1 de abr. de 2013

'Todos têm que se superar todo dia', diz cadeirante que virou humorista

Close de uma pessoa sentada em uma cadeira de rodas na rua
O designer e gestor de marketing Fabrício Loureiro, 31 anos, de Araraquara (SP), tinha um ritmo de vida bastante ativo quando em 20 de novembro de 2010 sofreu um acidente em uma piscina e ficou tetraplégico

Sua condição fez com que interrompesse projetos pessoais e tivesse que se adaptar à nova vida. 

Atualmente, recorre à internet e ao humor para driblar as dificuldades. “É prepotência dizer que superei algo porque todos têm que se superar todo dia, têm que se virar e trabalhar”, afirmou em entrevista ao G1.

Brício Loureiro, como é conhecido, criou o site “Não Concreto” que tem 35 mil visitas diárias, em que publica textos e vídeos de humor, além de outros assuntos, e também mantém um canal de música no YouTube em que ele mesmo faz o som dos instrumentos com a voz.

Além disso, resolveu assumir sua veia humorística fazendo comédia stand up em um bar de Araraquara e atualmente concorre com três vídeos seus no festival Risadaria. “Não vou dizer que faço comédia ‘sit down’ por estar em uma cadeira de rodas porque é batido”, disse, referindo-se aos significados em inglês dos termos “em pé” e “sentado”.

Sua primeira apresentação foi no final do ano passado, no Almanaque. Com seu texto de estreia arrancou gargalhadas do público. “Tinha muito amigo lá, então estava passível de vaias, porque eles não perdoam nada”, relembrou. 

O comediante voltou ao mesmo palco neste sábado (30) como apresentador antes de um show com um grupo de outros comediantes.


'Vantagens'

Sobre sua condição de cadeirante, Loureiro faz piadas com situações inventadas ou que já tenha enfrentado na pele. “Estava no centro de reabilitação e a assistente social chegou perguntando se eu estava sabendo das vantagens em ser cadeirante, como descontos na compra de carro ou em passagens de avião”, contou. “Virei para ela e disse: ‘poxa, se soubesse desse pacotão tinha quebrado o pescoço antes’”, debochou.

Diante dessas situações ele conta que fica sem reação, mas ri depois. “Digo para mim mesmo que essa pessoa não está falando isso pra mim e depois acabo percebendo como as pessoas são estúpidas”, disse. Apesar disso, ele afirma que não se sente ofendido. “Sou contra o coitadismo, ficar ofendido é uma questão de resolução interna”, considerou.


Assuntos variados

Apesar de ser cadeirante e, segundo ele, “ter autorização” para fazer piadas sobre isso, Loureiro prefere não ser monotemático. “Não vou fazer piada só disso porque vai ficar maçante”. 

Segundo ele, humor não deve ter censura. “Só precisamos de bom senso porque hoje em dia as pessoas estão muito preocupadas com o fútil, então qualquer piada é motivo de preocupação nessa sociedade que está muito sem louça pra lavar”, afirmou.

Ele também já se envolveu em polêmicas, a mais recente com o deputado Jean Wyllys (PSOL), de quem discordou em defesa do humorista Danilo Gentili. O deputado respondeu os comentários deixados no Twitter dizendo que "um ser unicelular deveria ser mais esperto que Loureiro".


Adaptação

Após o acidente, em 2010, em que quebrou a vértebra C5 e lesionou a medula, o araraquarense ficou 90 dias sem nenhum movimento abaixo do pescoço.

 A fisioterapia o ajudou a ter de volta movimentação nas mãos e nos braços, ainda com dificuldade. O tratamento continua e, segundo ele, toma metade de seu dia. Ao todo, seis profissionais cuidam de Loureiro, entre fisioterapeutas, urologista e psicólogo.

“Após dois anos, o quadro estacionou, então os médicos recomendaram que eu corresse (risos), ou melhor, que eu agilizasse o tratamento e ficasse empenhado a batalhar e ficar mais independente, mas ainda tem muito o que melhorar”, explicou Loureiro.

Ele possui carta especial e tem autorização para dirigir, mas a dependência ainda atrapalha. “Consigo fazer a transferências da cadeira de roda para o carro, mas eu não consigo carregar a cadeira, preciso de ajuda, saio de casa, ligo para um amigo, aviso que cheguei e eles me ajudam”, disse.

Para escrever no computador, tem apoio de uma órtese. No celular, o uso é mais fácil, e é onde anota as ideias dos textos que escreve. “As ideias sempre vêm antes de dormir, então anoto as palavras-chave quando já estou deitado na cama para escrever no computador depois”.

A adaptação, segundo Loureiro, não foi fácil. “No início foi uma revolta total, nem acabar com a minha vida eu conseguia e o único jeito era encarar. Hora ou outra todo mundo leva uma pancada, o que você vai fazer, cair ou se levantar, se adaptar. Porque não é clichê: não é o mais forte, mas o que melhor que se adapta que vai pra frente, se não vira um pesadelo”, finalizou.

Fonte: G1

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