5 de dez. de 2014

Avô busca professor há 2 anos em escola do Recife para o neto com deficiência

Foto de uma sala de aula
Avô de um menino de 13 anos, estudante do 4º ano do ensino fundamental, com microencefalia e surdez, Severino Ramos luta há dois anos para conseguir um professor intérprete de Libras para acompanhar o neto na escola Rozemar de Macedo Lima, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife


“No dia Internacional da Pessoa com Deficiência, eu não tenho o que comemorar”, lamenta Severino.


Severino diz que já apelou a todos os órgãos competentes para garantir ao neto o direito que lhe é garantido constitucionalmente. 


Com uma pilha de papéis nas mãos, o líder comunitário mostra três ofícios onde a escola solicita junto à secretaria de Educação o profissional habilitado para atender o neto. Até a data de publicação desta matéria, nenhum deles foi atendido.


O avô chegou a ir pessoalmente a várias secretarias da PCR. Como não obteve sucesso, escreveu uma carta endereçada diretamente ao prefeito onde questiona: “Senhor prefeito, gostaria de saber de V.S.ª se, caso o sr. tivesse um filho com necessidades especiais e na escola em que seu filho estudasse não tivesse professor para ensinar ao mesmo, quais providências o sr. tomaria?”.


Severino também chegou a escrever duas vezes para a PCR através do serviço “Recife Responde”. Como resposta, a secretaria de Educação disse que “está finalizando o edital para concurso de intérprete de Libras, a fim de atender a demanda da rede municipal até o segundo semestre de 2014″. No entanto, no mês de dezembro do referido ano, a situação de Severino e do neto continua a mesma.


Sem saber mais o que fazer e nem a quem recorrer, o avô chegou a cogitar usar o dinheiro da aposentadoria por invalidez recebida pelo neto para pagar o salário de um estagiário que o acompanhe nas aulas: 


“Nós recebemos R$ 724 da aposentadoria dele. É um dinheiro que usamos para comprar as coisinhas dele, um biscoito, essas coisas. Eu já cheguei a propor tirar R$ 500 desse dinheiro para pagar o salário do estagiário. Infelizmente a diretora disse que não é possível”.


O avô narra ainda que, mesmo sabendo que o neto não pode acompanhar as aulas da mesma forma que os seus colegas “normais”, leva-o todos os dias para a escola: “Ele vai com o caderno ‘limpo’ e volta com o caderno ‘limpo’, é muito triste ver que isso acontece com ele, pois eu acredito que a educação é a base de tudo na vida”.
 

Resposta da Prefeitura


Durante a conversa, Severino apresentou cópias dos textos da Declaração Universal dos Direitos da Criança e da Constituição Federal, onde o direito à educação do neto é assegurado. 


Também tinha nas mãos um folheto da Prefeitura, onde era mostrada uma turma de crianças sorrindo, com lápis e cadernos numa sala de aula da rede municipal e conclui: “Eu queria que o meu neto estivesse sorrindo também”.


A secretaria de Educação da Prefeitura do Recife emitiu nota no fim da tarde de quarta-feira, informando que um estagiário do curso de Pedagogia atendeu o neto de Severino entre os meses de abril a setembro de 2014, que o contrato teve fim e que, até o momento, não encontrou outro estagiário para preencher a vaga, pois se trata de um profissional com capacitação muito específica e difícil de encontrar.


Através da nota também é informado que, na unidade de ensino onde o garoto estuda, há três profissionais capacitados para acompanhar alunos que possuem algum tipo de deficiência, mas que todos eles atuam no turno da manhã. 


Segundo a secretaria, a profissional que trabalha no turno da tarde emite licenças médicas consecutivas e em curtos intervalos de tempo, fato que impossibilita a PCR de contratar outro profissional, uma vez que o posto não fica ‘vago’.


Além disso, a secretaria informa também que a gestão do prefeito Geraldo Julio criou um cargo especial na rede municipal de educação do Recife para dar suporte aos alunos com deficiência física e que, até o fim 2015, profissionais selecionados através de concurso devem começar a atuar nas escolas da cidade.




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