“O ensino, de forma geral, não vai bem". É dessa forma que Maria da Glória, 65 anos, professora dos cursos de qualificação de professores no Instituto Benjamin Constant (IBC) explica o panorama do ensino para pessoas com deficiência visual no
Brasil.
A instituição, referência nacional para estas questões, tem uma
unidade de ensino, capacita profissionais na área e assessora escolas,
entre outras atividades.
Para Maria, como as escolas especializadas não abrangem boa parte da
população com deficiência visual, é cada vez mais importante uma rápida adaptação das unidades de ensino regulares às necessidades das pessoas com deficiência.
“Estamos longe do ideal”, reconhece. Eliana Ormelezi, psicóloga e integrante do grupo de gestão compartilhada da Laramara, uma das mais atuantes instituições especializadas em deficiência visual e um centro de referência na América Latina,
relata que, devido a políticas de integração, as escolas específicas
para o ensino de deficientes estão deixando de existir.
“A
acessibilidade às escolas regulares ainda não está 100%, mas está
melhorando”, analisa.
Maria da Glória conta que, com melhorias nas unidades de ensino, situações como a de um menino goiano que perdeu a visão aos seis anos e iniciou o aprendizado do Braille somente
na sétima série seriam evitadas. “Ele aprendia tudo oralmente”, relata
Maria, que é cega.
Para ela, mais importante que aparelhar as escolas é capacitar
professores. “Hoje, a academia não prepara educadores para a relação a
pessoas com deficiência visual, obrigando-os a buscar cursos
específicos, como os ofertados pelo IBC.
E eles buscam”, revela Maria.
Para Eliana, somente o curso não garante que o ensino vai melhorar. “É
preciso um acompanhamento dos professores no retorno às escolas, para
ver como eles vão por em prática o que aprenderam”, sugere.
Ainda assim a legislação brasileira é avançada quando
aborda a questão. “Existem políticas públicas, mas elas devem ser
cobradas pela população e cumpridas”, diz Maria da Glória.
Uma das
iniciativas do governo foi instituir uma política de cotas para
pessoas com deficiência no mercado de trabalho, ampliando as
oportunidades e, segundo Eliana, corrigindo uma injustiça histórica da
sociedade. “Parece que as coisas só caminham com leis e multas.
Precisamos de uma mudança de mentalidade”, afirma.
O preconceito ainda é um obstáculo. De acordo com a psicóloga,
existem até empregadores que pagam para as pessoas com deficiência
ficarem em casa. Mesmo com situações como esta, ela se mostra favorável
às cotas.
“Existem muitas experiências positivas”, diz. Também vê na
conscientização das pessoas um dos pontos cruciais para a melhoria das
condições dos deficientes. “De nada adianta todas as melhorias nas
escolas se não houver conscientização da comunidade onde a pessoa está
inserida”, ensina.
Fonte: Terra
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