22 de abr. de 2013

Pesquisa mostra falta de acessibilidade em universidades de Curitiba (PR)

Cadeirante próximo a uma placa com o símbolo da acessibilidade
As cinco universidades de Curitiba (PR) não estão totalmente preparadas para receber estudantes com algum tipo de deficiência.

Para checar as condições de acessibilidade a cadeirantes, pessoas com deficiência visual e auditiva nas instituições, o jornal Gazeta do Povo visitou seis campus sob a orientação de dois especialistas no assunto – o arquiteto e consultor em acessibilidade Ricardo Mesquita e o presidente da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná, Mauro Nardini.

Nenhuma universidade recebeu nota máxima. Ainda há muito a ser feito. São pequenos detalhes que fazem grande diferença para quem tem a mobilidade reduzida ou a visão limitada. Das cinco instituições, a que está mais perto do ideal é a Universidade Positivo (UP). Na outra ponta, estão o campus da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Avaliação

Como as leis que ajustam o ambiente para a pessoa com deficiência são muitas e os detalhes minuciosos, a opção deste teste de qualidade foi avaliar a acessibilidade em espaços comuns – salas de aula, biblioteca, corredor, auditórios, estacionamento, calçadas e banheiros –, que permitem que o estudante se movimente com independência e segurança.

Longe dos livros

Os problemas no câmpus da PUCPR começam no estacionamento. Apesar das vagas reservadas, a dificuldade de circular pelo espaço é enorme. Além de calçadas muito irregulares – que podem provocar a queda da pessoa com deficiência –, as rampas são ruins e não há guia tátil. Para entrar na biblioteca, o cadeirante precisa de ajuda para superar um pequeno desnível e passar pela porta. A dependência do auxílio de um funcionário não para por aí, já que o acervo está distribuído em diferentes patamares e não há acesso por rampa ou elevador a todos os corredores. “Apenas no térreo é possível se virar sozinho. Nos outros andares, ele vai contar com a ajuda dos funcionários, que estão preparados para isso”, explica a bibliotecária responsável pelo Setor de Serviço ao Usuário, Gisele Alves.

Quase lá

Com a melhor avaliação dos especialistas, a estrutura da Universidade Positivo é a que está mais perto do ideal. Por todo o câmpus, há rampas de acesso, travessias elevadas e pistas táteis para cegos que interligam blocos e os pontos de ônibus. Com barras de segurança em todas as partes necessárias, os banheiros são bons exemplos de adaptação. Porém, nem tudo está bem alinhado. A estrutura também conta com pisos escorregadios ou irregulares, e faltam balcões rebaixados para o atendimento de cadeirantes. O deslocamento entre andares só pode ser feito por elevador. A supervisora pedagógica do Centro de Inclusão, Izabella Romanetto, conta que turmas com alunos com algum tipo de deficiência costumam ficar no térreo para evitar problemas com falta de luz.

Alunos em ação

O aluno com deficiência consegue circular facilmente entre os andares do câmpus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pois o prédio tem rampas de acesso a quase todos os setores. A dificuldade está em andar no próprio andar, pois o piso é escorregadio e há grades de bueiro que dificultam o uso de bengala e cadeira de rodas. Plataformas para cadeirantes em dois locais destacam-se entre os pontos positivos do câmpus, que também conta com banheiros adaptados (sem o cumprimento de todas as normas). As adequações foram resultado de um levantamento que contou com a participação de estudantes dos cursos de Engenharia e Arquitetura.

A antiga reitoria

O cadeirante que chegar de carro à Reitoria da UFPR terá vaga para estacionar. Porém, a dificuldade para andar nas calçadas será imensa, já que o pátio interno não tem rampa para o prédio Dom Pedro I e o acesso pela Rua General Carneiro não é adequado – a inclinação é o dobro do ideal e não há corrimão, item obrigatório. Nos prédios, é possível usar rampas ou elevadores (equipados com sistema de voz, importante para cegos). Há banheiros adaptados somente em dois andares, dentro da biblioteca, mas que não contemplam todas as normas. Além disso, nem todos os corredores do acervo têm 90 centímetros de largura, o que dificulta o acesso de cadeirantes às estantes. Chefe da biblioteca, Maria de Lourdes Saldanha explica que as adaptações dependem de reformas futuras.

Auditório modelo

Por ser um câmpus mais novo, a acessibilidade da sede Jardim Botânico da UFPR é bem melhor que a da Reitoria. Entretanto, nem todas as calçadas e rampas estão adaptadas e não há piso tátil para pessoas com deficiência visual. O acesso de cadeirantes à cantina do Setor de Ciências Sociais Aplicadas, por exemplo, só é possível pelo interior do prédio. Há banheiros ajustados, mas a falta de pias adequadas impede o aluno cadeirante de lavar as mãos. O auditório de Odontologia é exemplar. Rampa e elevador dão acesso à plateia e ao palco. A diferença entre os câmpus deve-se à idade dos prédios. O prédio da Reitoria é tombado e quaisquer alterações na estrutura dependem de autorização, explica a chefe da Secretaria da Pró-Reitoria de Administração Estudantil, Luci Leni de Oliveira.

Balcões na altura certa

Adriano José da Silva, 38 anos, é estudante de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Ele usa muletas desde os 7 anos de idade. Mesmo que considere que o câmpus Barigui tenha boas adaptações para pessoas com deficiência, ele sente dificuldade toda vez que precisa entrar na instituição. “O piso é liso. Quando chove é muito difícil se manter em pé.” A biblioteca é bem adaptada, com bom espaço de circulação entre as estantes, e há balcões em altura diferenciada para cadeirantes em vários setores, algo não observado nas outras universidades. Lá, o aluno pode ser atendido e visto por quem está do outro lado sem precisar de esforço ou de ajuda. A UTP também conta com elevadores e banheiros exclusivos para pessoas com deficiência. Assim como em outras instituições, os sanitários não atendam a todas as normas.

Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

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