Médicos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) anunciaram na última quarta-feira (4) a realização de cirurgia inédita no país que permite a pacientes paraplégicos e tetraplégicos recuperarem parte dos movimentos perdidos devido à lesão na medula espinhal.
A técnica consiste na aplicação de eletrodos nos
nervos ciático, femoral e pudendo (nervos sacrais), localizados na
região abdominal, responsáveis pelos movimentos das pernas e pés e pelo
controle da bexiga e do reto.
O procedimento para o implante do neuromodulador foi a
videolaparoscopia, em que uma microcâmera é introduzida no paciente pelo
umbigo e é pouco invasivo.
"O implante permite que o paciente consiga esticar as pernas e
que, com muita fisioterapia, ele treine para ficar em pé e andar", diz o
pós-doutorando em ginecologia da Unifesp Nucelio Lemos, responsável
pela cirurgia.
Ele explica que a técnica de abordagem dos nervos por videolaparoscopia
foi desenvolvida inicialmente para evitar a lesão deles durante
cirurgias ginecológicas. Depois, percebeu-se a possibilidade do implante
de eletrodos que estimulassem esses nervos.
O estudante de medicina Francisco Moreira, 25, de Joinville (SC), foi
um dos quatro pacientes que recebeu o neuroestimulador na Unifesp. Ele
sofreu um acidente enquanto praticava snowboard em Aspen (EUA), em 2009.
Ele conta que, desde a cirurgia, em dezembro de 2013, "muitas coisas melhoraram". "A sensibilidade dos pés e o tônus muscular da perna aumentaram, e passei a ter maior controle da bexiga."
Ele também conseguiu mexer as pernas e caminhar na piscina, com apoio.
Francisco usa um tipo de controle remoto que contém
seis programações. Quando está em casa, usa o modo 'repouso', que relaxa
a bexiga e aumenta o tônus muscular. Na fisioterapia, o controle é
acionado para esticar uma das pernas, por exemplo.
"Minha expectativa é ficar cada vez mais independente", diz o estudante.
A neuroestimulação na região sacral já existe desde a década de 1980. A
diferença da nova abordagem é o local de implante dos eletrodos.
"Em
vez de colocá-los na medula, usamos a videolaparoscopia para implantar
os eletrodos após a formação dos nervos, possibilitando respostas mais
específicas aos estímulos", diz Lemos.
Alberto Cliquet Jr., coordenador do Laboratório de Biomecânica e
Reabilitação do Aparelho Locomotor, da Unicamp, diz que os resultados
parecem promissores, mas ainda são preliminares.
Segundo ele, é importante lembrar que há riscos inerentes às cirurgias,
como infecção e quebra de eletrodos.
"Mas permitir o controle da bexiga
e do esfíncter são de extrema importância para esses paciente", diz.
Fonte: Folha de São Paulo
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