Daniela Matoso dos Santos pisou pela primeira vez no Maracanã neste sábado. Torcedora do Fluminense, a carioca de 36 anos tem deficiência visual
e, até então, sempre se contentou em acompanhar futebol pela rádio ou
pela TV, sempre com a ajuda de companheiros que viam as partidas a seu
lado.
Ir ao estádio mais famoso do Brasil - e logo em um jogo de oitavas
de final da Copa do Mundo da FIFA - foi, então, uma experiência incomparável.
“Foi muito emocionante. É como se estivesse dentro da televisão. É tudo
que a gente ouve de longe, pela TV, mas a gente está ali, no meio de
tudo, participando”, contou Daniela, que torceu pela Colômbia contra o
Uruguai, ao FIFA.com.
A experiência de Daniela no Maracanã só pode ser considerada completa graças ao inédito serviço de narração audiodescritiva
oferecido no Mundial em um projeto de FIFA e COL. Com o auxílio de um
rádio, foi possível sintonizar e acompanhar todos detalhes sobre o que
acontecia à sua volta - não apenas no campo de jogo.
A narração audiodescritiva, criada especialmente para cegos ou pessoas com baixa visão, é semelhante à narração de rádio,
mas com ênfase na experiência dentro do estádio.
Um narrador
especialmente treinado, localizado na tribuna de imprensa, passa ao
ouvinte todas informações visuais significativas, como os uniformes e a
linguagem corporal dos jogadores, as reações das torcidas, as cores e
todos outros aspectos importantes para transmitir a aparência e o
ambiente do estádio.
“A audiodescrição é, sem dúvida, muito melhor do que o rádio comum. Ela
diz não só quem está tocando a bola, mas como e qual foi a jogada. Os
locutores tentam descrever o máximo possível de detalhes”, explica
Daniela.
“As cores dos uniformes, toda a movimentação antes e depois do
jogo, as comemorações… Na verdade, na cabeça de quem está vendo a
comemoração é um detalhe que não faz diferença. Quem está vendo não
sente falta. Eu só sabia porque acabava perguntando para quem estava
assistindo comigo.”
O serviço de narração audiodescritiva na Copa do Mundo da FIFA é coordenado pela Urece Esporte e Cultura para Cegos,
ONG parceira da FIFA e do COL que trabalha com projetos especiais para
pessoas com deficiência visual.
A narração está disponível aos
portadores de ingresso em todas partidas da Copa do Mundo da FIFA
realizadas em São Paulo (88,7 FM), Brasília (98,3 FM), Belo Horizonte
(103,3 FM) e Rio de Janeiro (88,9 FM).
Locução ganha “tempero” brasileiro
No Brasil, a narração audiodescritiva ganhou uma personalidade única:
os locutores transmitem mais emoção.
“Essa nossa paixão pelo futebol faz
parte do sangue. Foi uma demanda das pessoas com deficiência visual que
iam escutando ao longo do tempo”, explica Mauana Simas, uma das
coordenadoras do projeto.
A gente tem que dar emoção. Os cegos estão
acostumados a ouvir nas rádios, e elas são assim. É uma questão que
surgiu deles. Tem que haver coração e alma na narração, porque faz parte
da nossa cultura.”
Para quem viver ao máximo esta experiência e acessar o serviço é
importante trazer fones de ouvido e um rádio pequeno portátil ou
smartphone com um receptor FM. E, claro, certifique-se que o seu
aparelho está de acordo com o Código de Conduta do Estádio e em
particular a seção 4 sobre itens proibidos.
Fonte: FIFA
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