Não é à toa que o café é uma das bebidas mais consumidas do mundo.
Seu efeito estimulante ajuda a despertar, seu aroma dá prazer e o sabor
do grão torrado, moído e coado no filtro é insubstituível.
Para aumentar
ainda mais a adoração por ele, pesquisadores da Universidade John
Hopkins (EUA) descobriram, no início de 2014, que o consumo de duas
xícaras por dia pode trazer benefícios para a memória.
Popular, a bebida também é a grande aliada de uma iniciativa que
proporciona inclusão social e qualidade de vida à pacientes
diagnosticados com a perda de memória.
Inspirado em projetos semelhantes de países como França, Estados
Unidos e Inglaterra, o Café Memória de Portugal é dedicado a quem sofre
de demência e Alzheimer e, ainda, aos seus cuidadores e familiares.
Encontros são realizados mensalmente.
Divulgação
O espaço abriu as portas em abril de 2013 e funciona como um ponto de
encontro mensal, onde os participantes compartilham experiências,
interagem entre si e realizam atividades lúdicas e estimulantes.
Reservado e protegido, o ambiente do Café Memória oferece suporte
emocional e informações úteis aos doentes e seus familiares.
Segundo a neuropsicóloga e coordenadora da proposta, Catarina
Alvarez, as sessões são procuradas por pessoas que sentem os efeitos do
isolamento e do preconceito em seu cotidiano.
“Temos uma missão dupla.
Por um lado, queremos melhorar a qualidade de vida dessa parcela da
população e, por outro, sensibilizar a comunidade perante este tema. Em
Portugal, a demência é um estigma social”, observa Catarina.
Estigma social
Durante duas horas, os participantes do Café Memória se apresentam,
contam suas histórias e se envolvem em atividades lúdicas que estimulam
capacidades cognitivas como memória, raciocínio, linguagem e orientação.
“Na última sessão fizemos uma das melhores atividades do Café Memória:
um quiz musical. Tocávamos uma música e cada equipe tinha que descobrir o
nome dela e quem a cantava. Foi um sucesso”, comemora.
O encontro também recebe convidados das mais diversas áreas que
dialogam com a questão da memória, como neurologistas, enfermeiros,
nutricionistas e até designers.
O Café Memória, como não poderia deixar
de ser, sempre termina com uma mesa de café da manhã disposta para
incentivar o convívio dos participantes, cuidadores e parentes.
Catarina ressalta a participação de mais de cem voluntários no
projeto. “Sem eles não conseguiríamos atingir nossos objetivos.”
De
acordo com a coordenadora, mais de mil pessoas já estiveram em uma
sessão do Café Memória, sendo que 400 frequentam regularmente o espaço.
Porta para o mundo
Ela acredita que o estigma social faz com que os familiares de quem
sofre de Alzheimer se fechem em casa e só peçam ajuda quando a doença já
está em etapa avançada. É preciso mostrar que estamos abertos para
conversar sobre este tema delicado”, aponta.
“Percebemos que muitas
pessoas saem mais leves de nosso encontro, com mais força para encarar o
dia a dia. Elas sentem que não estão sozinhas, criam estratégias,
conversam e falam sobre como lidam com seus problemas. Enfim, elas levam
mais carinho, informação e capacidade para casa.”
A neuropsicóloga festeja ainda a ousadia desses encontros terem
deixado o ambiente clínico, médico e institucional para se espalharem
por cafeterias e restaurantes da cidade, como o Portugália e o Café do
Museu de São Roque, em Lisboa.
“Isso já é uma forma de lutar contra o
preconceito, pois falamos de demência fora do contexto hospitalar. É uma
ação necessária para a construção de uma cidade democrática.”
Cuidar Melhor
Realizado graças à parceria entre a Associação Alzheimer Portugal e a
Sonae Sierra, o Café Memória é considerado um braço informal e
complementar do projeto Cuidar Melhor, que trabalha pela inclusão e
promoção dos direitos das pessoas com demência em Portugal.
Hoje, seis espaços promovem o Café Memória mensalmente (três em
Lisboa, dois na Grande Lisboa e um no Porto) e, no último sábado
(22/11), aconteceu a primeira sessão do Café Memória de Viana do Castelo,
das 9h às 11h, no Restaurante Camelo.
As sessões são totalmente
gratuitas e não é necessário se inscrever com antecedência para
participar.
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