Há algumas décadas, os endereços das estrelas eram divulgados para que
seus fãs enviassem pedidos de fotos e autógrafos. Grande admiradora de
Marilyn Monroe, uma menina teve sua carta atendida e recebeu um
autógrafo da diva. Com o decorrer do tempo, o autógrafo foi perdido, mas
a filha de um militar e de uma professora de piano, que herdou a
disciplina do pai e o dom artístico da mãe, também não deixa de
retribuir o carinho de seus fãs.
E é para o seu público que Regina Duarte dedica sua exposição "Espelho da Arte - A Atriz e Seu Tempo", que homenageia seus 50 anos de carreira, no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro. Com curadoria do ator e artista plástico Ivan Izzo, a mostra começou nesta quarta-feira (22/08) e fica em cartaz até o dia 28 de outubro.
"Tenho muito respeito pelos fãs. Faço todo um trabalho de sedução para
que o fã venha comigo, fique comigo e não troque de canal. Na hora que
eu encontro esse fã, não posso deixar de olhar no olho dele e ser grata
ao carinho, a atenção que ele tem com o meu trabalho porque estou
trabalhando para ele. Então, tenho uma relação de carinho. Adoro esse
título de ‘Namoradinha do Brasil’ porque, pra mim, é fruto de uma
relação de amor. É uma via de mão dupla.
A vida da gente é muito pobre.
Ela é pouca para tanta energia, paixão. A arte existe para nos elevar
acima dessa dura realidade. Se não fosse a arte para nos elevar, nos
fazer sonhar, o que seria de nós? Então, eu acredito que é por amor à
arte que faço todo trabalho de sedução. E eu dedico essa exposição ao
público", afirma Regina Duarte.
Fã da atriz desde os 5 anos de idade, Ivan Izzo, que também escreve um
livro biográfico da paulista nascida em Franca, conta que o projeto foi
planejado há três anos e que a exposição está disposta em cenário que se
ordena cronologicamente, dividida por décadas. Uma linha do tempo
conduz os visitantes por sete ambientes que estabelecem relação dos
principais trabalhos da atriz com fatos históricos do Brasil e do Mundo.
A ideia é que se proponha uma reflexão sobre as possíveis influências
dos trabalhos de que Regina participou nas transformações socioculturais
ocorridas no nosso tempo.
"O ponto de partida dessa exposição foi como retribuir generosidade,
garra, disciplina e talento. Como retribuir isso à artista? E também
resgatar a importância da memória nacional, preservar o artista
brasileiro. A memória nacional tem que ser preservada. Os artistas têm
que ser enaltecidos e não depois de mortos. Depois vira nostalgia. O
importante é o hoje, o agora. E Regina é uma atriz viva, pulsante e me
cativou desde os meus 5 anos de idade. Eu era fã de Regina. Sou fã até
hoje. Essa exposição também é um pouco meu sonho de fã, de retribuir
tanto amor, exemplo de vida, garra, talento, que ela deu para o País. E
seus personagens saíram do Brasil, romperam fronteiras e emocionaram
tantas pessoas.
A gente tem uma linha do tempo. Procuramos traçar um
paralelo dos trabalhos da Regina com o que estava acontecendo no Brasil e
no mundo. Então, quem era da geração da Regina vai poder relembrar
alguns fatos e os estudantes vão poder aprender o que estava
acontecendo", explica o curador.
A evolução tecnológica também é mostrada através de cenários que
reproduzem os ambientes internos de uma casa, com elementos
característicos de cada época. Estas “casas-cenário” representam os
lares brasileiros que acompanham a trajetória da atriz e fazem
referência lúdica aos estúdios de televisão. Com estrutura e mobiliário
confeccionados em papelão, matéria-prima 100% reciclável, a cenografia assinada por J. C. Serroni faz com que a exposição incorpore fortemente a defesa do valor e a importância da sustentabilidade.
"Temos uma parte toda interativa de Malu Mulher. Temos uma mesa ‘touch’
onde as pessoas vão poder tocar, trocar as fotos. Tem essa parte
tecnológica também. Vamos ter visitas guiadas para grupos de escola,
universitários, estudantes de comunicação. Também uma preocupação grande
que a gente tem é com a inclusão social. Então, a exposição vai ser tátil.
Muitos objetos, figurinos podem ser manuseados, tocados. E as pessoas
com deficiência visual vão ter o serviço de audiodescrição. E tem uma
pessoa que vai narrando para eles toda a exposição. Eles vão poder
acompanhar e se sensibilizar com esse trabalho de amor", adianta Ivan
Izzo.
A maior dificuldade encontrada na construção de "Espelho da Arte - A Atriz e Seu Tempo" foi em relação ao acervo da TV Excelsior.
As poucas fitas que sobraram são de auditório. E, infelizmente, a
política da época era de reaproveitamento de fitas. Portanto, gravavam
por cima das fitas.
No entanto, há registro de todos os trabalhos
realizados por Regina Duarte. A exposição reúne cerca de 500 fotos. Além
do material fotográfico, há um longa inédito da atriz no Brasil chamado
"El hombre del subsuelo", que o curador foi buscar na Argentina. Parte
das peças da mostra vem do acervo pessoal de Regina. Selecionar os
objetos foi uma emoção
para a artista.
"Criei um espaço no meu sítio para guardar minhas peças no
ar-condicionado, porque queria que fosse preservado. Então, fomos para
lá e cada coisa que eu ia pegando para a exposição me emocionava muito.
Mas se eu tivesse que escolher alguma coisa, acho que foi um dos
vestidos da Porcina de lantejoula azul. Lembro que a minha mãe usou ele
na festa de Carnaval em que eu recebia o cedro de Rainha do Carnaval das
mãos da Dercy Gonçalves. Isso marcou muito. Minha mãe me dizia “com que
roupa que eu vou?” e eu dizia “a senhora vai com esse vestido. Mãe, é
carnaval" (risos)”, lembra Regina Duarte.
A exposição vai percorrer todo o Brasil por cerca de três anos. Depois a
mostra fica permanentemente na casa onde Regina Duarte nasceu em
Franca, em 1947, que agora se transformou na Casa do Artista Francano.
Centro Cultural Correios - Rio de Janeiro
Rua Visconde de
Itaboraí, 20, Centro.
Horário: terça a domingo, das 12
às 19 horas.
Entrada franca.
Informações: (21) 2253-1580 .
Fonte: O Fluminense (Luciana Azevedo)
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