Os olhos de Yasmin de Castro Rosa Silva, de seis anos, são as mãos. Moradora de Araxá, em Minas Gerais, a estudante nasceu sem as pálpebras e teve os dois olhos perfurados em uma cirurgia de tentativa de correção, aos sete dias de vida.
Apesar dos problemas, Yasmin leva uma vida normal. A mãe da menina, Elbe Raquel de Castro Rosa, fez curso de braile e
hoje ajuda na alfabetização da filha junto a escola.
No entanto,
durante o processo de aprendizado, Yasmin sentiu dificuldade ao escrever
com o método de punção, que usa um objeto pontudo para marcar a folha.
Durante um curso para pessoas com deficiência visual, conheceu uma
máquina de escrever em braile.
O valor do equipamento era cerca de R$ 5
mil, o que seria inviável para família. Porém, a mãe de uns dos
coleguinhas de Yasmin, Janice Guimarães, se sensibilizou com o caso e
teve a ideia de fazer uma rifa.
Quando soube da oportunidade, a estudante não ficou de braços cruzados.
Ao lado dos amigos de sala, saiu para vender a rifa na escola.
“Eu sai
de sala em sala e dizia: estou vendendo para me ajudar a comprar a
máquina do braile. É R$ 10, quem quiser, pode ajudar. Fala com a mamãe
ou com o papai que estamos rifando um bezerro”, contou.
E deu certo. Foram 500 rifas vendidas a R$ 10 e o valor da máquina foi
alcançado.
“A máquina vai chegar dos Estados Unidos e eu achei uma
atitude muito boa dos meus amigos. Vou agradecer sempre a todos que me
ajudaram”, afirmou.
Segundo a estudante, a diferença do método de punção para a máquina de
escrever é que, no segundo caso, não há dores nas mãos.
“É fácil
escrever e ler em braile. O difícil é que dói as mãos. Agora eu vou
comprar a máquina pra ser mais fácil ainda”, explicou.
A mãe Elbe contou que se surpreendeu, pois não esperava que as pessoas
aderissem à rifa tão rápido.
“Eu cheguei a pensar em não fazer a rifa,
mas a Janice insistiu. Então conseguimos vendê-las, e a avó de uma
coleguinha dela comprou a máquina nos Estados Unidos. Eu senti que minha
filha é muito amada por todos”, disse.
A idealizadora da rifa, Janice Guimarães, disse que ficou feliz em ter
alcançado o objetivo.
“Eu sou apaixonada pela Yasmin. Quando ela falou
que precisava e que não tinha o dinheiro, a sugestão foi instantânea.
Foi de coração”, afirmou.
A rifa continua sendo vendida pela estudante e irá ajudá-la nos custos
dos tratamento feitos em São Paulo e nas manutenções das próteses.
Yasmin na escola
A rotina da estudante não é diferente de outras crianças. Como cada dia
uma delas faz a oração, Yasmin também tem o momento dela.
Boa oradora,
segundo a professora Roberta Maria Batista, é dedicada e além de
aprender também ensina.
“É a primeira vez que estou tendo a experiência de dar aula para alunos
de inclusão. É uma experiência de muita valia, pois não estou só
ensinando, estou aprendendo muito. Terminei o curso de braile, por causa
da Yasmin, que é uma aluna diferente e especial”, comentou.
Má formação
Elbe contou que a filha nasceu com uma má formação no rosto e sem as
pálpebras.
Na cirurgia de correção, ela teve os olhos perfurados e por
riscos de infecções, a família, junto com os médicos, decidiram retirar
os olhinhos dela.
Com isso, Elbe contou que optou em adaptar a filha com
próteses. Com seis anos, Yasmin já passou por três cirurgias e trocou
de prótese três vezes.
“A adaptação dela é muito boa. Ela é muito compreensiva, nunca
escondemos nada. Já perguntaram porque ela não enxerga e ela conta que
enxergava e com acidente que aconteceu perfurou os olhinhos. A prótese
incomoda muito, então foi algo difícil de aceitar, mas insistimos e hoje
ela sente falta se ficar sem a prótese. Tira para dormir e descansar e
depois fica o dia todo com ela”, contou.
Além da adaptação da filha, a mãe também teve que se acostumar com a
nova vida e decidiu fazer curso de braile para ajudar na alfabetização
de Yasmin.
“Deus coloca a criança na vida da gente porque sabe que vamos
suportar. Queria mostrar para ela que eu precisava saber (braile)
também, sentia necessidade em me aprofundar para ajudá-la. Queria ajudar
nas tarefas da escola, ler recadinhos deixados na agenda por ela e até
mesmo um cartãozinho do dia das mães”, finalizou.
Fonte: G1 / Vida Mais Livre
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