Os benefícios dos exercícios físicos são amplamente
conhecidos e as desculpas para não praticá-los também. Mas e quando os
empecilhos são bem maiores do que a simples falta de tempo e a preguiça?
Esse é o caso de muitas pessoas com deficiência, que,
além de enfrentar as próprias limitações, não encontram muitas opões de
esportes que atendam e respeitem a redução de mobilidade.
Foi pensando em ajudar esse pessoal que Henrique Saraiva criou a ADAPTSURF,
uma associação sem fins lucrativos que promove a inclusão no esporte de
pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
Tudo começou em 2001,
quando o próprio gestor de projetos, por insistência do amigo surfista
Marcos Sifu, experimentou a ‘kneeboard’, um modelo
especial para surfar de joelhos. Henrique, que perdeu os movimentos das
pernas após levar um tiro durante um assalto em 1997, sentiu os
benefícios da prática e decidiu passar adiante.
- O surfe ajudou e ajuda muito na minha recuperação motora,
além de fazer bem para minha coluna. Além disso, é muito bom ter o
contato com a natureza e praticar um esporte junto com meus amigos, de
igual para igual.
Por todos esses benefícios, sempre fui muito grato ao
Marcos pelo incentivo e sempre tive vontade de repassar isso e o
sentimento de superação que o surfe me trouxe.
Aí, em 2007, a Luana
(parceira no projeto) fez um trabalho para a faculdade sobre o surf
adaptado e a partir daí tomamos conhecimento de projetos de surfe
adaptado e acessibilidade de praia em várias cidades mundo.
Eu sabia que
no Rio não havia nada parecido, então sugeri ao Phelipe (outro parceiro
da ONG) e a Luana que desenvolvêssemos um projeto aqui – conta
Henrique.
Na época, os três não tinham muito mais do que a vontade de levar essa
oportunidade para outras pessoas, mas juntos, os amigos fisioterapeuta,
educadora física e surfista adaptado já formavam uma equipe. Aos poucos a
ONG foi ganhando forma e hoje já tem um time de cerca de 20 pessoas.
- Atualmente contamos com voluntários para as atividades na praia e na
parte administrativa. Temos desde agências que nos ajudam a formatar as
apresentações, vídeos, identidade visual, até pessoas que ajudam na
captação de recursos, fotógrafos, fisioterapeutas, psicólogos,
instrutores de surfe, entre outras coisas – explica.
O esforço conjunto é recompensado. Atualmente a associação atende 60 alunos, todos com algum tipo de deficiência física, intelectual, visual e/ou auditiva.
Além das aulas práticas, eles convivem com ensinamentos comuns ao
esporte, como a importância de manter uma boa alimentação e de preservar
a natureza.
- O surfe é uma excelente ferramenta de inclusão, pois proporciona que
pessoas com e sem deficiência, de diferentes classes sociais, sexo,
idade, culturas possam praticar juntos.
Além disso, não há necessidade
de segmentar em diferentes deficiências, todos podem praticar juntos. E
não é necessário surfar bem para aproveitar os benefícios. Independente
de surfar deitado, de joelho ou em pé, todos se divertem e são
beneficiados pelo esporte – diz Henrique, que ainda ressalta os
benefícios psicológicos, como a auto estima.
- Entrei no ADAPTSURF em 2010 e isso mudou a minha vida. A ONG não me
ensinou somente a surfar no mar, mas na vida também. Hoje me sinto capaz
e confiante. As ondas me ensinaram a ser forte e nunca desistir.
Além
dos sentimentos o surf me ajudou fisicamente, me dando a independência e
a determinação para passar por cima de qualquer obstáculo.
Hoje me
sinto como as ondas do mar, sou independe e feliz! – conta Monique
Oliveira, 26 anos, portadora de paralisia cerebral.
A proposta da ADAPTSURF de inclusão e integração social ultrapassou os
limites do dia a dia e chegou aos grandes campeonatos.
Os surfistas da
ONG já participaram de etapas de WQS, WCT e do Circuito Brasileiro de
Surf na Barra da Tijuca, além de ganharem uma competição própria.
- O objetivo principal do Circuito ADAPTSURF é promover a integração
dos alunos da Barra e do Leblon, mas é sempre aberto a surfistas de
outras regiões do Brasil.
Aproveitamos o campeonato para tentar
desenvolver metodologias onde possamos segmentar as categorias e pontuar
os competidores de forma justa, o que é bastante complicado quando
tratamos de surfe, uma modalidade totalmente subjetiva – explica
Henrique.
Interessou? As aulas gratuitas ocorrem aos sábados, no Posto 2 da Praia
da Barra da Tijuca, e aos domingos, no Posto 11 da Praia do Leblon,
sempre das 9h às 14h.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário