Nove anos atrás, os designers pernambucanos Klesley
Bastos e Giovana Caldas elaboraram um calendário escrito em Braille, o
sistema de leitura pelo tato.
A dupla, agora, apresenta proposta para
incluir sinais utilizados pelos surdos em placas de sinalização de
pontos turísticos e culturais do Recife e de Olinda.
Com assessoria de dois surdos, eles criaram 40
símbolos baseados na Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Os desenhos,
batizados pictolibras, representam a forma como o deficiente auditivo
identifica o Alto da Sé, o bairro de Boa Viagem, a Casa da Cultura, o
Convento Santa Teresa, o Marco Zero e o Mercado da Ribeira, entre outros
locais.
A escolha dos monumentos levou em consideração a
relevância do lugar, os sinais já conhecidos e as áreas de interesse da
comunidade surda.
“A primeira língua deles é a Libras. Levar essa língua
para as placas turísticas é educativo para a população em geral, que
passa a conviver com esses símbolos, e inclui o deficiente na
sociedade”, comentam Klesley Bastos e Giovana Caldas.
O projeto foi selecionado pelo Fundo Estadual de
Cultura (Funcultura 2013) e desenvolvido ao longo de 2014.
Em dezembro
passado, os designers apresentaram a proposta à Secretaria de Turismo e
Lazer do Recife. “Também vamos procurar a Prefeitura de Olinda. A
execução do projeto depende do interesse dos municípios”, diz Klesley.
Um a um, cada desenho era submetido aos consultores
surdos Gleyde Christiane Veloso da Silva e Jadson Cristovão Rodrigues,
que faziam as correções e ajustes necessários até os designers
encontrarem o produto final.
“Os desenhos são técnicos. Fizemos a partir
das fotos que tiramos dos movimentos de mãos de Gleyde e Jadson,
identificando os pontos turísticos”, explicam.
“O pictolibras é a adaptação de um sistema de
linguagem bem sucedido, o pictograma (representação de objeto ou
conceito com desenhos figurativos, como a mulher na porta do banheiro
feminino), à Libras”, destaca Klesley.
Segundo ele, o símbolo pode ser
colado ao lado da palavra grafada em português. “Essa é uma alternativa,
o formato vai depender de como a placa é confeccionada.”
Com projeto deles, a agenda 2015 do Centro Suvag de
Pernambuco – escola bilíngue para pessoas surdas, fundada no Recife em
1976 – adicionou o nome dos meses do ano em pictolibras.
“Nós já
desenvolvemos trabalhos com o centro. Creio que o designer precisa se
aproximar mais dos temas de inclusão e acessibilidade. A categoria foi
pouco requisitada e nos ocupamos pouco da questão. Mas temos muito a
contribuir com a comunidade surda”, afirma Giovana.
Psicopedagoga e professora de educação especial da
rede estadual de ensino, Jaidenise Azevedo considera válida a
iniciativa.
“O surdo alfabetizado lê o português, no entanto uma placa
sinalizada também em Libras faz com que ele se sinta incluído, além de
ajudá-lo a se orientar melhor. E é sempre interessante algo novo na
inclusão dos deficientes”, declara a professora.
RECIFE
A Secretaria de Turismo e Lazer do Recife recebeu o
projeto com entusiasmo, mas informa que as placas de sinalização seguem
um padrão determinado pelo Ministério do Turismo.
De acordo com a
secretaria, a proposta foi encaminhada ao Ministério e a prefeitura
espera a resposta, para saber se pode ou não acrescentar os pictolibras
nas peças.
De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), há 344.206 pessoas surdas no País.
Desse total, 14.217 são de Pernambuco.
A Língua Brasileira de Sinais é
reconhecida e aceita como a segunda língua oficial brasileira desde
2002, com a Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Em 2005, por
meio do Decreto nº 5.626, a Libras foi regulamentada como disciplina
curricular.
Texto Original: JC Omline
Fonte: Rede Saci
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