A emoção de uma Copa do Mundo vai muito além de
assistir aos jogos e ouvir a explosão da torcida no momento do gol.
A
força do maior evento de futebol do mundo tem o poder de romper
barreiras, mesmo as colocadas pelas limitações físicas. Apesar das
dificuldades, pessoas com deficiência visual e auditiva também torcerão pela seleção brasileira no Mundial.
Na Escola Especial Concórdia, em Porto Alegre,
alunos com deficiência auditiva torcem, se emocionam e sonham com a
conquista do hexa, assim como qualquer outro brasileiro. Lá, o futebol
também é assunto frequente, mas em um linguagem diferente: a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Por meio dos gestos, os alunos elegem seus ídolos no futebol. Ronaldo,
David Luiz, Marcelo e Julio César são alguns dos jogadores citados. Mas
para Para Fabrício Ramos, professor de Educação Física e deficiente
auditivo, o maior ídolo da seleção é o técnico Felipão, morador da
cidade. “O Felipão, ele sabe tudo, tem muita experiência, muita
pesquisa”, diz.
Segundo a diretora da escola, Hiltrud Elert, a maior dificuldade para
as pessoas com deficiência auditiva não é se encaixar na sociedade dos
que ouvem. O problema está nas pessoas que ouvem e não querem “entrar”
no mundo dos surdos.
“O surdo ele não é diferente, ele é igual a todo
mundo. Ele apenas se comunica de forma diferente, através de libras,
através das mãos. Eles torcem, fazem álbuns de figurinhas, falam de
jogadores, têm seus ídolos. É uma relação com o futebol que todos os
brasileiros têm”, destaca.
Essa relação como o futebol, no entanto, parece não ser recíproca. No
Brasil, são raros os estádios ou transmissões de futebol que incluem
deficientes visuais e auditivos.
Na Copa do Mundo, apenas quatro
oferecerão o serviço de audiodescrição, e o Beira-Rio
não está entre eles.
“Os estádio precisam ter mais paz, mais união entre
os amigos. Não pode se diferenciar brancos, surdos, negros, todos são
pessoas iguais. Os estádios precisam ser mais animados”, ensina a
diretora.
Craque do futebol para cegos
Mas a paixão pelo futebol não fica restrita ao ato de torcer. Não são
poucos os deficientes visuais, por exemplo, praticantes do esporte.
E
como nas outras modalidades, no futebol para cegos o
Brasil também produz seus craques. Um exemplo é o gaúcho Ricardo Alves,
jogador da seleção brasileira de cegos eleito o melhor do mundo em 2006.
Embora admita que possua, sim, certa limitação em relação a atletas que
não têm deficiência, Ricardinho acredita que conseguiu se adaptar bem
ao esporte específico para cegos.
“Eu entendo a incredibilidade das
pessoas com o fato de eu jogar futebol. Se eu não fosse cego e não
jogasse, eu duvidaria muito que os atletas cegos fizessem o que fazem”,
conta o volante.
O jogador explica as adaptações no esporte. “A bola tem um guizo e a
gente se baseia pelo som dela. O goleiro enxerga normal e ajuda a
orientar o setor defensivo da equipe. O treinador fica na metade da
quadra e orienta os jogadores. Atrás do gol onde vamos chutar, fica uma
pessoa que é nomeada de chamador. Quando ele chama, a gente sabe a
referência de onde está o gol”, explica Ricardinho.
“A primeira regra fundamental é o silêncio dentro e fora da quadra para
eles escutarem o barulho da bola. A lateral da quadra é fechada com
bandas e a bola só sai na linha de fundo.
Quando eles vão na bola, eles
tem que falar, caso contrário pode até ser considerado uma falta. Eles
perdem na visão e ganham na audição”, acrescenta o técnico Rafael de
Dorneles.
O que não muda para os cegos é emoção de marcar um gol ou testemunhar
um lance genial de algum craque.
O presidente da Associação de Futebol
para Cegos, Pedro Beber, conta que tem gravado na memória um gol da
seleção em Copas do Mundo.
“Acho que foi o jogo do Brasil contra a
Itália em 1982, o segundo gol do Falcão. Eles vieram trocando passes e o
Falcão fez o gol da entrada da área. Não vi, mas está gravado. A
descrição, a narração foi inesquecível. Não vi e não esqueci”, recorda.
A torcida de Ricardinho pelo hexa também é a mesma. “Eu desejo boa
sorte para a seleção brasileira na Copa, que todos os nossos jogadores
estejam iluminados nesse campeonato, que o nosso treinador também saiba
as melhores opções para a equipe. Estou torcendo aqui, vou estar
acompanhando e desejo que Deus abençoe toda a nossa equipe”, conclui.
Fonte: G1
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