devido ao problema, ela disse
que já teve outras dificuldades quando o assunto é atendimento, mas
disse ter ficado constrangida com a situação vivida na busca pelo
aparelho eletrônico.
“Fiquei sem reação ao ver meu filho com o
dinheirinho que economizou na poupança querendo adquirir um produto e o
lojista nem virar o olhar para ele. Pedro estava sorrindo, mas não teve o
sorriso retribuído. Era ele o comprador, não eu. O jeito foi mudar de
loja e tentar mais uma vez”, desabafou.
Como Karolina Cordeiro também é fundadora da Ong
Angel Hair, ela decidiu não se calar diante o ocorrido e, através do
órgão, criou a cartilha “Você é uma pessoa com Eficiência?”, que visa
levar informação para o comércio de como atender bem uma pessoa com
deficiência.
“Eu tenho o sonho e o desejo que a sociedade crie novos
olhares para com as pessoas com deficiências, que possuem mobilidade
reduzida ou até mesmo com os idosos. Fala-se tanto da acessibilidade
física, mas e a humana, onde fica?”, indagou.
A idealizadora do projeto contou que a cartilha
acabou contemplando outras vivências dela com o filho e que foi embasada
em várias pesquisas. Ela define o material como uma quebra de
paradigmas, pois a finalidade é chamar atenção para este público
consumidor que também tem poder de decisão de compra.
“A cartilha é
ilustrada e será distribuída gratuitamente. Ela tem objetivo de
humanização nas relações de consumo da pessoa com deficiência e idosos,
pois cada um tem seu tempo. Quando estas pessoas saem de casa, elas já
se superaram tanto e, ao adentrar no comércio, no mínimo, elas devem ser
recebidas com naturalidade, carinho e atenção”, afirmou.
A cartilha levou três meses para ser criada e a
intenção, segundo Karolina Cordeiro, é que o material comece a ser
distribuído no próximo mês.
O material traz dicas, não normas, para como
lidar e receber pessoas com deficiências físicas, intelectuais,
auditivas, visuais e também idosos.
“Já estamos fazendo alguns testes e
visitando algumas empresas, estas que apoiaram o projeto e até ajudaram
na viabilidade da cartilha. Junto com a entrega, acabo dando
‘treinamento’ para os funcionários para que os dizeres no papel sejam
reproduzidos na prática e, consequentemente, se tornem produtivos, ou
seja, uma via de mão dupla”, ressaltou.
A idealizadora disse ainda que três mil exemplares já
foram impressos, mas que a intenção é que mais de 20 mil cartilhas
circulem na cidade.
“A ideia é que aos poucos todo o comércio esteja com
a cartilha, que serve tanto para o lojista como para o consumidor. O
Pedro me inspirou e é por ele acredito num mundo melhor e numa geração
de respeito ao próximo”, concluiu.
Fonte: G1
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